Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 2.5 Portugal License.

novembro 08, 2005

A Presidência é um folhetim?

Que pode o poeta contra a barbárie? Que pode a poesia contra a violência a injustiça? Exprimir, pelo ritmo da escrita e das diversas falas, as energias sufocadas.

Diversas são as falas, Arte de Marear, Manuel Alegre





Não sei se já repararam mas eu ando a ficar muito interrogativo. Assim um pouco para o perplexo. Tenho alguma dificuldade em perceber as pessoas que não conseguem separar convenientemente as preferências pessoais do seu trabalho. Vem isto a propósito da entrevista de Manuel Alegre, ontem, na TVI, conduzida por Constança Cunha e Sá.

Quando um profissional de jornalismo entrevista um candidato à Presidência espero que os temas versados sejam do interesse geral, relacionados com o programa do candidato, perspectivando a diferença que o mesmo pretende ou poderá acrescentar ao panorama político-social existente, ou que propostas o distinguem dos restantes. Sobretudo se o candidato em questão apresentou, recentemente, um manifesto distante da habitual retórica oca e de circunstância, com propostas fundamentais e fundamentadas, visando a resolução de problemas graves que afectam a sociedade portuguesa.

Requer-se um posicionamento sério para um assunto sério.

Sério não quer dizer que não seja a conversa perpassada pelo humor – essa voz da inteligência – e que toda a gente tenha de envergar um ar de quinta-feira santa. Mas também não é certamente a procura pequenina e torpe de desaguisados pessoais, da pequena ocorrência, da bisbilhotice de comadre, da tentativa espertóide de entalar o outro, escarafunchando no insignificante para dar um espectáculo de basbaque.

Depois, sabem, ai de mim ingénuo!, ainda espero comportamentos deontológicos sãos, respeito por si próprio, pelo outro e pela inteligência do espectador.

E o que me dão?

O entrevistado a tentar apresentar o seu programa e as suas razões. A demonstrar que a política também são afectos e impulsos a permearem a racionalidade das coisas e a entrevistadora a teimar nas relações pessoais entre dois candidatos, a tecer pequenas insidias, a demonstrar uma intenção maculante e a escorregar nas suas armadilhas, virando o feitiço contra o feiticeiro e em vez de apertar o interlocutor, a perder o pé, a ter de explicar o seu posicionamento e intenções. Não me parece isto comportamento exemplar.

Eu sei que cabe ao noivo gabar a noiva e, disso não me coibirei sempre que para tal tenha azo. Mas neste caso, sinceramente, vocês me dirão se o meu posicionamento se deve a cegueira sectária ou à justa indignação de ver um mau trabalho jornalístico e um precioso tempo de esclarecimento a esbarrondar-se na tentativa de, no lugar de uma entrevista, colocar um folhetim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Exactamente: a tentar substituir a entrevista por um folhetim. E se tivesse sangue seria ainda melhor.