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dezembro 08, 2005

Exames...

E vem com tuas mãos com teu lamento.
E vem com tua dor. Despenteia-
-me assim por dentro
do canto onde tu passas como um vento…

Pátria Expatriada, O Canto e as Armas, Manuel Alegre





De mim não se poderá dizer que seja um grande adepto da avaliação de conhecimentos por meio de exames. Admito a necessidade de apreciação do saber adquirido mas penso que centrá-la toda num único momento é mais lotaria que demonstração de ciência.

No entanto, sendo o sistema de ensino em Portugal baseado em exames nacionais, até que outro surja, há que aceitá-lo e tentar retirar dele o máximo de virtualidades.

Também me parece que os exames de 12º ano serão em demasia e que, de facto, como aparece em proposta ministerial, se poderia ficar pelos exames de disciplinas nucleares. Faria sentido, uma vez que até ao nono ano se dariam as matérias de cultura geral e, no secundário, se começaria a enveredar pelos saberes mais específicos de cada escolha.

Portanto tudo parece levar-me a concordar com as intenções da Ministra da Educação.

Mas a verdade é que não só não concordo, como a acho um tremendíssimo disparate.

Eu explico!

Em primeiro lugar parece-me que o instrumento, por excelência, de recepção e transmissão de saber é a língua pátria. Não haverá desenvolvimento social ou tecnológico se o utensílio base de divulgação não for convenientemente dominado. Infelizmente, como sabemos, mesmo em meio universitário, tal está longe de ser uma realidade no nosso País.

Em segundo lugar a língua faz parte integrante do sentimento de pertença nacional. Uma língua menosprezada representa uma baixa auto-estima nacional. Disso já temos que baste! Não precisamos que este Governo/Ministério venha pôr mais sal na ferida.

Ficamos, no entanto, a pensar por que razão virá alguém propor uma situação tão sem nexo. Pareceria pois que os proponentes ou eram parvos ou se guiavam por razões tão misteriosas e escondidas como, por exemplo, estarem-se nas tintas para os problemas que a medida venha a suscitar desde que - cortando um grande número de examinandos, de correctores de provas, de júris de exame - tal medida redunde num diminuir de custos , coisa sagrada acima de todas os outros considerandos.

Finalmente, em terceiro lugar, bastando ouvir as entrevistas feitas a alunos do secundário, num sistema de exames, disciplina que a eles não venha a ser submetida será matéria a não levar demasiada a sério.

Assim, visivelmente por questões aparentemente de âmbito financeiro, o Ministério está disposto a empenhar um dos garantes da expansão da cultura portuguesa e mesmo do desenvolvimento global do País.

Pedir que uma só medida comportasse tantos malefícios era coisa que eu não me atreveria a pedir a este Governo. Sou obrigado a reconhecer que o subestimei e que aqui ele se ultrapassa no grã talento de mal-fazer.

Só me resta, portanto, dizer-lhe: bem haja benemérito da Nação.

P.S. (não confundir) Lembram-se de Manuel Alegre ter apresentado, no seu programa, nomeadamente através do fortalecimento da CPLP, a dignificação da Língua Portuguesa?

Será que a mesquinhez vai tão longe?

1 comentário:

Anónimo disse...

Não cncordas tu e não concordo eu, parecendo-me que vem aí mais do mesmo.