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março 08, 2010

Memórias XIX - fragor de rosto




I

um mosquito doido pousa na vidraça
o cais alonga-se ao correr do risco
rumo de olhares contemplando chuvas

a água da nascente aperta-me a garganta

II

trazes hoje um semblante de palavras
imensa descoberta que se espalha triste
sobre a sombra da tarde

a paisagem habita-se de encostas
de outros impossíveis campos rompe a floresta
e escala oculta a imperfeita génese dos contornos
mágicos das cinzas das estrelas coalhadas de espanto

por agora nas manhãs enregeladas suponho o ritual
estandarte onde se agarra o vento
dos corpos nos traços das ofertas

canto o nome dos lugares de todo o procurar
a harmonia inteira o que se pode sorrir
entre os cortados de montes e paisagens
sem rios e sem diferenças

ao revés da cera em que a tarde se esbate
em passo apontado ao outro lado
o silêncio aquece o rubor estridente dos campos

III

na vidraça doido dança o doido do mosquito



Lisboa, Fevereiro de 1984

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