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outubro 14, 2005

rostos

Meu amigo cantava. Dizem que cantava.
E de repente
quebram-se nas veias os relógios (...)
A Segunda Canção com Lágrimas, Praça da Canção, Manuel Alegre
rostos



para o adriano correia de oliveira


I

pelos interstícios da razão
vislumbra-se a paixão do raciocínio

o horizonte fundido sobre a rota dos barcos
escapa dentro do texto que se julga
sempre a caminho do mar

a neblina colcha de torrente
comanda-me a voz
em prosas no olhar

pela altura da vaga
mede-se a esperança

à janela do tempo
acrescento qualidades
às minhas sensações

um homem
com os dias azulinos sobre o mar
traça o curso das querenas

II

eram tão poucos os rostos
franjados de presságios
para os árduos barcos
que o sonho requeria

entre enganos e dias
restolhavam vozes
cobertas de noite
onde o silêncio
começava a existir

mas eram tão poucos
a mondar nos trigos dos critérios
o gorgulho dos prantos

ausentes da revolta
agora vamos sozinhos

os deuses são abismos do futuro

III

alguns barcos encalham e apodrecem
dentro dos rios crescem as barragens
balanço de metáforas transformação de cidades

nas máscaras do grito espia-se o grito
neste país de fronteiras sem vizinhos as borboletas das noites de agosto
turbilhonam sentidos que não sabemos

perguntado ao rio qual o caminho
o bafo das neves sem repouso
remete ao local sonolento dos princípios

a voz a pedra a tensão do futuro
contra o tempo

ícaro promete despertar

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