O que sei de Abril em nós
Eu canto para ti Lisboa à tua espera
teu nome escrito com ternura sobre as águas
e o teu retrato em cada rua onde não passas
trazendo no sorriso a flor do mês de Maio
Praça da Canção, Canção com Lágrimas e Sol, Manuel Alegre
o que sei de abril em nós
I
não há razões perfeitas nem este é um mundo completo
desconheço amor onde o afecto igualmente se mantenha
nem sei de horários sempre desejáveis
o que sei é um saber de coisas por saber lançadas na minha
descoberta
por isso hoje em abril na escola alfredo da silva
com a arma das palavras e o sentido da cantiga
recordo o tempo em que esperava ver surgir esta nação
II
viemos expor-nos nas palavras e traçar o quadro do percurso
meteoritos descendo sobre a terra e produzindo rápida claridade
viemos de passagem falámos da viagem
nem todas as fontes iniciam rios mas todos os rios nascem de uma
fonte
importante é que deixem no seu rasto de águas renovadas
o caminho vegetal da alegria
assim em abril as coisas acontecem além das intenções e
pensar que é possível parar o movimento é como
tapar com panos pretos as janelas
para cortar o dia
que a revolução é sentimento de mudança
há muito arquitectada no coração das gentes
mais que um corpo é paixão
mais descoberta que sempre
quero dizer
fazer a revolução é diferente de criar uma liturgia
que em abril semente de actos novos em campos de imprevisto
não se admitem tréguas nem hipóteses
mas um corpo de mulher por sobre as ondas
para o qual as nossas vidas tendem
III
suponhamos que num acaso que nada deve ao acaso
se abriam nas janelas rasgos de verdades e deslumbrados
nos olhos surgia uma cidade que sendo a mesma outra transparecia
pensemos um dia em que por cima do sorriso
os homens prolongassem em festa a primavera que andava recolhida
e súbita rebentasse em seiva de flores
por sobre os aços
imaginemos o momento de tudo ser possível
mesmo a bandeira do vento no rubro da paixão
então
era uma vez um povo com um rio carregado de tristeza
era uma vez uma pátria de marinheiros e sem navios
que plantara uma praia inteirinha de viúvas com olhos de gaivotas
e coração de rocha
era uma vez um povo com a noite sobre a nuca
era uma vez um frio
IV
não há razões perfeitas nem este é um mundo completo
e estamos de passagem
só o povo flui constantemente se conserva e é diferente
nós somos uma parte da viagem
um porto a encontrar
juntos aqui em abril tentemos
o novo passo a dar
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