O mundo de Obama
Dois dias depois da ressurreição de Vasco Gonçalves, dois dias antes da muito provável eleição de Barak Obama, para Presidente do Império Americano, sinto, fisicamente, que estamos na viragem de uma esquina da história.
Ao nível do nosso pequeno rincão, trinta e três anos passados sobre o 11 de Março de 1975, o Governo, que até ontem afirmava a pés-juntos a excepcionalidade dos nossos bancos em relação à crise, veio apressadamente reconhecer o risco iminente de falência do BPN, optando pela nacionalização desse banco, preparando o terreno para, noutros, actuar em futuras intervenções nacionalizantes .
É caso para dizer: Eu bem avisei!
Claramente, desde que o neo-liberalismo conservador entrou como furacão no mundo, soprado pelos inefáveis Thatcher e Reagan, qualquer pessoa com um mínimo de entendimento das coisas perceberia que a Donas Brancas, independentemente das suas dimensões e estatutos, derrocam sempre que alguém, por necessidade, desconfiança ou aviso, decide resgatar, em bens reais, a moeda escritural que possui. Aí, o mundo desaba!
Que é o que no momento acontece!
Um pouco por toda a parte os Governos intervêm na economia, renegando o sempre presente discurso do menos Estado, optando pelo pecado capital de, utilizando as designações defensivas que quiserem, nacionalizar, nacionalizar, numa patente demonstração de falência da auto-regulação dos mercados em geral e do financeiro em particular.
Deste modo, quando Obama entrar na Casa Branca, herdará de um império a desfazer-se, a necessidade de encontrar caminhos para a salvação do país e do mundo. As expectativas são grandes, as dificuldades enormes e as desilusões engordarão a ritmo acelerado. É que o império já não é o império. Bush estilhaçou os capitais económicos, éticos e de confiança que lhe foram parar às mãos. As suas equipas de neo-conservadores produziram pobreza, mal-esta, guerras, um pouco por todo o mundo e, não fora a velha Europa, a teoria da guerra preventiva teria levado o mundo à insanidade total. Portanto é uma América desprezada, a empobrecer aceleradamente, que o espera, exigindo-lhe rápidas decisões e soluções adequadas, habituados que estão a meios de que já não dispõem.
No entanto o mundo não pára. Ele há o Irão a caminho de se tornar uma potência nuclear. Temos a Índia que, utilizada como tecnologia de custo baixo, mandou um recado ao mundo ao colocar o seu satélite em órbita lunar. Não se esqueçam que a Índia é possuidora de armas atómicas, de uma população enorme, de conflitos político-sociais sem nome e, disse-nos claramente, tem agora um transportador capaz de colocar ogivas em qualquer ponto do Globo. Que dizer da China com os seus milhões de habitantes, com o crescimento contínuo, à décadas, a dois dígitos e a avassaladora possibilidade de continuação de “dumping” social levando a deslocalizações, de empresas, empobrecedoras do mundo ocidental?
E o Brasil emergente, a pouco transparente Angola, a intranquila Venezuela? E o resto de África a ferro e fogo, com levas de deslocados e emigrantes a escreverem uma nova odisseia de miséria, buscando a felicidade no mundo rico que, também, o é cada vez menos?
Com tudo isto e mais a crise se defrontará Obama se for eleito. E mais, com a absoluta necessidade de se manter vivo, o que, creio, não será tarefa fácil.
Assim, o mundo de Obama será, já é, um imenso “puzzle” onde sobram os problemas e mingam soluções. Mas o pior, é que este mundo tão precário, é o mundo que fomos capazes de legar aos nossos filhos! Não vamos fazer nada contra isto?
Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt/
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