Sim, eu estive lá!
Há coisas que marcam a nossa vida para sempre. De umas, revivendo-as, só nos apercebemos muito tempo depois de acontecerem. Outras mostram-nos logo que estamos a viver um momento especial, assim como se dobrássemos uma esquina. Ambas determinam circunstâncias de fronteira, nódulos onde os nossos destinos se fazem caminho.
Um destes momentos aconteceu no Domingo, 14 de Dezembro, na Cidade Universitária. Sim, eu estive lá! Percorri os vários seminários, detendo-me, sobretudo, nos de Educação e Trabalho. Valeu a pena! Percebi, ouvindo os diversos locutores, que há gente de qualidade a pensar esta Democracia, aparentemente anémica, na realidade, plena de valores esperando apenas que a hora chegue, que o momento se perfaça.
O momento parece chegado!
Quase finda a grande bebedeira neoliberal, exangue a sua economia, falhados os seus pressupostos, oferecendo um futuro trágico e sem propostas onde só espreitam ameaças sombrias para a maior parte dos povos, concitam-se as vozes que se hão-de opor, firme e claramente, ao pré-anunciado cataclismo destruidor de todas as esperanças. Nesse dia, a Faculdade de Letras, primeiro, e a Aula Magna, depois, foram a casa das Esquerdas. Desunidas, quase sempre, rezingonas muitas vezes - diz-se que por natureza - encontraram-se em pleno processo de fraternidade, luminosas na descoberta da força das suas razões e das suas gentes.
Apesar de empolgante o encerramento do Fórum das Esquerdas, na Aula Magna, foi somente o corolário de uma circulação de pessoas e ideias que, todo o dia, fervilhou, em troca intensa, entre os muitos participantes. Percebe-se, por isso, o incómodo generalizado que atacou tantas pessoas e instituições. Umas porque sentem que este movimento ameaça o “status quo” onde se instalaram com algum conforto, outras porque, desviadas da acção que lhe caberia cumprem mandatos que não convêm aos ideários que dizem professar. Por isso se falou em Educação, Economia, Trabalho, Cidades e Saúde numa perspectiva integradora dos direitos e bem-estar das populações, criticando-se soluções estreitamente viradas para o interesse de minorias que, com a crise, foram claramente desmascaradas na sua acção de, enriquecendo, empobrecer o país e as nações.
Da fertilidade das intervenções havidas sobrou, para o exterior, a excessiva simplificação de se pressupor o nascimento de um novo partido político. Não sendo de excluir esta hipótese, aqueles que tanto a acentuam, não perceberam ainda que a força que se congrega procura mais que a ocupação de lugares nos órgão de governo. Que se prepara para se assumir como poder é verdade e é direito que lhe cabe. Mas como foi dito, por todos os participantes, o importante é seguir o processo de estudo, aprofundamentos de ideias e de organização que provoque o advento de teses capazes de inverter o rumo das sociedades, aqui e agora, visando um mundo socialmente mais equitativo e com maiores liberdades individuais. Só enquanto meio para atingir este desiderato o mando é importante. Não nos interessa o poder pelo poder, nem pelas negociatas que nele se fazem e depois dele continuam. A promiscuidade entre governos e grupos económico-financeiros, com especial força destes últimos, provocou danos profundos no tecido moral e económico da Nação. A continuidade de tal estado de coisas só tenderá a aprofundar as crises e a conduzir-nos para o abismo. Veja-se como o Capital Financeiro subverteu, de imediato, a função dos apoios que os governos lhe concederam para ajudar a economia real. Fizeram chegar às empresas os fundos libertados? Não senhor! Capitalizaram-nos de imediato, congelando a circulação financeira e aprofundando a crise.
Dizem quase todos os analistas que estamos a mudar de paradigma. Também acho e, como eles, não sei para onde as coisas se dirigem. O que sei é que não quero ficar como espectador impotente a ver tudo a derruir sem modo de sobre elas actuar. Pretendo ter um papel activo na condução da minha vida e do meu tempo. E, sei, não estou sozinho. O dia 14 veio reafirmar isto plenamente.
Vamos portanto agarrar nas nossas mãos os destinos que são nossos e sabendo de fonte certa que temos razão e força, conseguir a implementação de políticas sociais justas. Deixemos de, em nome do Socialismo, transportar o pesado pendão das direitas. Eles que o defendam e carreguem. É o seu papel. O nosso é que é bem diferente.
Para tal se alcançar basta que o espírito do Fórum das Esquerdas permaneça e se alargue. O resto, seja lá ele o que for, virá por si.
Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt
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