falenas V
I
meu sal das manhãs início de intuição
a tua voz descreve-se violoncelo
adágio nostálgico estreia de percurso
és um rio uma ave um telhado
um carbúnculo de estrelas nas caves de casas marginais
um jornal gritado sobre o chão o rastro de um cometa
jornada em pauta musical nuvem de oboés
ou rútilos rasgos nas peles dos tambores
rompe-se o eco volatiliza-se a voz
no de lírio trémulo das velozes ocarinas
naufragadas entre tubas
a orquestra é um mar no som de baile dos teus pés
II
regressas e tudo é instantâneo e demasiado
então sobressaltas os meus dias em sons estranhos
perpassas entre música
branda visitante das pachorrentas horas
na digestão do tempo
ó voz de carne viva ó espírito das tranças de luz
abre um pouco as mãos dos violinos trágicos
com que despenhas rotas e dá-me
dessa água onde transmutas
o rictus em rito o nunca em ritual e o sempre
não assusta e é meta alcançável
num golpe das imaginativas cadências
percurssões ritmadas perfurando
em alternâncias lúbricas o perfume dos trópicos da música
III
tu continuas a dançar no imponderável do espaço
esvoaças e tudo cai mais mansamente ou se eleva
nas inabituais dimensões onde navegar
é o mais certo termo e viagem não é já
caminho para a decepção
tudo me é tão leve de ti
por isso mesmo o grito se me chega
e a inércia esvai-se nesta música
meu amor te digo e tenho nas palavras
o sabor de ervas bravas
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