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março 27, 2008

O Bife - um conto reeditado






Quis-me o autor católico e tímido. Por esses factos, aqui estou, hoje como sempre, sentado na terceira mesa da Segunda fila desta esplanada, olhando o pipilar da fonte e os miúdos desnudados, em banhos mais de sol que na contida água.

Serei, também, no decorrer do conto, o quanto baste de ingénuo e sonhador. Adequa-se-me a ingenuidade porque, com ela, poderei correr certos riscos e aceitar alguns jogos que de outro modo poderiam passar por estultícia. Calha-me o sonhador por comple­mento desse atributo. Quem se navega pelos fumos da lógica dos sonhos e os antepõe ao que a maioria denomina de real, terá toda a conveniência na estruturação de um universo à medida do romântico, que se pretende herói e não consegue, no seu ser, força bastante.

Volto à água. Tomba, por enquanto, entre salpicos de relva. Logo mais, quando a noite quase de surpresa chegar, as luzes do lago acender-se-ão e tornarão mais distantes e imprecisas as árvores do outro lado. Equidistantes do meu ponto de observação ficam as duas esquinas, estas sem nenhumas árvores. Só casas, em esses breves prenúncios de floresta que resistem no largo, do outro lado. Aquele onde nunca estou.

Nas casas das esquinas habitam pessoas e sei de histórias de outras que gostariam de habitar em casas e não o podem fazer. Mas isso são outros contos e, neste, o autor não me deixa entrar por esses caminhos. Aliás, como se sabe, é de boa norma delimitar os assuntos e esta é uma narrativa mais ou menos romântica pelo que não deverá perder-se em desinteressantes críticas sociais.

Retomemos o rumo certo. A poucos metros, do meu lado direito, fica a Primeira Esquina. Ao centro, comigo dentro, está a esplanada. Alguns metros para além do meu braço esquerdo, queda-se a Segunda Esquina.

Para além das esquinas nada conheço. Todos quantos as ultrapassam saem do meu ângulo de visão e deixam de ter história. Inexistem. Quem vem da Primeira Esquina aparece sem aviso. A sua presença é impensável até que dobre a esquina e se corporize no súbito de um bico de pé, num passo inacabado obrigando a presumir o anterior, numa sequência posterior de outros que se dirigem ao presente do café, ou na inexistência, por dobragem da outra esquina. Tudo isto resumindo-se num nada de corpo, numa existência precária, mais movimento ou fulguração que realidade.

Eu, estou aqui à espera. No meu estar existe certamente um objectivo, uma necessidade. Aguardo que ela dobre a Primeira Esquina, surja a emoção e se cumpra o determinado.

Por isso aqui me encontro, instalado no Verão, sentado na terceira mesa da segunda fila da esplanada.

Pelo ardor do corpo e pelo amarfanhado da pele suponho ter voltado da praia. Saboreio um imperial que poderia ter sido mais bem tirada se estivesse colocado na cervejaria. Mas a cervejaria fica lá mais em cima, a meio da avenida, enorme e plana, estendida sem surpresas e sem possibilidade de duas esquinas suficientemente distanciadas para permitir o espaço do cenário e suficientemente próximas para a passagem dela poder ser o campo entre a esperança e aquilo que não sendo desespero nem frustração, fica no magoado da alma como música melancólica.

Não me desagrada, na verdade, ter vindo da praia. Se me fosse possível passaria a maior parte do meu tempo nessa fusão de sal e luz. Que tardes! Quando o saboroso cansaço nos leva a rumar para casa na busca do duche, deixar a salmoura e, antes que o sol se ponha, correr para a esplanada, procurar a mesa conveniente, sentar-me e, beberricando a cerveja, esperar, sem falta, a partir da Primeira Esquina, pedaço a pedaço, o cumprimento da promessa da sua presença.

Aparecerá, primeiro, uma das suas pernas, seguida de um braço. Depois a saia leve tendida pelo passo e pela brisa. Num repente solar surgirá de corpo inteiro. As mãos, os cabelos, o peito num balanço cálido de ondas dentro de ondas.

Muitas vezes pergunto-me o que será ela para além da esquina. Que fará na vida fora deste caminho onde cruza o meu olhar? Como nada sei espero o seu avanço até à esplanada e tento adivinhar. Por momentos parece-me saber tudo e desejo que venha sentar-se à minha mesa. Reparo depois que nem sequer sei o seu nome, embora lhe adivinhe os passos e saiba que nunca, por si só, virá sentar-se aqui. Talvez nem sequer pare no café para tomar uma bebida ou fazer um telefonema. Seguir sempre em frente, até à Segunda Esquina, parece ser, imperiosamente, o seu destino.

Enquanto os seus passos a afastam tento confortar as esperanças caídas. Pergunto-me quantas vezes esperaste por ela e a viste passar, sem um desvio, por pequeno que fosse, entre uma esquina e outra? Esperavas, insensato, que ela viesse ter contigo e sem mais começasse a falar dizendo-te todas as palavras que tu calas? Grande besta sou! Porque raio deveria tal coisa acontecer? Sou católico, mas não espero milagres. Olho para mim e desconforta-me o que vejo. Como esperar então que ela possa ter alguma vez sequer reparado em mim. Ela nem me conhece e não sou tão irresistível que possa tornar-me notado aos olhos de qualquer mulher, apenas por me ter entreolhado. Sou uma boa anedota. Isso é que sou!

Além disto, basta olhá-la para sentir a diferença. É perfeita! Nela nada há de destoante. É, verdadeira e meteoricamente, perfeita. O caminho que percorre, só porque o trilha, é mais altar que percurso. Como pensar compartilhar o meu espaço com ela? Tão anódino que sou! Insensatez, meu caro, insensatez. Querias, se calhar, a estrela polar fora da sua rota, mortinha por se instalar ao teu lado!? Não é a mesma coisa? Ai não, não é!! Estás tolinho se não percebes. Então a estrela polar não passa também‚ todos os dias, entre dois limites? Sensivelmente à mesma hora e no mesmo local? E não é bela? E não é presente e inacessível? Os olhos não a seguem, porventura desejando-a? A outra é uma mulher!? Isso que tem? Não são ambas criaturas e igualmente perfeitas?

Peço o impossível? Não é esse, porventura, o meu direito? O que está à mão? Qual o merecimento?...

Voos.. Voos inconsequentes é o que fazes. Estás para aí com toda essa filosofia e nem sequer consegues convidá-la para a tua mesa. Aproveita agora. Daqui a pouco ultrapassará a tua mesa e atingirá a Segunda Esquina. Força. Um pouco mais e perderás a tua oportunidade. Mais acção. Menos filosofia.

Isso queria eu. Ter força para que ela fique. Para que o meu desejo fosse o dela. Pois é! Mas eu sou tímido. Nem me serão permitidas certas actuações. Por exemplo, neste momento, apesar da minha vontade e turbação, devo verificar se algum dos circundantes se apercebeu das minhas intenções; se os meus pensamentos se tornaram visíveis, se tomaram voz e gritaram, subitamente, o meu amor, na praça.

Olho em volta. Tudo continua como se não tivesse havido tempo. O meu vizinho mais próximo que, quando ela apareceu, começara a levar o copo aos lábios, nem sequer terminou o movimento. Toma agora o primeiro trago. Ela dá outro passo. Na praça o meu olhar é uma súplica. Eu, um desassossego.

Antes que outro passo se inicie e o bebedor desça, leve e lento, o copo sobre a mesa, procuro em mim aqueles olhos interiores de tudo sentir e perceber. Os mais completos e clarividentes olhos que ninguém reconhece fora de si e em si ninguém contesta. Iluminado por eles volto-me na direcção da Primeira Esquina. Preocupo-me. Se os fechar continuará a haver esquina? Se os fechar continuará a existir o que não sei se existe, do outro lado da esquina? Se os fechar é possível que a esquina desapareça ou não mas quem garante que essa anulação a não arrastará a ela também?

De olhos bem abertos sei que nada sabendo dela terei de continuar, até tudo acontecer, aqui sentado, entre duas esquinas, à espera, no, concedo, aprazível local onde situaram a esplanada, desconcertado por me sentir pedaço de coisa nenhuma, títere de um ciclo de existência onde, um dia, acredito, ela terá que vir sentar-se na minha mesa.

Se me fosse permitido resolveria este caso rapidamente. Faria com que ela, finalmente, reparasse em mim. Que me olhasse e, nesse olhar, ficasse a saber da minha longa e repetida espera, suspendendo, só por isso a progressão para a Segunda Esquina. Eu avançaria para ela de molde a tolher-lhe o passo. Contar-lhe-ia a minha espera e um sorriso de compreensão posar-lhe-ia nos lábios. Ver-lhe-ia despontar a emoção por se saber aguardada e despertar-lhe-ia a reflexão sobre o inexorável de todos os dias passar, à mesma hora, de semelhante modo, no mesmo local, entre duas esquinas, perdendo-se sempre um pouco mais de outro lado, sem a certeza de que no dia seguinte a catástrofe não acontecesse e a Primeira Esquina se toldasse pela sua ausência.

Por mim sei. Estarei aqui todos os amanhãs deste Verão esperando o seu aparecimento. Dia após dia verei morrer o sol incapaz de a chamar, incapaz de deixar de esperar. Continuarei parado tentando perceber o seu mistério. Além da esquina há possibilidades que me angustiam e a desconfiança de que tudo seja possível e tudo isto tenha um sentido, possua uma coerência. Porque eu sei. Estarei aqui, cada dia mais bronzeado, bebendo a minha cerveja, convicto que, lá mais acima, na cervejaria, seria melhor tirada, mas, compreendendo que só neste lugar cumpro o meu papel e me será possível vê-la passar indiferente e significativa.

Como antevia foi o Verão passando. O Sol declinava. Ela aparecia na Primeira Esquina. Eu esperava que os seus passos a conduzissem até mim. Ela passava ignorando-me. Eu, desesperado, ansiava o novo dia para que, declinando o Sol ela de novo aparecesse e eu continuasse a aguardar...

Um dia ela apareceu. Na Esquina. Na Primeira. Trazia qualquer coisa de novo. Seria o ângulo do avanço ou uma subtil transparência de intenções reflectidas na biqueira do sapato? Não sei. Apenas me foi perceptível, de golpe, a diferença. O dia de hoje não seria como nenhum outro. Era este o dia total, por excelência.. Sobressaltei-me. Algo vai acontecer e não estou preparado. Não sei o que é nem se o desejo. É certo. A minha mansa rebelião tem ensombrado o desempenho do papel que me foi atribuído. É certo. Por vezes sonhei-me outro e quis-me diferente. Mas, por acaso não me esforcei? Não me adaptei e tentei cumprir como quiseram que cumprisse? Não me mantive pacientemente sentado, todo o Verão, nesta esplanada, sempre ao fim da tarde? Esperando sempre a mulher que nunca abordarei e me destinaram que aguardasse?

Neste momento limite todas as questões são igualmente irrespondíveis. Não há tempo nem vontade. Porque pela última vez ela irá iluminar esta última tarde. Sei que, majestosa, inflectirá a costumada marcha no sentido do café. Inicialmente indecisa avançará depois, seguida de olhares e de mim, para o interior. Sei ainda que, agora que posso queimar-me no fogo do seu sol, a tão desejada, a eternamente aguardada, a suma, a inatingível se sentará ao balcão do bar e, ai de mim, com estes ouvidos onde ainda ressoam os roçagares do seu hálito na atmosfera, a irei ouvir, naquela voz que se adivinha de pétalas, pedir ao empregado:


- Dê-me um bife... em SANGUE, se faz favor

março 23, 2008

tema de solidão XII



nos teus olhos
nuvem esparsa no iodo
do teu nome
navego a minha barca
e a ilha floresce vegetal

no teu nome
ó construtora de trágicas heranças
não há máquinas nem sombras
só os trilhos
das mágicas andanças

por mais que magoe a solidão
e os tédios ou os vidros
nos apartem
por entre lúcidos sons
ou cores plenas
eu dou-te uma mão cheia
de falenas
efémeras belas marginais
que morrem docemente sobre o feno
ou nas pontas dos bicos
dos pardais

março 20, 2008

“Balha-bem”






Cansado do azedume provocado pelas contínuas observações sobre o estado do mundo, procurei nos arcanos da memória um tema de menor crispação. E veio-me à retentiva o “Balha-bem”. No entanto, para falar dele tenho, primeiro, de dissertar sobre o Sr. Sepúlveda, conterrâneo do nosso herói, mas que, possivelmente, nunca se apercebeu da sua humilde existência.

Ao escrever o seu nome salta-me à lembrança a imagem pequena, meio corcunda, de nariz adunco e desconformes pés, ataviado no eterno fato azul. O Sr. Sepúlveda era funcionário público no tempo em que ter um ordenado certo, casa no centro da urbe e contactos privilegiados com os poderes delegados, emprestava ao funcionário um ar de magnificência. Assumia o Sr. Sepúlveda a sua condição, para além do vestuário, num expressar-se hipercorrecto que o afastava do vulgo vingando-se dele o vulgo por desenfreada troça.

Assim, certo dia, instado por um polícia, novo na cidade, a identificar-se, foi pelo mesmo detido e acompanhado à esquadra, porque o guarda suspeitava que ele lhe faltara ao respeito quando lhe pediu a identificação. Foi o caso que, surpreso por ser abordado por autoridade menor, retorquiu à intimação:

- Saberá o Sr. Cívico que se dirige inopinada e abruptamente a um sujeito com foros de cidade em desmesurada altercância para com o seu direito de ininterrupta e continuada progressão no burgo onde reside em domus próprio?

E zumba! Assarapantado com tamanha eloquência lá foi o Sr. Sepúlveda, acompanhando o atónito, desconfiado e ofendido chui para a esquadra da cidade, onde, um espavorido chefe tratou de se desculpar e xeringou o polícia por prender tão destacado elemento da burguesia urbana, o qual, por funcionário judicial, não só tinha o direito de dar voz de prisão a qualquer pessoa como, das suas funções, muitos jeitinhos e facilidades colhiam eles, polícias, por boa vontade do ilustre citadino.

Por seu lado, o “Balha-bem”, adolescente, cigano e analfabeto era o oposto da pequena glória do Sr. Sepúlveda. Nunca soube o seu nome. “Balha-bem”, chegava. Recebera a alcunha por ser hábil com a gaita-de-beiços, onde tocava melodias ciganas que acompanhava com o seu sapateado, pretensamente andaluz, pelo qual, recebia nas tascas, uns cobres com que se ia governando. Era companhia assídua da malta estudante com quem gostava de conviver nas serenatas e nas farras que lhe sucediam. Liberalmente o grupo acolhia-o.

Tornou-se meu amigo porque, todas as manhãs, me aparecia pedindo que lhe emprestasse vinte e cinco tostões. Não era muito dinheiro mas quase dava para uma ida ao cinema. Por isso, na primeira vez, hesitei e logo ele pressuroso, com o seu palrar conspícuo entre o espanhol e o alentejano, me assegurou que à noite me pagava o numerário.

Efectivamente cumpriu. Mas, no dia seguinte, pela manhã, lá estava, de novo, a pedir o empréstimo. Sempre pagou e, durante muito tempo, todas as manhãs, pedia a mesma importância. Intrigado, perguntei-lhe um dia a razão desta conta-corrente. Tentou esquivar a resposta dizendo ser o segredo a alma do negócio, mas perante a possibilidade de não tornar a ter o abono lá me explicou que ia, todos os dias, a um armazém da cidade, comprar uma caixa de sabonetes. Retirava os invólucros e ia vende-los aos incautos como se fossem sabonetes espanhóis de contrabando. Admirado perguntei-lhe se o negócio era bom.

- Vai dando. Foi a sua resposta.

A junção destas duas personalidades tão ímpares deu-se numa tasca, agora restaurante de referência, onde a malta desembocava para beber umas imperiais e onde o Sr. Sepúlveda, Fernando Pessoa sem génio, diária, comedida e rigorosamente se embebedava com vinho tinto.

Propondo-lhe um dia o dono da cervejaria o consumo de uma santola, andando de fundos baixos e não querendo dar parte de fraco, o Sr. Sepúlveda olhou para o bicho, pegou-lhe, simulou que se tinha picado e disse, alto e bom som, para quem o queria ouvir:

- Maldita lagosta, jamais comerei deste abominável crustáceo!

O “Balha-bem”, presente no local e circunstância, não só quis ouvir como quis, igualmente, por admiração total, ficar seguidor incondicional do Sr. Sepúlveda.

Por isso, na tarde seguinte, aproximando-se do balcão, simulou ter-se picado na santola e, certo de ter audiência, gritou:

- Maldita crovina, jamais comerei deste abominável constâncio!

Foi, para ele, a glória imediata. Para nós, motivo de conversa por muitos e bons anos.

Os tempos passaram, cada um foi à sua vida e, regressado há pouco tempo da guerra das colónias, vindo a Lisboa para uma entrevista para um possível emprego vejo, em pleno Rossio, vestido com um impecável fato branco e um vistoso "borsalino" na cabeça, o meu amigo “Balha-bem”.

- Então, que tens feito? Não sabia que estavas por Lisboa.

Foi mesmo um sorriso feliz que lhe vi no rosto.

-Não morreste na guerra, provocou!
-Como se pode ver, não. Parece não estares mal na vida.
- Vem ali beber uma cerveja. Pago eu, disse vitorioso.

Recompondo a simetria no mundo, podendo pagar agora o que eu sempre lhe pagara, lá me contou que viera para Lisboa dançar num clube nocturno. Mas aquilo era pouco para ele. Começou a perceber que o seu ar cigano não era indiferente a algumas estrangeiras que passavam pelo clube. Assim encetou um outro acto na sua vida:

- Agora sou puto.
- Puto??!!
- Sim, as gajas pagam-me para eu
… e largou uma bojarda das antigas.


Engasgado só me ocorreu perguntar se o negócio era bom.

- Vai dando. Foi a resposta.

Pagou as cervejas, sorriu e com o seu fato impecavelmente branco desapareceu da minha vida.



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março 18, 2008

Memória 4 - ramal de évora



o comboio da minha terra corre
corre sem parar
latifúndios crescem fomes
latifúndios por lavrar

tanta terra tanta terra
passa o comboio a cantar

lindo comboio passeante
na campina a ondear
tanta terra tanta terra
e eu sem poder ficar

partido por ventos montes
montes quero observar
quero encher o coração
quero ter o que guardar

tanta terra tanta terra
ai os meus olhos no mar
e o pensamento em ti
ficada no soluçar
quanto mais assobiava
mais eu te via chorar
mais a terra desfilava
e mais maio para chegar

santa terra santa terra
vai o comboio a largar

este comboio só parou num dia de insurreição
houve greve no barreiro foi o povo para a estação
mas perde sempre este povo luta sem armas na mão

lá parte o comboio de novo
sempre comboio popular
leva rapazes pra guerra
outros que vão emigrar

tanta terra tanta terra
vai o comboio a chorar

verde e vermelho vestido
vem o comboio a chegar
traz o chico e o rosário
tornados do ultramar

tanta terra tanta terra
tenta o comboio recordar

já apitando na linha
pensa o comboio em partir
chegou leve do jerónimo
esse não conseguiu vir

pouca terra pouca terra
foi precisa pró cobrir

ai este comboio maluco que percorre o alentejo
dentro transporta desejos
fora ficam só saudades
meu comboio da meninice rompedor de uma cidade
onde a pacatez dormindo vê partir a mocidade
pra qualquer terra distante
onde viver e morrer será sempre como dantes

na minha terra o comboio
leva gente sem parar
é como a nau catrineta
sempre tem de que contar


março 15, 2008

A mão que lhe dá o voto





Que, por inúmeras e consensuais razões podemos dizer estar esta sociedade doente de paranóia galopante, é facto dificilmente indesmentível. Culpa das tendências neoliberais imperantes na governação, da discórdia entre pragmática e ética, da dilaceração entre o local e o global. Agora, o que é mais difícil de compreender é que este estado de coisas se tenha apoderado do nosso governo, transformando a sua indiscutível legitimidade num exercício de declarações alucinadas de quem vê monstros onde o normal ser humano observa a simples consequência de decisões, por vezes correctas nos princípios gerais, mas feridas de autoritarismo míope, nebulosas, fora de tempo, descontextualizadas e sem que se encontrem justificações para os métodos utilizados.

Refiro-me, como já se percebeu, à primeira ronda de declarações apaixonadas do nosso primeiro e do inefável ministro Silva de ver, por todo o lado, em tudo o que é contestação política de medidas políticas, a mão diabólica do partido Comunista. Na verdade pode dizer-se que é o medo que tenho do meu adversário que o faz tão grande e omnipresente a meus olhos.

E o temor antecipado da maioria poderá ser verdadeiro se o bom senso e equidade não se sobrepuserem ao presente e tão estranho espírito “socialista” desta maioria absoluta.

Não porque os comunistas, ou outra qualquer oposição, sejam, no momento, um perigo real. Aliás, a desorientação reinante, favorecida pela mais longa depressão económica dos últimos anos, reflecte-se, não só no Governo, como na ausência de outras perspectivas credíveis, venham de onde vierem. Não representa este estado de coisas apenas a incompetência de quem governa ou se opõe, mas também a deriva de uma realidade ultrapassante das possibilidades de decisões a nível nacional.

No entanto, outras decisões são do restrito domínio doméstico.

Debrucemo-nos, levemente, sobre a questão da avaliação de desempenho de professores.

Tenho a imodéstia de pensar que sei alguma coisa sobre este assunto, derivado de dezenas de anos de experiência em avaliações profissionais. É certo que as fiz sempre no âmbito de empresas privadas e que, se me fosse posto o problema de pensar um sistema de avaliação para professores ver-me-ia, sinceramente, muito atrapalhado.

A avaliação de desempenho comporta vários fins. Um deles é conseguir apreciar o comportamento profissional, em dado período de tempo, de uma determinada pessoa. Para tal é necessário a construção de critérios objectivos e mensuráveis, bem como da respectiva medida. Parâmetros que podem ser mensurados com objectividade são, por exemplo, a assiduidade e a pontualidade. Outros que se podem, mediante descritivos sintéticos e correctos, tornar mensuráveis serão a quantidade e qualidade de trabalho, as atitudes de colaboração/integração no corpo profissional e os vários procedimentos para com o meio envolvente. Outro fim é o de estabelecer uma base de discussão mútua, com vista ao aperfeiçoamento e correcção de erros ou desvios, entre o avaliado e os seus avaliadores. Finalmente, após o percurso avaliativo pode estabelecer-se parâmetros de prémios/compensações e necessidades de formação.

Quando pensamos em professores para serem avaliados confrontamo-nos de imediato com a realidade de uma importante parte das suas tarefas serem dificilmente mensuráveis. O professor transmite conhecimentos – que poderão ser de alguma forma medidos – mas também educa cidadãos. Ora esta parte tão importante do seu trabalho só se poderá verificar plenamente muitos anos depois da saída da escola dos seus alunos. Como é que se medirá isto? Deixaremos, por miopia escolarenga, desincentivar os professores de uma tão importante função que, por muito esforço que custe, não se repercutirá, minimamente, no resultado da sua avaliação?

E a equidade? Como se conseguirá que a avaliação de um professor, numa determinada escola, por determinado avaliador, seja comparável a outras avaliações na mesma escola ou em escola diferente, com avaliadores distintos e perspectivas desiguais sobre a interpretação de cada um dos parâmetros propostos? Está isto pensado e resolvido? Não me parece e assim, só se chega à confusão nunca à justiça equiparativa. O que se pede é um sistema em que seja possível afirmar que alguém classificado com Bom no Barreiro é equiparado a outro qualquer, com a mesma classificação, em qualquer outra escola do país.

È portanto a avaliação de desempenho um instrumento de trabalho muito útil para a evolução dos trabalhadores, quando efectuada com seriedade, compreendida e aceite por todas as partes. A boa-fé e a confiança são as duas pernas em que este exercício se estriba. Faltando alguma delas o resultado é catastrófico por destrutivo em termos de relacionamento entre as parte.

Estas simples normas de bom senso faltaram ao ministério da educação. A resposta foi-lhe dada na rua pela impressionante marcha da indignação que cem mil docentes protagonizaram, com toda a “irrelevância” que a ministra, em reportagens televisivas subsequentes, lhe consignou. Como era de esperar de tal personalidade, a um mau trabalho seguiu-se o autismo impenitente. A vida é assim. Há pessoas que dê lá por onde der, trazem no bandulho todas as certezas do mundo e, por mais que a realidade lhe trespasse os olhos, apenas vêem o que lhes interessa ver.

A ministra que tentou apresentar os professores à opinião pública como madraços e incapazes, num piscar de olhos malandro para os piores sentimentos da turba, viu-se, deste modo, perante uma afirmação de dignidade pessoal e profissional que ela não pode entender.

Por isso foi ainda, se possível, mais fechada e prepotente e cortou todas as pontes possíveis para a resolução do problema. Mas fez mais! Quando instada a responder sobre a possibilidade da sua demissão afirmou claramente: - “eu não me demito!”.

Como para bom entendedor meia palavra basta eu entendi, naquela declaração, muito mais que o que ela desejaria que eu entendesse. Vi, que perante a enormidade do disparate, centrando-se no seu único e exclusivo querer, desafiava o primeiro-ministro a demiti-la. Sim, que ela, mesmo contestada pela classe docente em bloco, não faria como o ministro da saúde o qual, cedendo a possíveis pressões, contrariado embora, apresentou a carta de demissão que, provavelmente, lhe fora pedida. Ela não o faria. Só sairia com decisão comunicada pelo primeiro-ministro. A bola foi-lhe passada tão lepidamente como isto. Deve ser este o comportamento designado de solidariedade partidária e governativa.

O primeiro-ministro, tendo em conta os acontecimentos anteriores e estes, estaria completamente bloqueado para tomar qualquer decisão sobre os assuntos da educação. Estava preso por ter e não ter cão. No limite apenas lhe cabia, mesmo se a contragosto, apoiar a ministra. Ela aproveitou-se, completamente, deste estado de coisas.

No entanto, vindas de um PS ligado ou habitualmente consensual com as políticas do Governo, vozes credenciadas apareceram, nas ágoras televisivas, introduzindo um discurso morigerador apontando aberturas várias. E mesmo membros da equipa ministerial vieram a terreiro, na sequência, introduzir a “luz ao fundo do túnel”.

Quando, legitimamente, pensávamos que a lição de unidade e conquista de dignidade dos docentes, tinha sido apreendida e levada em conta eis senão, que a ministra vem de novo à televisão reafirmar as posições anteriores, desmentindo as aberturas anunciadas pelo seu secretário de estado, desdizendo as conversações mantidas com os sindicatos, reafirmando, do alto do seu Olimpo, “tudo ficará na mesma”.

Como bem se pode compreender não sendo os cem mil professores cem mil comunistas, muitos seriam votos contados do partido que lhe deu lugar na governação. Assim, diga ela o que disser, ainda que por questões tácticas não convenha ao nosso primeiro apeá-la do trono, a certeza com que fico é que só temos ministra a curto prazo. Porque, em 2009, há eleições e quem quer ser eleito não pode morder a mão que lhe dá o voto.




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março 13, 2008

tema da solidão XI




só se parte inteiramente
quem foi que disse
que partir são bocados de cidade

quando se parte
é com o corpo todo que se vai
nega-se o sol
o sonho é demais

porquê então partir
senão para preparar uma chegada
na incerteza na dor de coração
por não saber se há retorno ou não

daqui só se parte inteiramente

não é possível ficar

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março 10, 2008

Memórias 3 - EPITÁFIO PARA UMA RESSURREIÇÃO DE DOMINGO

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Naqueles anos,sob a influência do existencialismo , escrevia assim:



Por acaso, hoje, foi domingo. Podia ter sido um outro dia, mas não foi. O domingo amanheceu silencioso, parece-me que até já isso e hábito. Como nada tinha para fazer, deixei-me estar na cama até me doer o corpo.

Gosto de ficar na quentura mole do regresso do sono, a sonhar quase na realidade, o mundo que me apetece, nas coisas que de antemão sei que não possuirei, porque são passado e o homem vive no presente.
Depois, quase sem dar por isso, chegara a noite. Com ela veio solidão a apertar-me dentro, nem sequer me deixando o orgulho de sentir-me só. Tive a tristeza a construir-me a noite, a intranquilizar-me, e a saturar-me de estar farto.

Olho para mim e pergunto o que faço e porque o faço. Não distingo objectivos. E tudo tão solitariamente material.

Durante os dias normais, o turbilhonar daquilo a que chamemos quotidiano faz-me divergir os pensamentos. Nestes dias, porém, o silêncio entra em mim duma maneira dolorosamente esquiva e as ausências tornam-se maiores. Tento enganar-me, dizendo que sou superior a tudo quanto possa acontecer-me. Sei que não o sou, mas terei que sê-lo.

Da soleira duma porta, iluminada pela luz pobre dum bairro de lata resmungava uma voz irada de mulher:

-Anda meu desgraçado, vai para a bebedeira. Porque terei eu casado com esta porcaria de homem? Deixa estar que, quando não tiver comer para os teus filhos, te ponho uma armadura tão grande que não entras na rua Augusta...

Cá para comigo monologuei que mais dia, menos dia, o homem estaria mesmo "empalitado", se é que não o estava já. Talvez um dia eles se tivessem amado, tivessem prometido mundos um ao outro. A vida levou-os aquilo. A miséria matou o amor e os estômagos vazios, pesam mais que uma alma cheia de ilusões.

Vi, como há pouco, aquele casal novo que se ria da chuva. As pessoas voltavam-se quando passavam, encolhiam os ombros ou sorriam. Para mim, no meio daquela multidão impessoal, eles eram uma promessa de frescura na aridez do meu deserto interior.

Este acontecimento deu-me para pensar. Do meu pessimismo veio-me, para eles, que tão confiados iam, uma pena quase eterna. Um dia acordariam do seu sonho de deuses. Ao olharem os seus andrajos humanos, iriam sentir-se bem mais pobres, infinitamente sofredores e desesperados.

Nós somos assim. A nossa natureza sociável, porque o é sem dúvida nenhuma, não nos permite viver muito tempo em contacto com alguém, sem que os mais variados choques psicológicos aconteçam. São sempre as ninharias que mais contam para criar desentendimentos irreparáveis. Um grande problema predispõe o homem para a grandeza. Abre-lhe a alma. Torna-o superior. A razão inversa acontece com os pequenos problemas. Isto leva-me a concluir, talvez precipitadamente, que o homem é um ser de extremos na luta por um terreno médio, que pessoalmente não posso conceber. Sinto essa posição como uma fuga à responsabilidade. Devemos ter o orgulho de enfrentar os nossos actos, de suportar-lhes as consequências. Somos nós quem vamos construindo o futuro. A vida não é como dizem algumas filosofias, uma linha recta, traçada quando nascemos, ou antes e acaba na morte ou mesmo depois. Essa linha do destino, a existir, tornaria estúpida qualquer tentativa de libertação qualquer tomada de posição, qualquer progresso.

Um acto torna-nos responsável, não só por ele, mas pelos que o seguem e, em consequência do anterior, aparecerão. Cada um deles dar-nos-á um número de caminhos diversos. Nos escolheremos aquele que o momento, a hereditariedade, as hormonas, o tempo, isto é, nós e sobretudo nós quisermos. Uma constante opção é o acto vida; acto principal duma carreira infindável de actos menores.

Divagando cheguei a casa. A minha casa é um quarto com uma janela pequena, que dá para uma miserável imitação de quintal. Moro ali agoniado e preso pela liberdade de um dos meus actos. Tudo o que lá vive dentro me agarra e tem um sentido tão próprio, que não sei se sou eu quem dá vida aos objectos, se eles a mim.

Na minha terra era quase feliz. A despreocupação era o meu lema e da vida ia retirando os pequenos prazeres, que nos fazem duvidar das pessoas que choram. Um dia, alguém, ou um sorriso, me fez pensar que devia ser mais no mundo. Esqueci-me de tudo e lancei-me na cidade grande, todo esperança, todo vontade, até que esse sorriso me faltou. Tenho sempre comigo o "nosso" último livro. "0 Mágico" de Somerset Maugham. A dedicatória, por irónica, faz-me sorrir. Não é que tenha sido ou seja essa a sua função, mas sim porque um acto tornou mentira as palavras que se disseram e o que entre nós se passou. Aquele livro encerra algumas delas e às vezes sorrir e uma forma diferente de chorar...

Lá fora deixara uma multidão embaraçada em impermeáveis e guarda-chuvas, a maldizer o tempo. Felizes ou infelizes? Criaturas que nada mais tinham, pelo menos aparentemente, a preocupá-las, que a presumível gripe.

Bah! Gente mesquinha - dizia-me num esforço de auto-consolação. A verdade é que me sentia bem pequeno e desamparado ao pé dessa gente vulgar.

Vulgar!!! É um termo com outro qualquer, a que nós demos um significado e que usamos para classificar o inclassificável. Acresce ainda, que nesta época em que toda a gente luta pela invulgaridade, o invulgar é mesmo ser-se beatificamente vulgar.


Como um relâmpago surgiu-me a ideia do que, em minha casa, faria numa noite destas. Por alguns momentos, ai de mim, saí da prisão conceitual da gravata domingueira a vi-me livre na terra dos meus sonhos.

Chovia! Por lá, também o tempo ia chorão - com tanta experiência atómica estragam o tempo, dizia a gente velha do meu sítio. Numa noite assim, é quase certo que ficaria em casa a ler, ouvindo a dança da chuva no tecto de telha-vã. Esmagaria o nariz nos vidros embaciados, para espreitar os vultos fugitivos, os guardas chuvas negros a brilharem sob a luz molhada das lâmpadas sonolentas. Quando já fosse tarde demais, talvez saísse sozinho, à procura nas ruas escorregadias, de um motivo para me andar a molhar-me, a uma hora tão tardia. Não faria nada de extraordinário, é certo, mas que são actos extraordinários mais que meros acasos? E a vida, que é mais que um desses acontecimentos.

Já não me sentia bem no quarto. Aliás, nunca me sinto completamente bem em algum lugar. Sinto que onde não estou, é que devia estar. Por isso, nunca estou no sítio certo.

Saí, talvez a procura de mim nas ruas escuras, nas ruas baças, à hora em que se vende nas ruas, amor de deve-haver, de tempo contado, de cheiro enjoativo a suor, momento de fêmeas e machos no esquecimento fácil das contas da vida.

O meu problema e de princípio e fim. Porque nasci? Para que nasci? É culpa minha não saber estas respostas? Nunca me deram nada a que me agarrasse para viver. Em cada momento me vejo a inventar amarras, que por fracas ou coincidência desastrosas soçobram. E fico outra vez à deriva. È certo que sempre fui capaz de inventar uma outra finalidade mais ou menos longa. A imaginação é que não dura sempre. Quantas vezes mais serei capaz de me inventar no universo? Terei eu razão nos meus problemas, ou as pessoas que sub-vivem sem preocupações de finalidade?

Passou por mim, a cantar, um bêbado. Vai aos bordos. Cada passo e um compêndio na arte do desequilíbrio. Será isso uma solução? Acho que não. A alienação, ainda que parcial, nunca o será, porque as soluções exigem coragem e vontade. As fugas não! No entanto estou convencido que nem tudo é ruim. A capacidade do ser-se feliz existe algures e em alguém. Só quem, como eu, pede tudo de tudo, se encontrara sem nada. Quem esbanja cedo, tarde lhe falta. Mas que posso eu fazer? O mundo e um campo de luta onde eu terei que impor a minha certeza, ou ser esmagado pela certeza dos outros. Sei que não passo de um indivíduo entre milhões. Ao mesmo tempo sou mais do que isso, porque sou eu e como eu, sou único. O que acontece comigo, acontece com os outros milhões. Uns duma maneira outros doutra, todos lutamos por uma meta mais longa. A luta humana acontece onde esteja um homem e uma mulher. Apesar disso, ninguém é feliz, ninguém pode ao menos dizer que se está a realizar. A felicidade só existe em escassos momentos. Mesmo assim, não passa de uma armadilha, porque após ela, vem o desengano, a dor dos espíritos e dos corpos e os homens ficam, cada vez mais, sozinhos. Quem sabe mesmo se é isto que justifica ainda o acto de viver.

A abstracção dos meus passos levou-me até um bar escuso. Sentei-me. Agarrei em papel e estas palavras começaram a surgir-me. Dentro em pouco irei parar. Já disse muito de nada e não vou perder mais tempo. Afinal nós somos uns mentirosos natos. Quanto do que eu disse não passa de uma representação teatral de mim, duma incapacidade, mais ou menos momentânea, para fazer qualquer coisa? Se calhar, amanhã, à luz do dia, as minhas opiniões serão outras. Quem é que se pode perceber?

Nas minhas mãos o colorido velho do “brandy” desfazia-se em vómitos de luz. Levantei-o aos olhos e engoli nele os restos do meu orgulho.

Foi como se um escarro me tivesse deslizado pela garganta…


Guiné, Teixeira Pinto 25/6/67

março 05, 2008

tema da solidão X

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minha pátria é este sol
esta música um barco de vento
a febre das rosas ou
maio que se abre em novas cores

minha pátria é um país
de estranheza
circundado por ternura e pardais
minha pátria é esta terra
uma hera recolhida
em horas vesperais

é o branco silêncio a luz intensa
o acordar o sonho a sombra imensa
que torna e roda e que decai
em ciclo duradoiro
onde o sangue pulsa
plantando vinhais de solidão

poema terra
sentido sem razão
sol de maio meu tempo sustido
entre o momento de partir e de estar

o tempo gota a gota cai
e ninguém vê
que o tempo é pátria e terra avara

é por isso que o meu canto pára