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junho 08, 2010

memórias XXII - às vezes




I
era uma vez um barco
uma memória de fumo
uma criança no tempo
do vidro das tuas portas

navegando no teu rosto
volto ao local da esperança
onde o cais não foi marcado

aí dissimulo a luz
entre os lábios alinhados

II
quando o corpo nasce dia
sempre inocente o domingo
vem bater à minha porta
a gargalhar profecias

junto o fumo da memória
volto ao local da esperança
com um silêncio de voz
um barco livre de Outono
que dissimulo no cais

III
na linguagem a que se acolhe
só se cria o que não há
não é escritor quem se escolhe
nem o que dita a razão

mas se houver uma canção

conta-se às vezes no tempo
a memória do teu fumo
no corpo da minha porta
nos meus lábios alinhados

só ao domingo

cansado

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