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dezembro 04, 2008

A caneta de oiro








Há frases e actos os quais, pelo seu peso simbólico, marcam nas nossas memórias um terreno de constante rememoração. Para mim, no referente à primeira situação, está a sentença proferida pelo Dr. Mário Soares do “sou republicano, socialista e laico”. Não me revendo em muitas das públicas atitudes e ideias do Ex- Presidente da Republica, não posso deixar de reconhecer que utilizo bastantes vezes esta frase como forma de identificação.

Quanto ao segundo tema, os actos, recordo-me que um amigo que nada tem a ver com ideologias de esquerda, como facilmente se perceberá, querendo mostrar-me algo concreto que explicasse o seu devotamento a essa desaparecida figura contava-me que, em certo momento do consulado do ditador, numa qualquer efeméride que não fixei, foi-lhe oferecida uma caneta de oiro.

Devia ser bela porque, contrastando com o distanciamento de Salazar perante o objecto, um outro membro do governo, ficou encantado. De tal maneira foi que, ultrapassando o natural recato que seria de bom-tom preservar, atreveu-se a pedi-la ao Chefe do Governo.

Este tê-lo-á olhado com o seu ar de pássaro bisnau retorquindo-lhe:
-Esteja Vossa Excelência descansado que ela ficará guardada até terminar o seu mandato. Quando isso acontecer será sua.
Assim ficaram as coisas. Até que um dia, chegado ao seu gabinete viu, o nosso ministro, a sua secretária deserta de papéis, luzindo de limpa e, no centro, sobre a pasta mata-borrão, refulgia a demandada caneta de oiro.

Foi assim que o ministro soube que chegara ao fim de linha.

Isto, que causava a admiração do meu amigo, para mim, nada mais era que a mostra de desrespeito e cinismo com que o ditador tratava e julgava todos, mesmo aqueles que de mais perto o seguiam. Não via aqui qualquer mostra de elevação de espírito ou a excelsa subtileza reclamada pelo seu admirador. Não via mas…

Com as coisas que se passam no Governo Socialista, mormente no caso da educação, com o escândalo dos falíveis bancos e com as falhas detectadas na sua fiscalização, começo a pensar se não seria bom que o Eng. Sócrates e o Dr. Cavaco Silva começassem a oferecer algumas canetas de oiro a uns quantos personagens notáveis da nossa praça.

Se o fizessem e acertassem nas escolhas, até eu me comprometia a esportular, das minhas frágeis economias, o bastante para comprar duas canetas de oiro que teria imenso prazer em lhes oferecer.

Eu, reconheço, sou mesmo assim. Absolutamente agradecido e generoso!


Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt

2 comentários:

Anónimo disse...

olá, carlinhos
pela parte que me toca divido as despesas contigo, encomendamos a dita no leilão E-bay, e enviamos um vale de gasolina de 10 euros, para gastarem entre a saída do governo e a entrada no aeroporto, com destino à Lua. O presidente do Chelsea já comprou 40Km da Lua, logo vão ser vizinhos. Quando estiverem aborrecidos, podem jogar à bola, ou ao sete e meio, que condiz mais com eles. Se tudo correr bem duas horas depois andam todos à estalada, e pode eser que usem armas. Fim feliz e digno!

A benção da sua orgulhosa, e sempre, madrinha eplos belos textos que o afilhdo escreve.

Beijocas para todos,
Francis Anne

Carlos Alberto Correia disse...

Tóbrigadinho madrinha!

Com madrinhas assim como é que não deveria ser o afilhado? Já agora, se leres o público de hoje, verás uma extensa reportagem sobre as ligações e os "amigos" do Loureiro. É tudo boa gente!Faz-me lembrar um livro do Fabrizio Calvi, A Europa dos Padrinhos!

Uma beijoca e a sua benção