Pensar...
Por isso me dói o que tenho para contar e não porei mais do que vi e do que ouvi, ainda que para o bem falar seja maior a ignorância que sageza.
Rafael, Manuel Alegre
Talvez porque as últimas sondagens continuem a não ser muito simpáticas para o Pai Fundador, parece notar-se, nas suas últimas declarações, um especial ênfase no ataque a Manuel Alegre.
Provavelmente percebeu, ou lhes disseram os seus directores de campanha, que o estilo agressivo utilizado contra Cavaco Silva, não estaria a dar muitos resultados e que o melhor era virar as baterias contra o trânsfuga da família, o qual com a consabida falta de respeito, que lhe é peculiar, não acatou os ditames do aparelho partidário, exigindo o reconhecimentos dos seus direitos constitucionais, não acusa nenhum competidor só pelo facto de o ser e se atreve a umas eleições confiando apenas nos seus apoiantes e na possibilidade destes, no seu desejo de renovação, virem a superar o inicial défice aparelhístico desta candidatura.
Ora isto é sobremodo perigoso. Se as pessoas se põem a pensar e descobrem que muito do poder de mudança social está nas suas mãos, variadas e mui interessantes criaturas, enxameadoras dos centros de poder e locais afins, teriam imensas probabilidades de:
a) iniciar a estimulante leitura das páginas de anúncios da imprensa em busca de ocupação compatível;
b) sentar-se, frente ao computador, para num extenuante exercício de imaginação construir um curriculum, minimamente aceitável e credível, que interessasse, pela sua leitura, ao menos a um Gestor de Recursos Humanos que o não remetesse, directa e imediatamente, para a “Sexta Secção”.
b) perceberem, então, que o desemprego existe, é dramático e não é só uma figura de retórica ou uma estatística utilizável em relatórios, comícios ou telejornais, com fins detestavelmente demagógicos.
A estes abencerragens não é conveniente que se recomece a pensar e a sair fora das extremas permitidas. Com as devidas diferenças lembra-me algo que escrevi no tempo da outra senhora e que não resisto a recordar aqui:
uma hora de lazer
sem nada para fazer
é um caso sério
obriga-me a pensar
e pensar é tão perigoso
como matar um ministro
ou ser anarquista
é ultrapassar
a forma prevista
de me comportar
o melhor é pensar em não pensar
Tenho dito.
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