setembros I
I
recordo a melancolia dos beijos
suspensos entre o hálito de setembro
e um insuspeito golpe de outono
traduzo o lume brando dessas tardes
os ocasos fortuitos de langorosos sóis
no ruge-ruge de olhos marginais
no incómodo da pele traça a tua mão
arabescos de fogo sobre as malvas
estáticas em tórridos areais
II
soltam-se as primeiras nuvens e os céus
ainda claramente juvenis caem na modorra
dos apressados hábitos
cinzento é acampamento de esperanças
no solitário corte dos umbrais
III
eu sei
não mais cantos de cigarras não mais
somente as ternas sensações pretéritas
remordem em remorsos outonais
eu sei
e por saber estou de qualquer modo
por demais afastado da acção
recordo os lumes velhos
e esmagando rumos ou trovejando camas
procuro no casulo a paz desta estação
dobo a luz afago a natureza
preparo o advento na minha fortaleza
de outros dias grandes e ferozes
onde termine a minha hibernação
IV
o vento largo e fresco amarinha
arrasta as coisas velhas pelo ar
setembro é chegado
a luz caminha
devagar
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