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fevereiro 18, 2008

tema da solidão IX

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por vezes escrevo
como quem luta
outras
como quem disfruta
do modo
da conduta

o importante é agarrar
a frase o lento murmurar
por dentro da palavra

o importante é descobrir
o senso que oculta

porque conhecer é desconhecer inicialmente
o resto é a semente
com que se emprenha o futuro

às vezes a palavra tem um muro
onde se esconde deusa refractária

contra a palavra invisto
nesse tempo
a palavra é um silêncio
que se recusa
e contra mim atenta

outras vezes desliza
é fio de água
ribeiro a correr nos roseirais
onde os peixes passam
átomos originais

assim a palavra se revela
se obstina ou se rebela
criando esta tensão
que me percorre
no silêncio ou no grito
em que se morre

palavra cujo império é a palavra

edifício construído sobre o nada
que é o ar a sílaba modulada

assim entendo o meu campo
a minha lavra
como lavrador me angustio
se o tempo não convém
à sementeira

mas sempre no inverno
ao som do frio
no meio da solidão onde me ostento
ponho as minhas palavras
na fogueira

1 comentário:

Luciano Barata disse...

Tão simples como profundo este percurso sobre a força das palavras.E embora contadizendo Eugénio de Andrade... e... mesmo que as entornes no lume quando chega o Inverno; "Ainda não gastámos as palavras todas"

-Realmente o "merdoso" ataca constantemente.