novas histórias de penélope - polifemo
hoje ulisses embarcou
num ovni
a caminho da estranheza
apegada à terra
penélope circunda os espaços
na procura da fronteira
dos abraços
ulisses tem
uma nave um caminho
e penélope a firmeza de um carinho
só concebido em votos
mas real
se ulisses é o percurso
o por fazer
penélope é o porto da certeza
de uma imensa forma
de estar
ulisses passa mal
agoniza no tempo
penélope tece o seu momento
a sua calma forma
de aguardar
o mar é um espaço
um fosso um tormento
que há que navegar
de repente a ilha
o asteróide surge
na proa enloquecida
sabe ulisses então
que viverá ali
um tempo já vivido
de polifemo o gado pasta lá
e a fome de ulisses repentina
aguça-lhe o engenho e vá não vá
toca de dizimar a raça ovina
polifemo está só
no seu disforme corpo
no seu olho solitário e transviado
roda a saudade como dura mó
suavizada apenas pelo cuidado
que em desvelos ao seu rebanho
dá
polifemo disforme é generoso
e percebe um filho seu em cada anho
polifemo está só
que galateia por ácis o trocou
e partiram para a morte bem juntinhos
no sonho que os tocou
em vão polifemo
tenta esquecer
o amor que ele mesmo
fez morrer
ulisses o sozinho não apreende
em polifemo o companheiro
a quem a solidão mais dura ofende
e contra a sua nave
o seu ribeiro
trocaria de boa-mente o polifemo
o seu rebanho inteiro
desesperado
ulisses sem razão
mata a esmo
procura na carnagem a vingança
para o não regresso
a cruel tardança
em que lhe tarda a volta
e a esperança
aparelha a nave e quer partir
nada escuta e num olhar
tresvairado pelo soco do a vir
fixa a muda nave em rota estelar
e deixa o gigante
sem nenhum rebanho para cuidar
ai do cego ciclope
corpo disforme
sempre a recordar
onde o apagado olho
já não brilha
como farol do tempo
fogo enorme
onde a nave de ulisses
te deixa sempre só
na tua ilha
ele por si tem o seu curso
percorre a aventura
e se não encontra aqui
o que procura
pode sempre ir mais longe procurar
e tu que de galateia
o eco só tiveste
estarás sempre mais só
sempre mais triste
porque quanto tu tiveres
será roubado
no espaço cego
polifemo chora
a morte do seu gado
Sem comentários:
Enviar um comentário