Memórias XIX - fragor de rosto
I
um mosquito doido pousa na vidraça
o cais alonga-se ao correr do risco
rumo de olhares contemplando chuvas
a água da nascente aperta-me a garganta
II
trazes hoje um semblante de palavras
imensa descoberta que se espalha triste
sobre a sombra da tarde
a paisagem habita-se de encostas
de outros impossíveis campos rompe a floresta
e escala oculta a imperfeita génese dos contornos
mágicos das cinzas das estrelas coalhadas de espanto
por agora nas manhãs enregeladas suponho o ritual
estandarte onde se agarra o vento
dos corpos nos traços das ofertas
canto o nome dos lugares de todo o procurar
a harmonia inteira o que se pode sorrir
entre os cortados de montes e paisagens
sem rios e sem diferenças
ao revés da cera em que a tarde se esbate
em passo apontado ao outro lado
o silêncio aquece o rubor estridente dos campos
III
na vidraça doido dança o doido do mosquito
Lisboa, Fevereiro de 1984
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