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julho 20, 2008

falenas V






I


meu sal das manhãs início de intuição

a tua voz descreve-se violoncelo

adágio nostálgico estreia de percurso


és um rio uma ave um telhado

um carbúnculo de estrelas nas caves de casas marginais

um jornal gritado sobre o chão o rastro de um cometa

jornada em pauta musical nuvem de oboés

ou rútilos rasgos nas peles dos tambores


rompe-se o eco volatiliza-se a voz

no de lírio trémulo das velozes ocarinas

naufragadas entre tubas


a orquestra é um mar no som de baile dos teus pés


II


regressas e tudo é instantâneo e demasiado


então sobressaltas os meus dias em sons estranhos

perpassas entre música

branda visitante das pachorrentas horas

na digestão do tempo


ó voz de carne viva ó espírito das tranças de luz

abre um pouco as mãos dos violinos trágicos

com que despenhas rotas e dá-me

dessa água onde transmutas

o rictus em rito o nunca em ritual e o sempre

não assusta e é meta alcançável

num golpe das imaginativas cadências

percurssões ritmadas perfurando

em alternâncias lúbricas o perfume dos trópicos da música


III


tu continuas a dançar no imponderável do espaço

esvoaças e tudo cai mais mansamente ou se eleva

nas inabituais dimensões onde navegar

é o mais certo termo e viagem não é já

caminho para a decepção


tudo me é tão leve de ti


por isso mesmo o grito se me chega

e a inércia esvai-se nesta música


meu amor te digo e tenho nas palavras

o sabor de ervas bravas

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