ela de coração parado
à memória de elis regina
é sempre assim que chegam as notícias
repentinas absurdas e brutais
tudo fica parado como cartaz
em muro de silêncio
gentes isolando mágoas
em fundo de ruídos de atabaques
todos iremos um dia a esse encontro
como tu foste inesperada e breve
apartando olhos em colares nocturnos
tecidos da morte de cada um de nós
preciso agora da dureza das palavras
para enfrentar o momento aguçar a pedra
e profanar a alma desse deus de impudica grandeza
firmada sobre o inútil de sentirmos
como se morre na lentidão dos dias
sempre mais incompletos e sós
acredite-se embora que na morte
continue a vida de outro modo
não se percebe porque se cala a voz
e o esquecimento e instala
amarelecendo imagens vivas e reais
borboletas de sombras em mar esmaecido
ou comprido nevoeiro que se adensa
a minha mágoa é mão que arrefece
na janela do comboio perante a noite
canto na ribalta a decepção
da hora em que se cai sobre a notícia
de um corpo abandonado
que desse desejar animador da voz resta ela
de coração parado
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