Glosas à Trova do Vento que passa
Com a devida vénia transcrevo estas décimas enviadas, por "e-mail", por uma amiga e da autoria de Manuel Inácio Veladas:
Mote
Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu País
O vento cala a desgraça
O vento nada me diz
(Manuel Alegre)
Glosas
1ª
Este mote ouvi um dia
Numa canção bem cantada
E por mim considerada
Das mais lindas que eu ouvia.
Quem fez esta poesia
Via o futuro sem ter graça,
Sem algo que o satisfaça
No seu exílio infernal,
Notícias de Portugal,
Pergunto ao vento que passa.
2ª
Sofreu, não desesperou
Dum sofrimento tão vil,
Mas o 25 de Abril
Afinal sempre chegou.
Satisfeito regressou
Considerou-se feliz
Por ver o que sempre quis
- Em Portugal nova aurora –
Perguntava a toda a hora
Notícias do meu País.
3ª
Dizia Manuel Alegre
No seu exílio sombrio:
Se morrer, morro com brio
Sem que à tristeza me entregue,
Por muito que alheio navegue
Sou quem o exílio abraça,
Julgo o vento de má raça
Porque o é, infelizmente.
De quem sofre injustamente,
O vento cala a desgraça.
4ª
Sofreu com brio e coragem
Esperava a todo o momento
Que até o próprio vento
Lhe levasse uma mensagem.
Não o quero em desvantagem,
- Ponham-se as pintas nos iis! –
Não sejamos imbecis
Deixemos de hipocrisia,
Lembrai-vos quando ele dizia
O vento nada me diz!
Évora, 14 de Janeiro de 2006
Manuel Inácio Veladas (Ti Limpas)
Manuel Inácio Veladas é natural de Ferreira de Capelins, Alandroal, onde nasceu e reside há 76 anos de idade.
Toda a vida trabalhou na Agricultura e, nos últimos anos, tem vindo a ajudar a construir a Confraria do Pão (Alentejo), cujo Centro de Documentação já publicou o Livro “Nasce do Meu Pensamento”, com algumas das poesias populares alentejanas que vem fazendo e aprendendo desde criança.
Com uma vastíssima e riquíssima obra, é, seguramente, um dos mais importantes Poetas Populares que o Alentejo e Portugal já teve.
ESTAS DÉCIMAS FORAM FEITAS DE IMPROVISO PARA A MANHÃ DE 14.01 EM ESTREMOZ
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