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julho 03, 2008

Hermenêuticas, propedêuticas e outras “cabalêuticas”.








Jorge Paulo de Carvalho, em texto publicado no Rostos, sob o título “O Bloco de Esquerda e a Hermenêutica” mostrava ao ignaro, ou, no mínimo, ao distraído público que uma distribuição de militantes, publicada em 2006 no Expresso, era, em todos os distritos, um número múltiplo de 61.

O texto, sarcástico quanto baste, era o que o Belegário chamaria de “bem apanhado”. Depois de uma gargalhada ou de um amarelado sorriso, falecia-se no efeito pretendido. Ficado por aí, cumprira o seu papel e com os cumprimentos e devidas vénias, estava o autor felicitado pela argúcia da descoberta e pelo humor do escrito.

As coisas são o que são e valem o que valem, excepto quando são o que não são e se pretende que valham mais que o merecido.

É o caso!

Em resposta, Humberto Candeias, igualmente no Rostos, fez inserir um outro texto “O Jorge Paulo Carvalho e a Propedêutica” no qual sugeria que os números insertos no Expresso, não seriam de pura fonte mas sim um constructo emanado de uma qualquer central de intoxicação.

Se por aqui ficássemos teríamos ficado em boa companhia.

No entanto, mudando o tom ao discurso, vem JPC em “O Bloco de Esquerda e a Factualidade” de novo à carga.

Desta vez, abandonado o tom jocoso que a brincadeira permitia, fazendo tábua rasa da sugestão avançada sobre a autoria da lista em questão, entra por uma diatribe em que acusa diversas pessoas, conotadas com o Bloco de Esquerda, de entrarem por “insultos e tergiversações”.

Tanto quanto me apercebi e foi possível ler, apenas um comentário publicado e em parte, era um tanto ou quanto despropositado. No entanto, sabe JPC, por lho ter sido comunicado por outros aderentes do Bloco de Esquerda, que essa não era a opinião geral, nem generalizada entre os aderentes. Dela, no entanto, não faz JPC notícia. Preferiu salientar a nuvem esquecendo Juno.

Escolhas!

Como cúpula do edifício e depois de considerações sobre o messianismo a que se pretenderia o Bloco, surge a terrível ameaça de, caso não seja produzida prova cabal de autoria estranha e malévola, o 61 (é a inflação, dantes era o 31) vai voltar em força por altura das eleições. Tremei, pois, vilanagem. O Justiceiro está atento e vigia-te.

O que é mais estranho nesta coisa dos números – e talvez seja prova evidente de alguma intenção pouco louvável na fonte da informação – é que o Jorge descobriu a existência oculta da constante 61, para o qual foi preciso, com certeza, perder algum tempo em análises que a mim, inteligente que sou, nunca me ocorreria fazer, passando, no entanto, em claro um outro sinal bem mais visível e que, segundo me parece, seria o destinado a produzir o efeito pretendido de descredibilização de um partido que procura uma ética social e política e que não vira a cara aos desafios socioeconómicos, incomodando assim, de forma constante, as centrais de poder.

É ele o caso da distribuição, pouco imaginativa, da quantidade de militantes por distrito. Temos assim uma estranha repetição de números. Em 8 distritos aparecem 122 aderentes, em 4 surgem 244, em 3 temos 305, só em 5 distritos aparecem números diferenciados. Estranho, não é? Seriam necessárias impossíveis coincidências, ou muita palermice, para produzir semelhante rol tão falho de imaginação e credibilidade. A quem serviria tal dislate? Está-se mesmo a ver: gato escondido com rabo de fora!

No entanto, como estamos em terreno cabalístico, há que entender o exótico hábito da divindade costumar escrever a direito por linhas tortas. De facto o que, possivelmente sem querer, JPC descobriu nestes pobres números foi uma mensagem oculta do sagrado. É que, feita a prova dos nove, 61 dá 7, cardinal que como todos sabem é o indicativo da Criação e o número da Perfeição. Olaré, que é!

Nunca nos pensámos tão bons, mas agradecemos empenhadamente o esforço e a intenção.



Publicado in “Rostos on line”http://rostos.pt/

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