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dezembro 18, 2005

Na volta dos dias

Eis que de novo chega um tempo de batalhas.
Chega um tempo de povo…


Ser ou não ser, O canto e as Armas, Manuel Alegre




Foi interessante a semana que findou. Desde quase o seu início se adivinhava um rumor profundo, qualquer coisa que se não dizia mas em silêncio se preparava e não se conseguia conter sem que algo se vislumbrasse.

Foi primeiro, salvo erro, Jorge Coelho quem, no Programa Quadratura do Circulo, disse, ou insinuou, que uma nova sondagem do nada se levantava e que, alimentada pelos debates televisivos, fizera arrancar a candidatura do Dr. Mário Soares. Mais António Costa, posterior, e Vitorino, secundaram o murmúrio com a consequência lógica de aconselharem os restantes candidatos de esquerda a desistirem a favor do seu candidato.

Perversa lógica esta. Assente num conhecimento de dados não divulgados, mas pré-anunciados, mais parecia táctica de marketing que acção de correcta política, além disso nada sustentada na bondade dos seus efeitos se, por um extraordinário acaso, as restantes candidaturas viessem a aceitar o repto.

Por outro lado vem o Candidato Mário Soares dessolidarizar-se da posição desses importantes dirigentes do partido que apoia a sua campanha.

Que se passa então, senhores?

Parece que apesar das sondagens, do País inundado de cartazes, dos giga-jantares, alguma incomodidade ou incerteza dolorosa reina no binómio Soares/Partido Socialista.

Na verdade, aparecida a sondagem, verifica-se que, apesar de dar um crescimento a Mário Soares, esta candidatura aparece muito abaixo da linha desejável e, a crer nela, consubstanciando uma vitória na primeira volta para Cavaco Silva. Aquilo que faria bater o coração dos dirigentes socialistas era a passagem de Mário Soares para a segunda posição, até então ocupada por Manuel Alegre. Então, como se frisou, a consequência lógica, e primária, seria a entrega dos votos de Manuel Alegre a Mário Soares.

Pensamento obnubilado de quem julga mandar nos votos dos outros. Quem lhes afiançou que, desistindo Manuel Alegre, Mário Soares aumentaria a sua votação? Quem lhes disse que os cidadãos que com o seu esforço alimentam a candidatura de Manuel Alegre estavam dispostos a transferirem o seu voto livre e republicano para a manutenção de uma aristocracia que se quer impor ao País? Já agora, porque não declarar Mário Soares como candidato experiente e vitalício e assumir uma dinastia Soarista a governar, por direito próprio ou divino, prolongadamente os destinos deste rectângulo?

Um pouco de contenção não faria mal aos dirigentes, em pânico, do Partido Socialista. Postos perante o colossal erro de escolha que fizeram para as presidenciais, fazem apelos que não valem pelo que é pedido, mas sim por aquilo que revelam: Sabem que o seu candidato não está em posição de fazer o pleno de esquerda – mesmo numa segunda volta - sabem que não agindo eticamente dividiram os votos da esquerda e sabem que terão de prestar contas sobre o desperdício de uma maioria recente, naufragada numa escolha infeliz. Para não terem de abandonar o barco procuram bodes expiatórios. Mais nada.

Para mim é isto que vale o empenhamento desta semana de dirigentes e comentaristas afectos. A sondagem não me afecta nada, como não me afectariam se os resultados fossem, como repetidamente têm sido, mais favoráveis ao meu candidato. Porque eu sei coisas que as sondagens não dizem, porque nem sabem nem podem medir. Sei das pessoas que nos contactam e oferecem, voluntárias, as suas horas de descanso e os seus merecidos fins-de-semana. Sei de quem tendo pouco dinheiro aparece para contribuir, com o que pode, para uma causa que consideram justa e onde se revêem; sei também de quem, por motivos vários, prefere não ser conhecido e nos vem afiançar que o seu candidato é Manuel Alegre e sei, finalmente que, preparados para vencer, mesmo que não conquistando a Presidência da República, só pelo movimento gerado e pela esperança renascida nas pessoas, nós já ganhámos.

Lembrem-se de Humberto Delgado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta coisa de escolher o curso de Direito só porque se detesta a matemática, é o que dá. Hoje o Vitorino recalcitrava no argumento. A sua capacidade para contas esfuma-se, sempre que não há cifrões no meio.