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maio 25, 2007

Uma não-crónica e o arguido Carmona



1 – Não-crónica

Peço desculpa aos meus não-leitores pela não-escrita que hoje trago aos vossos benemerentes olhos. É porque eu, tal como muitos de vocês, sou uma inexistência comprovada, pelo que só poderei produzir não-coisas e não-escritas. Não sei se filosoficamente se pode, de algum modo, ser uma inexistência ou se sendo se é completamente, não podendo por isso, não se ser de modo algum. Deixo o desembrulhar deste labirinto para o inefável Ministro da Obras Públicas, de nome Lino, que ontem declarou pública e notoriamente a nossa completa inexistência.

Perante uma tão abalizada afirmação eu confino-me à mina plena ausência de ser aos olhos de, pelo menos, parte do Estado. Resta-me a espúria esperança de que nenhum terrorista decida rebentar todas as pontes que hipoteticamente ligam a coisa nenhuma deste lado ao tudo do outro lado das margens. (Vide Dicionário da asneira de Almeida Santos)

Perante o atabalhoamento das mui preciosas declarações e actuações de algumas excelentíssimas personagens ministeriais vai enriquecendo, se não o país pelo menos o anedotário nacional, o que em si já não é pequena coisa. Sempre ouvi dizer que o riso combatia a depressão e como a nossa economia continua deprimida, como deprimidos teimam em continuar os desempregados cá do território, talvez esta seja uma infalível e secreta receita para ultrapassar o acabrunhado ambiente em que vivemos.

2 – O arguido Carmona

É costume retórico começar por confessar-se a simpatia por alguém para a seguir a arrasar com a nossa argumentação. Não sou inocente nesses artifícios e confesso que já deles me tenho servido. No entanto aqui não o farei. Não gosto mesmo do homem desde quando espetou a faca nas costas de outra personagem que também não me é simpática: Santana Lopes. E lá que o fez com todo o despudor, fê-lo. Só que eu embirro solenemente com qualquer quebra de lealdade, mesmo entre políticos.

Teimou agora - nesse seu jeito de trair quem lhe dá confiança - não acatar as indicações para se demitir vindas do partido que o colocou na Câmara. Manteve-se teimosamente agarrado ao poder num “tem-te não caia” agoniativo. Mas como é homem de palavra disse que não iria concorrer à Câmara e, a seu modo cumpriu. Cá está de novo na corrida.

Isto nem seria o pior se ele não fosse arguido num caso de possível corrupção com uma empresa, a qual me abstenho de nomear porque, mesmo sendo verdade tudo o que sobre o caso se diz, posso vir a ser sancionado por algum tribunal por atentar contra o bom nome de um provável corruptor.

Tem-se falado muito sobre o comportamento a ter por nomeados para cargos públicos quando arguidos em qualquer processo.

Consultando o dicionário da Academia de Ciências vejo que arguido quer dizer: “Pessoa indiciada ou acusada de crime, delito, falta condenável, punível com pena ou disciplinarmente.” Não me esqueço que no nosso ordenamento jurídico existe a presunção de inocência até condenação em julgado, mas também não posso esquecer que quem ocupa um cargo público (de nomeação ou por eleição), deve estar acima de qualquer suspeita. Acredito firmemente que só há arguido quando os indícios se mostrarem fortes. Não creio que os juízes andem a arguir os políticos só por intrínseca malvadez ou ciúmes de poder. Por dever ético penso que qualquer arguido deve, nesse caso e no mínimo, pôr o seu cargo à disposição de quem de direito.

Mas, pasme-se a coerência do concorrente Carmona. Perguntado pelo Público (24 de Maio) se aceitaria receber apoio monetário da empresa que levou à suspeição de corrupção nos órgãos camarários – e à correspondente queda da edilidade - respondeu prontamente que sim. É portanto um arguido contumaz e convicto.

De homens como o ministro Lino e o edil Carmona é que o país precisa…para continuar a afundar-se.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Boa Carlos! O Lino tem areia na cabeça, e muita! Basta olhar para a carinha dele. Já reparaste o ar estúpido do camelo ?

O Carmona? Outro camelo que nem areia tem na mona.
Peço desculpa aos senhores visados, enganei-me... eu é que sou camelo. Eu é que vivo no deserto.
Olha: um abraço pelo texto.