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dezembro 28, 2005

luís volta a casa com ar meditabundo

Não sei se alguém consegue voltar de um longo exílio. Não sei se alguma vez se volta verdadeiramente a casa.

Alma, Arte de Marear, Manuel Alegre





I

longos tédios de gelo sobre os campos
cristais inelutáveis de fontes
por pensar

a cinza
interior de águas entre ruas
disfarces de boas intenções

já não são eternos
os deuses
sobrevivem empregados
a baixas cotações

II

trazes a lembrança de um rio
por dentro da cidade
a estranheza de um nome plantado
ao fundo da sesta

não há interdições às tardes da infância

a propósito
a intersecção de duas linhas
produz na esquina do infinito
um ângulo vagamente proibitivo

III

que tal te foi a vida
a mim também
aos poucos me morria
ora que tem

falando de amor
pois a mim
por favor
acho que sim

IV

regressas meu amigo
nesse choutado passo
de receber a tença antiga
no paço

derrogas delongas de fado
canela que te coube
neste país dormido por diferença

onde rogas
por pobre devagar
a tença

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