memórias XXII - às vezes
I
era uma vez um barco
uma memória de fumo
uma criança no tempo
do vidro das tuas portas
navegando no teu rosto
volto ao local da esperança
onde o cais não foi marcado
aí dissimulo a luz
entre os lábios alinhados
II
quando o corpo nasce dia
sempre inocente o domingo
vem bater à minha porta
a gargalhar profecias
junto o fumo da memória
volto ao local da esperança
com um silêncio de voz
um barco livre de Outono
que dissimulo no cais
III
na linguagem a que se acolhe
só se cria o que não há
não é escritor quem se escolhe
nem o que dita a razão
mas se houver uma canção
conta-se às vezes no tempo
a memória do teu fumo
no corpo da minha porta
nos meus lábios alinhados
só ao domingo
cansado
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