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março 26, 2007

Afinal foi o meu candidato que ganhou…

Lá nos mostraram o resultado dos Grandes Portugueses. Já anteriormente, em várias ocasiões e lugares, referira o sem nexo de uma escolha a granel, como se fosse possível, em tantos e tão variados campos de acção e tempos, encontrar o maior múltiplo comum de uma diversidade mais rica que a imaginação.

No entanto, não deixei de escolher um candidato que anunciei publicamente e nele votei convicto e uma única vez, isto é, não recorri ao truque de usar vários telefones para multiplicar os apoios ao candidato da minha eleição. E, certamente, muitos o fizeram.

Também aguentei estoicamente o programa de ontem que a RTP1 esticou até perto da duas da manhã. Continua-se a não perceber que as pessoas tem de trabalhar e que para tal o descanso é absolutamente necessário. Ah! Dizem vocês, as pessoas são grandinhas e se ficam sem dormir é coisa de seu alvedrio. Pois é verdade, têm Vossas Excelências toda a razão… No entanto, o poder dos media é grande, a curiosidade matou o gato e quando se anunciava, desde há meses, que Salazar iria ganhar toda a gente quis tirar o caso a limpo o mais cedo possível. Por isso, hoje, além do muito bocejar no emprego (para os afortunados que ainda o conservam) poderá haver gente muito apardalada com os 41% de votação no ditador das botas.

No entanto foi interessante ouvir e ver as tantas reacções do antes e depois. Vamos por partes.

Primeiro foi interessantíssimo o anúncio de Maria Elisa, - quando já as votações tinham terminado - da sondagem, feita para a RTP pela Eurosondagens, em que, salvo erro, no primeiro lugar aparecia D. Afonso Henrique e se lhe seguiam outros candidatos que, na final se atrasaram do pelotão. É claro que isto me deixou com as orelhinhas ao alto. Então para que é que a gente precisava de uma previsão quando os resultados estavam mesmo, mesmo, a rebentar? Moiro na costa, com certeza. Desculpas antecipadas, possivelmente. O pássaro bisnau tinha mesmo ganho e havia engulhos na boa consciência democrática dos feitores do nosso serviço público. E não foi que não me enganei? Sou mesmo um gajo esperto!

Depois o acentuado nervosismo de Odete Santos, a sua agressividade fora de moda, o recordar o pior de um certo PC, dizia-me que o segundo “lobby” não conseguira os seus objectivos. Aquilo começava a estar feio para caraças. A senhora perdeu o siso, afrontou a apresentadora e não me admirava nada se tal comportamento não tivesse carreado mais uns votitos de última hora para a salazarenta figura.

No restante painel de defensores houve mais comedimento e sentido do que realmente se passava ali. Inteligentes, Leonor Pinhão na demonstração da pequenez ridícula e sórdida da dimensão do ditador com aquela nota memorável para os funcionários dos Serviços de Meteorologia e o defensor de Salazar ao relativizar o valor do acontecimento.

Feito este apanhado incompleto e frágil do evento tenho de informar que me fui deitar triste e contente.
Fui triste porque, aceitando as palavras emocionadas e ao mesmo tempo lúcidas de Fernando Dacosta, senti que nós, como tantos outros que lutaram para tornar possível o 25 de Abril, nalguma coisa tínhamos falhado. Só isso explicava que trinta anos após o delírio de liberdade existisse alguma réstia de saudade de um tempo de chumbo e o esquecimento das malfeitorias do seu principal responsável. Aceito as minhas culpas. Outros mais responsáveis que repensem as suas!

Fui contente porque, tendo em conta que a cegueira proselitista dos grupos de apoio dos dois primeiros classificados foram, em grande parte, a mútua razão de êxito relativo um do outro, o terceiro candidato, aquele que eu sempre apoiei pelo seu gesto absoluto de nobre humanismo – Aristides de Sousa Mendes – foi, no seu terceiro lugar, o distinto vencedor do Concurso os Grandes Portugueses.


Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

2 comentários:

Stand-up Comedy disse...

Na mouche. Mas, curiosamente, eu também fiquei triste e contente com a vitória da figura. Triste, por verificar que um ditador que nunca permitiu eleições, ganhou as únicas a que "se" candidatou post mortem. E contente, porque a figura eleita está ao nível de um programa de fraca qualidade.

Abraço

Anónimo disse...

Concordo com quase tudo, mas pergunto a mim próprio porque é que emerge desta forma a figura de Aristides Sousa Mendes? Consciência pública da sua acção?... Não creio.