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abril 01, 2007

Nem Ota… nem desota

Depois que Heisenberg destruiu as certezas das ciências duras com o princípio da incerteza – estranhas coisas da Física Quântica –fiquei com muito receio das grandes convicções e das pessoas que parecem nunca ter dúvidas de coisa nenhuma. Aliás, parece-me melhor ser algo indeciso que fanático exemplar. Lembremo-nos só como as verdades absolutas e inquestionáveis trouxeram enormes dores à humanidade.

De qualquer modo eu tenho duas coisas razoavelmente certas. Uma é de que o Aeroporto deverá sair da Portela; a outra é que defendo, com unhas e dentes – embora não venha neste momento explicar porquê - um comboio de alta velocidade.

Expliquemo-nos!

Sempre gostei, basbacamente, de ver descolar aviões. É caso que muito me espanta esse milagre quotidiano, milhares de vezes repetido, de algo enorme e pesado desprendendo-se da terra e como ave surpreendentemente leve demandar o mais alto do céu. É pecha minha, mas que querem, gosto mesmo de ver. No entanto, nunca consegui esquecer-me de que a Portela está no meio de Lisboa e que, longe vá o agoiro, seria coisa assaz desagradável que um Boeing, de não sei quantas toneladas, falhada a pista, se despenhasse sobre as habitações de Lisboa. Poderia acontecer e, não sei mesmo quantas vezes, não teria estado iminente esse risco.

Por isso, quanto à minha humilíssima mas determinada opinião o aeroporto tem mesmo de mudar de sítio.

O busílis da questão está, no momento, na escolha do local onde o mesmo se quedará. A discussão, como todos sabem, vem já do distante ano de 1969, quando Marcelo Caetano desenhava fragilmente os contornos de uma primavera apenas anunciada. Duas localizações eram possíveis: Ota e Rio Frio. Por razões de ordem ambiental a opção Rio Frio foi extinta e, muitos anos depois, parece que avançará a escolha da Ota.

Como cidadão preocupado com o risco do aeroporto da Portela até nem achei mal de todo. Que estava bastante distanciado de Lisboa era verdade mas, sabemos bem que muitos dos aeroportos mais importantes do mundo ficam a uma hora ou mais de distância das suas cidades. Desde que houvesse acessibilidades fáceis poderia ser uma situação um tanto desconfortável para nós que habitamos por estes locais, mas não seria nada demasiado grave e inultrapassável.

E bem-disse a decisão de mudar o aeroporto.

Só que entretanto, por motivos mais ou menos claros, vieram à tona oposições várias. Li, reli, presenciei debates, recebi “mails” e a subtil dúvida foi-se insinuando. Era então verdade que o aeroporto tinha condicionantes de expansão? Ficava numa zona de risco de ventos e corredores aéreos? O terreno era alcantilado e pantanoso fazendo crescer os custos de construção de modo assustador? No enfiamento da pista, a muitos poucos quilómetros, existia um perigosíssimo depósito de gás? Havia novas alternativas, melhores, menos dispendiosas, mais bem posicionadas e que não comprometiam os prazos de construção?

Perante as exposições apaixonadas e coerentes de muitos técnicos reputados o meu bem-dizer estilhaçou-se. Hoje sou um desesperado cidadão à espera que alguém explique as razões de escolha da Ota e por que motivo não se encaram outras localizações antes que uma escolha definitiva nos leve para outro elefante branco, como os muitos, que boa parte das obras públicas mais propaladas, vieram a demonstrar ser.

Que Nossa Senhora dos aviões nacionais venha em meu auxílio que já não sei o que pensar. Isto assim está pior que Alqueva – a tal barragem feita para introduzir a cultura de regadio no Alentejo pondo-o mais verde do que o verde Minho – onde nós gastámos o dinheiro e, segundo dizem, os espanhóis estão a colher os frutos. Se a construção do aeroporto avançar para a opção indicada que claramente nos sejam expostas razões coerentes e que afastem qualquer vestígio de falta de transparência na escolha. É que assim, quem escolhe, fica com o papel de mulher de César e pagará, necessariamente custos vultuosos num futuro, não muito distante, nos votos de qualquer de nós.

Porque isto assim, repito, não Ota nem desota!




Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

1 comentário:

Unknown disse...

Amigo carlos

Então eu vou por mais confusão ainda no problema. Podes ir ver os estudos feitos sobre o aeroporto de Rio Frio no site da NAER (www.naer-novoaeroporto.pt), e verificarás que, nalgumas alternativas, vão quase até ao Poceirão. Aliás, se quiserem sair do braço do rio que até uma pequena barragem tem, necessitam mesmo de ir para leste e chegar ao Poceirão. Mas isso está lá.
Parece que a proposta de José Manuel Viegas desloca o aeroporto mais para leste e (talvez) para norte.
Dá uma vista de olhos no mapa e repara o que é que fica pertíssimo desse eventual aeroporto do Poceirão-Faia. Assim de repente, encontras o empreendimento do Banco Espírito Santo, onde houve a bronca dos sobreiros cujo corte foi autorizado por Santana Lopes/Nobre Guedes, três dias antes de saírem do governo (Herdade da Vargem fresca). Mesmo ao lado está Santo Estêvão, e um pouco a norte tota a Companhia das Lezírias que esteve para ser privatizada, e para cuja privatização se constituiu um lobi com o BES (antes do governo decidir que não privatizava).
Não sei o que são os terrenos a sul, onde ficará o próprio aeroporto, mas isto de que estou a falar é na chamada "cidade aeroportuária".

Portanto, não sei onde estão verdadeiramente os interesses, nem a origem dos estudos graciosos feitos pelo José Manuel Viegas. Não sei mas fico apreensivo com isto. Se fores à net e procurares herdades para venda, na zona de Pegões (parte do concelho do Montijo que fica dentro do espaço do putativo aeroporto) vais ter uma surpresa: encontras várias a muitos milhões de euros.

Não sei se os tais terrenos da OTA têm minas de ouro como estas?! Estão na mão de outros que não o BES?... É tudo possível.