tag:blogger.com,1999:blog-171019472024-03-07T23:49:42.825+01:00Sacanas e SentimentaisLiteratura, intervenção cívica e o mais que vier.Fernanda Afonsohttp://www.blogger.com/profile/13955733695748663379noreply@blogger.comBlogger253125tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-53983423400469200332011-08-17T02:23:00.001+00:002011-08-17T02:30:11.156+00:00Mudança de localização<div><strong></strong>ESTE BLOG FOI MUDADO PARA:<br /><br />http://sacanasesentimentais.blogs.sapo.pt<br /><strong></strong><br /><br />Desculpem o incómodo.</div>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-82072203236921067252011-04-29T19:55:00.003+01:002011-05-01T19:15:51.897+01:00A revolta do manso<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXqjO00uhbcz_0WQseWHZ5Ke0Hno1ayjpEJboayfq88iCUufhYXENao76PXueQeruE_f3zeuMEAtg8YcIyH-SImmW3aaecRDFU4a4Fl_Zxjwh0jNNgibV4EPZ9kQLdxv5ZNhknOg/s1600/touro.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 180px; height: 144px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXqjO00uhbcz_0WQseWHZ5Ke0Hno1ayjpEJboayfq88iCUufhYXENao76PXueQeruE_f3zeuMEAtg8YcIyH-SImmW3aaecRDFU4a4Fl_Zxjwh0jNNgibV4EPZ9kQLdxv5ZNhknOg/s400/touro.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5601085071212266658" /></a><br /><br /><br /><br />Certo, certo é que vamos todos ficar mais pobres. Quero dizer todos quantos trabalham para o Estado, são reformados e de modo menos direto aqueles que laboram nas empresas privadas. Isto é, a maioria da população. O número de pobres abaixo da linha de miséria crescerá geometricamente, conforme forem falindo as pequenas empresas e o tecido social tenderá para a rotura. Entretanto os bancos farão lucros maiores e as grandes empresas privadas e a privatizar, apresentarão dividendos imorais a distribuir por meia dúzia de acionistas cada vez mais ricos, cada vez mais distanciados do povo e dos interesses da nação. Com o aumento da desigualdade económica a classe média, sustento habitual das democracias, perderá peso e importância e as decisões estratégicas passarão a ser tomadas por corporações oligárquicas que as ditarão aos “governos legítimos”, sempre mais serventuários da ideologia do lucro, os quais, com respaldo nas forças públicas, as imporão violentamente à sociedade. É claro que este clima levará ao aparecimento de células de resistência as quais, igualmente violentas, responderão taco a taco às forças <em>“legais</em>”. O crescimento da pobreza, o despudorado aumento de riquezas ofensivas, a repressão medrante, a fraqueza governamental, será campo fértil para o aparecimento de geografias autoritárias sobre o território. Assim, senhores, desceremos paulatinamente as escadas do inferno.<br /><br />Os seus porteiros já aí estão! Vieram, como convém, de fatos e óculos escuros. Os fatos por, lá no íntimo, se reconhecerem como coveiros de povos, os óculos para cortar a reverberação deste sol exótico, quase tropical, que leva os indígenas à moleza e à dívida. Esquisito, esquisito é que o FMI, impoluto defensor do pagamento atempado dos créditos bancários e promitente executor de ajudas aberrantes, até veio disfarçado de PIDE bom! Calculem que, ao invés das instituições europeias que querem ver amochar os PIG’s – e só pela sigla se vê a consideração que eles têm pelos europeus periféricos – e pretendem castigá-los pelo mau uso da economia local e dos fundos, a seu tempo enviados e, alguns, nunca se soube com clareza, desviados. Com ar cândido reflete um dos chefes das missões só observar faturas de auto estradas e não ver nada para investimento produtivo. Hipocrisia, é o que é! Então não foi a Europa, na sua distribuição internacional do trabalho que decidiu que em Portugal se aniquilariam pescas e agricultura – calculem que até quiseram que arrancássemos as nossas vinhas para os alemães poderem por no mercado vinho a martelo – defendendo que, como estávamos atrasados na produção competitiva mais valia dedicarmo-nos aos serviços, vide, turismo. Por isso, em vez de infraestruturas industriais os nosso governos fizeram aquiescentes, hotéis e autoestradas para completa satisfação da Europa rica. Lixámo-nos, pronto!<br /><br />Agora, os mesmos que nos designaram o caminho vêm, muito judiciosa e atempadamente, reprovar o destino dos planos de desenvolvimento, sabiamente esquecidos das suas fortes indicações e implicação.<br /><br />Mas são só eles os culpados? Claro que não. As nossas governações e dirigentes empresariais receberam os pecúlios e, com ou sem proveito próprio, isso agora é secundário, nos meteram neste círculo vicioso, andam atarefados a passar-se mutuamente as culpas. Ao ouvir os discursos oficiais ficamos com a sensação de que uns não têm estado cá, que outros só nos últimos quinze dias é que se aperceberam – por maldade pura das oposições – que o <em>"deficit"</em> e a dívida tinham, certamente por ocultismo e outras artes mágicas, chegado a altíssimos e incomportáveis montantes. Sendo as nossas governações (todas) alheias ao fenómeno fica-nos então a certeza da existência de poderes sobrenaturais, trabalhando na sombra, para destruir as intenções e trabalho de tão honestos e desinteressados servidores públicos. Tenham tento e vergonha na cara!<br /><br />O FMI, e quejandos, estão aí, agora de viva presença porque, como o Senhor, sempre esteve entre nós e traz-nos o atestado de irresponsabilidade e incompetência com que a Europa nos distinguiu. Montaram um espetáculo circense de ouvidores públicos esperando apenas ouvir a concordância com a receita que já trazem passada. Não tenham ilusões! Nada do que aqui lhes seja dito poderá mudar seja o que for. Estas negociações são como as sentenças dos antigos tribunais plenários cujas estavam ditadas antes de começar a audiência. Já conhecemos isto e, lidos os sintomas, percebemos caminhar para uma ditadura financeira com máscara de democracia representativa. Os órgão de decisão são agora as agências de “rating” – na posse de financeiros interessados no colapso do euro e das nações – as bolsas e os fundos financeiros. Tudo o mais é conversa. Sabem que com esta coisa da desregulamentação financeira até é possível fazer um seguro contra a perda de valor de ações de empresas, de que não possuo uma única ação, ou de dívidas de países soberanos das quais não tenho qualquer título? Como ouvi bem explicado é como comprar um seguro contra incêndio de uma casa que não é minha. O meu interesse será portanto que a casa arda ou que a economia do país se desmorone. Assim, posso recobrar com lucro, o dinheiro que investi no seguro. Não é este um admirável mundo novo?<br /><br />Por isso aqui fica o desinteressado aviso: o caminho que estão a tomar é muito perigoso. Tomem atenção ao que poderá vir a acontecer quando o povo, até agora manso e acabrunhado, entrar em desespero e revolta. É terrível a revolta do manso!<br /><br /><br /><em><strong>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong></em><br /><br />Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-16789197905850651482011-04-05T14:54:00.002+01:002011-04-05T14:57:28.649+01:00Vejam bem…<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf7kUrIbij98UpSdr5ixyEviMoNhPgkI25sWqVreV4MagbJzHZUjL50wqni_TBF7jEbO6q0OqOLGSUf-nIK9piHjUX1V8UpyoXNEEMcjIV8tHEZYI2xkElOdELfsFawJBysqESjw/s1600/gaivota.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 225px; height: 225px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf7kUrIbij98UpSdr5ixyEviMoNhPgkI25sWqVreV4MagbJzHZUjL50wqni_TBF7jEbO6q0OqOLGSUf-nIK9piHjUX1V8UpyoXNEEMcjIV8tHEZYI2xkElOdELfsFawJBysqESjw/s400/gaivota.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5592098245682271586" /></a><br /><br /><br /><em>(Vejam bem<br />que não há só gaivotas em terra<br />quando um homem se põe a pensar…<br /> José Afonso)</em><br /><br /><br /><br /><br />Todos ouvimos os senhores do capital a rezarem furiosos, nas suas catedrais de comunicação, em presença ou através dos diáconos a que apelidam de comentadores – sempre os mesmos e sempre com o mesmo discurso – pela descida do Santo FMI dos céus à Terra. E fazem bem! Porque eles, ao contrário de nós, conhecem bem as coisas que os servem e lhes interessam e, precavidos ulisses, não se deixam dominar por cantos de sereias. Não são estúpidos e sabem muito bem o que essas melopeias valem, porque são eles que as ordenam.<br /><br />Observemos, então!<br /><br />A Grécia, obediente e culpada de mau governo e contas fraudulentas, foi a primeira a submeter-se às drásticas medidas do Fundo. Como é hábito, dentro da coerência neoliberal que o fundamenta, mandou cortes violentos nos salários, nas reformas, no acesso ao crédito, nas prestações sociais e por aí fora. Tudo sacrifícios enormes, suportados pela população, com reiteradas promessas de que o objetivo desta penitência seria a felicidade comum a curto prazo. Azar! Atrás de sacrifícios vêm sacrifícios e o caminho para a degradação de padrões de vida não para.<br /><br />A Irlanda, a aluna aplicada, que fez do credo liberal o seu modo de vida, após efémero sucesso viu a bolha bancária explodir e, em consequência instalou-se a miséria, causando, de novo, ondas de emigração como já não amargavam há décadas. Claro, obedeceu ao FMI, fez cair o governo, aplicou as dolorosas medidas e vai piorando dia a dia.<br /><br />Em Portugal o governo PS opôs-se, no discurso, valorosamente com inaudita coragem (são eles quem o afirma) à entrada do FMI. Que não, seria uma vergonha nacional, onde ficaria a honra da Pátria? Na prática, às prestações, PEC após PEC, aplicava a receita consagrada, para aplacar os mercados e a cada aplacação, os juros aumentavam, a pressão não diminuía, as exigências cresciam em proporção geométrica. Mas o governo não via nada disto. Famílias inteiras no desemprego, sem auxílios sociais, caindo velozmente na maior miséria não existiam no universo virtual onde os nossos ministros pairavam. No lugar de agora, sob a égide de Sócrates, vivia-se no melhor dos mundos.<br /><br />Como a realidade não se compadece com cegueiras coletivas, ao PEC IV, o abcesso rebentou. Aqui d’el-rei que os mercados isto, que os mercados aquilo, agora é que vão ser elas. A irresponsabilidade campeia. A mim o dilúvio! Os mercados, tal como anteriormente, continuaram no mesmo caminho a pressionar e a aumentar os juros. Mas o governo esqueceu os aumentos anteriores. Ficou obcecado pelo seu derrube, usou a borracha, e propagandeou que todo o mal veio ao mundo após este pecado original. Primeiro-ministro, ministros, sicários, propagandeadores e quantos “boys” foram providos de proventos, vêm à praça, na grande imprecação dos seus sonhos de poder desfeitos. Nada lhes interessando os sonhos de vida de milhares já acabados, repetem, até à náusea, a ladainha da vitimização, incapazes de olharem, mesmo que brevemente, as imensas culpas que lhes cabem.<br /><br />O PSD e o CDS, cansados de esperar pelo seu bocado, coerente com os credos capitalistas que fazem seus, não têm paciência para os socalcos do socialismo de Sócrates e querem maior rapidez e profundidade nas medidas. Isso, porém, para não perder votos, só executadas por força exterior. Então que venha o FMI e já! Pobres tresloucados. Não percebem que serão os primeiros a perecer perante o maremoto. É que, como se pode ver pelos exemplos anteriores, ao Fundo apenas interessa garantir o pagamento da dívida aos seus patrões. São capatazes dos especuladores financeiros que, para seu provento próprio e egoísta, na sua ganância sem limites, não se importam de levar as nações à guerra nem os povos à miséria, desde que tal traga lucros. É para este belo panorama que o futuro e requerido governo maioritário ou de coligação nos quer levar. Nem mais!<br /><br />Entretanto, a pequena Islândia, farta de engordar gulosos, pôs-lhes um forte freio. Pagar a dívida, sim, mas à distância. Querem-na saldada em oito anos? Impossível sem dessa forma se condenar o povo a pagar dolorosamente um crime que não cometeu. Pagamos em trinta anos! É pegar ou largar! Sem outro remédio perante tanta determinação, os abutres tiveram de pegar. Quem levou o país ao descalabros? Os políticos e os banqueiros. Então julguem-se e façam-nos pagar a crise em que nos lançaram. Ontem, 4 de abril, foi passado mandato de prisão para o primeiro banqueiro julgado por tais delitos.<br /><br /> Há, como se vê, outras formas de reagir à desdita. Demonstram-nos eles que, além das medidas canónicas, estabelecidas pelos criadores da crise e ainda em seu próprio proveito, existem alternativas de que nos tentam desviar. Falta aprendermos a lição e começar a pensar.<br /><br />Na próxima sexta-feira, o Bloco de Esquerda e o PCP, finalmente, decidiram marcar um encontro. Não sei se será tarde ou se tal reunião renderá frutos, mas é uma esperança que não se pode deixar de lado. Será, talvez, assim o espero, o início de uma verdadeira alternativa a esta política de vampiros que nos amarra e voluntariamente nos cega para as verdadeiras oportunidades. Vamos ficar a ver, torcendo para que a inteligência vença o preconceito e a verdade se imponha à mentira em que os mandantes nos têm trazido.<br /><br />Ah! Muito importante. Hoje, a Europa, certamente muito preocupada com a fome que grassa entre os seus milhões de pobres, publicou um estudo e recomendações sobre os hábitos tabagistas dos cidadãos! Mesmo adequado à situação e muito a propósito!<br /><br /><br /><em><strong>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong></em>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-18539271276239104512011-03-31T18:17:00.001+00:002011-03-31T18:19:24.820+00:00Ora agora corto eu, ora agora cortas tu!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6Ujphe4ynr5nJ56GT2TerrDThpNJKvRlF73SKBhH_sT1x9DrybuOVs7QYoUQndaXA9a_SCeJYZANqkZVgZGg-JaoC2WlM7Fz9UlG8Iu9GZlBJpSR631U5OR148IKUAr2XU1gODw/s1600/vaca.bmp"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 273px; height: 185px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6Ujphe4ynr5nJ56GT2TerrDThpNJKvRlF73SKBhH_sT1x9DrybuOVs7QYoUQndaXA9a_SCeJYZANqkZVgZGg-JaoC2WlM7Fz9UlG8Iu9GZlBJpSR631U5OR148IKUAr2XU1gODw/s400/vaca.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5590310333018888450" /></a><br /><br /><br />Ninguém discute que o destino natural das vaquinhas é pastarem num prado verde, comerem ração num estábulo e serem ordenhadas para fornecerem de leite as sociedades humanas. É assim desde há muito, irá continuar a ser, mas, ao contrário do que se pensa, nada há de natural neste destino. As queridas vaquinhas são uma perversão da natureza a tal obrigadas pelos homens. Foram transformadas de seres naturais em produtoras industrializadas, retirando-lhe os meios inatos de vida e pondo-as na dependência extrema dos humanos. De tal modo que agora, sem eles, feneceriam de forma horrorosa.<br /><br />Também, quando olhamos para a nossa agremiação e para as medidas que os nossos governos vêm tomando, há para cima de três décadas, não poderemos ver-nos senão como dóceis vaquinhas do fisco, isto é, do Estado ou melhor de quantos no Estado fazem dele o estábulo onde mungem, até à secura, as suas vaquinhas. As quais, repito para os distraídos, somos nozinhos mesmos e inteirinhos!<br /><br />Passada a euforia da queda de Sócrates - mesmo que ele a tenha pretendido, vê-lo cair, sabendo quanto tal estratégia faz doer o seu egocentrismo primário, não deixa de valer bem três vinténs, na aceção daquele velho ditado de que”vale mais um gosto que três vinténs” – vemo-nos de novo confrontados com o que há a fazer para que este povo não caia na mais desolada miséria para onde, a cortes rápidos de meios de vida, ardorosamente, é encaminhado.<br /><br />Olhando para o espectro político, para o cada vez maior desinteresse pela política clássica revelado pelos nossos concidadãos, somos levados a concluir que com estes partidos (tal como estão) não se irá muito longe. São por demais velhos, cheios de artroses que o tempo lhes infligiu e demonstram extrema incapacidade não só em se reformularem, como em perceberem que, para sobreviver, terão de passar por uma mudança substancial. Parafraseando e adaptando à situação uns versos do meu falecido amigo António Monginho, digo:” os rapazes da minha geração estão todos mortos, eles é que ainda não sabem”. Idem, aspas, aspas, para os partidos. Adormecidos nas suas querelas inter e intra partidárias, aos poucos se fenecem, sem uma palavra atuante e atual para os factos com que este mundo nos vai paulatinamente defrontando. Da direita dos interesses à desinteressante esquerda - sempre mergulhada em divisões de purismos ideológicos que impedem a sua atuação eficaz num mundo para o qual os purismos são devaneios académicos que ficam bem nas estantes, mas que não colocam uma fatia de pão nas mãos de quem tem fome – o horizonte que nos é permitido é o das baias do estábulo onde a ração não abunda, cada vez é mais rateada, e não conseguimos ver outra coisa além dos limites deste pequeno horizonte permitido.<br /><br />Mas sabemos, pelo menos alguns de nós sabem, que tal horizonte é mentira. Que as soluções únicas apenas o são por interessarem a quem de “direito” e que toda a cena social é montada de molde a que ninguém possa ver além dos antolhos que lhes são colocados. Por isso os que sabem são expurgados, vilipendiados, humilhados, para que desistam, para que se calem, para que não denunciem. É esta a eterna luta dos contrários e a dinâmica da vida, das sociedades, do universo. Caos, ordem, crescimento, apogeu, decadência e de novo caos para início de um novo ciclo. Adivinhem em que estádio está a nossa sociedade. Vale um doce para quem acertar.<br /><br />Por isso, PS, PSD, agências de “rating”, FMI etc., etc., etc., não são mais que epifenómenos deste movimento que ou ultrapassamos ou nos fará perecer. A geração “à rasca”, por motivos vários, é a mais qualificada e melhor preparada dos últimos anos. Começa a mover-se e tem gente para tal movimento. Serão eles, quando tomarem as rédeas, que, eventualmente, permitirão acabar esta modinha do vai cortando e que nenhum governo velho ou novo, obnubilado e imerso neste paradigma, será capaz de alterar. Até lá, caros companheiros de infortúnio, apertem os cintos e peçam que os instrumentos de ordenha não sejam por demais dolorosos, sabendo que esta gente que nos governa ou quer governar, de nós apenas pretende o úbere pronto para mais uma ordenha mesmo que, por exaustão, seja apenas sangue o que nos sugam.<br /><br /><br /><em><strong>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong></em>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-89365746809886722742011-03-20T18:46:00.001+00:002011-03-20T18:46:06.956+00:00Lua Cheia<p><b></b></p> <p> </p> <p> </p> <p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJga2Ok7sQAKQKdoKwbX-Zp42qSPiMN-kPBVGRd8JmRaSzaL5auymCQViPn28LUafa_SFoXKBFIF21CgNe83vE-ZJ0AuVJMKvmYY6oT2kkbfW52K3D_S1pLSyW3Slcjr2wFovKYg/s1600-h/lua%20cheia%5B2%5D.jpg"><img style="background-image: none; border-bottom: 0px; border-left: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; display: inline; border-top: 0px; border-right: 0px; padding-top: 0px" title="lua cheia" border="0" alt="lua cheia" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7KyK-PihmUjceXLwIJA8C9JA8DGKH5MNoDnJ54bSsF3RtXeH5FY9qakGPGBRTQl6CUYp5ywBL7xRUOVt01cniql4Xgid-Ah87NgFn4fBRjYKz5i87c1XlsthVYkVrwHutywYqjA/?imgmax=800" width="244" height="212" /></a></p> <p> </p> <p>Ontem, 19 de março de 2011, quase início do equinócio da primavera, dia, também, do maior plenilúnio dos últimos não sei quantos anos, a coligação ocidental abriu as hostilidades aéreas contra a Líbia.</p> <p>É minha firme convicção, passe embora a subtil lapalissada dos termos, que não se pode julgar do mesmo modo o que em si é diferente. Por isso, entre o receio dos males que possam vir a produzir-se e o conhecimento do que aconteceu e está a acontecer no Afeganistão e Iraque, eu esperava ansiosamente que a resolução da ONU fosse tomada e acatada. Pode parecer incongruência mas eu explico.</p> <p>O senhor Kadhafi foi, até há uns anos, indubitavelmente, um dos senhores do eixo do mal. Subsidiava terroristas e acometia alvos civis como forma de luta dita de libertação de qualquer coisa. Por estas ações chegou mesmo a ser bombardeado, no seu palácio, pelos aviões de Clinton. Era, para todos os efeitos, considerado um déspota, um ditador e um ser que não respeitava nada nem ninguém. Depois, pelos milagres que podem fazer o dinheiro e o petróleo, este ser esquisito, comprou a respeitabilidade e conseguiu até, retirar da justiça inglesa, o condenado pelo despenhamento do avião inglês em Locherbie. Como diria Pessoa, malhas que o império tece…</p> <p>Senti-me humilhado quando, convidado a vir a Portugal, todas as impertinências foram permitidas a este ser odioso que passou a sua repugnante figura, em desmedida altivez, perante o olhar bacoco dos nossos governantes, reduzidos a serventes do querer da personagem. Foi pouco dignificante e esteve ao melhor nível de Sócrates.</p> <p>Depois, com o vento libertário que corre o norte de África as nossas democracias, e quase todos nós, desconfiados embora com a fartura e expectantes sobre os caminhos que cada uma das sublevações poderia tomar, vibrámos com a queda de qualquer ditador e sentimos que a história se construía sob os nossos olhos, numa aceleração que poucos, até aí, concebiam ou desconfiavam. O mundo entrou em delírio e toda a gente falava no efeito dominó. Uns ditadores fugiram, outros soçobravam por falta de apoio das forças armadas e, outros ainda, iniciaram o massacre dos povos que, nas praças, reclamavam os direitos de liberdade e alguma igualdade. Na Líbia, o feroz Kadhafi decidiu afrontar o seu povo. Para tanto utilizou a sua guarda bem armada e contratou mercenários para reconquistar o terreno que os revoltosos tinham ocupado. Passámos a assistir a um combate desigual onde às armas ligeiras se respondia com artilharia e aviação (lembram-se da Palestina?). O ditador oferecia a morte indiscriminada e massiva ao seu “adorado povo”, pelo qual, via-se, nutria o mais profundo desprezo, servindo-lhe apenas para satisfazer os seus caprichos.</p> <p>Sentia-se ser necessário pôr um travão ao homem e não deixar que a sua psicopatia avermelhasse, com sangue, o mel das areias do deserto. Não respondeu a avisos e continuou desafiante o processo de liquidação dos seus adversários. Mesmo quando recebeu o ultimato, ao melhor nível das verdades governamentais, informou o mundo que tinha mandado cessar-fogo quando, na realidade, acentuou o volume dos ataques. Por isso, ao ver como a resistência em Bengasi soçobrava perante a vaga atacante, vencendo velhos receios e preconceitos, ansiava pela instauração da zona de interdição aérea aos aviões líbios.</p> <p>Colocava-me, nesta posição, em confronto direto com muitos amigos que, sugestionados pelas invasões já referidas, pensavam que se tratava de um assunto interno e que não deveria, portanto, consentir-se num ato que seria mais uma invasão a um país do petróleo.</p> <p>É aqui que a diferença se mostra. Para além de não estar prevista nenhuma ocupação terrestre tratava-se, tão-somente, de eliminar a possibilidade de ataques aéreos e de artilharia pesada contra cidades. Nós tínhamos a obrigação moral de não permitir a matança que se adivinhava. Não só porque, no entusiasmo libertário, os conduzimos àquela situação, mas porque as próprias leis, aceites por todas as nações com lugar na ONU, não permitiam que, havendo meios, não se fizesse a proteção das populações em risco.</p> <p>Sei muito bem, não sou assim tão ingénuo, que se não houvesse petróleo em jogo estas ações teriam sido postergadas até que a liquidação do movimento libertário as tivesse tornado inúteis. Estivemos quase lá, mas a antevisão da necessidade de mais combustível nos mercados, agora que o nuclear vai entrar durante algum tempo em recessão, levou os habituais estrategas do não se faz a pensar de modo distinto. E pronto, ao contrário do que se passa com o Darfur e outras zonas sem o mal cheiroso líquido que faz andar o mundo, a intervenção começou. Por um lado fiquei aliviado porque muitas vidas inocentes serão poupadas e, possivelmente, o ditador poderá ter os seus dias de prepotência e arrogância contados. Por outro, assusta-me a voracidade francesa e o pensamento de que o senhor Sarkozy esteja a ver a possibilidade de reiniciar o velho sonho da direita francesa: voltar a ter um império.</p> <p>Sou pois a favor, não desconhecendo os perigos, da intervenção limitada das forças da ONU na Líbia onde, ontem, para os meninos de Tripoli e Bengasi, passou, certamente despercebido o fenómeno lunar que nos encantou. Creio aliás que, escondidos no interior das casas e bunkers, ou ofuscados pela luz dos rebentamentos de mísseis, o fenómeno tenha sido não só invisível, como completamente irrelevante.</p> <p>E, sinceramente, apoiando sem rebuço esta intervenção contida, tenho pena. Tenho mesmo muita pena pela sua absoluta necessidade.</p> <p> </p> <p><i><strong>Publicado in “Rostos on line” – </strong></i><a href="http://rostos.pt"><i><strong>http://rostos.pt</strong></i></a></p> Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-37767514495209859012011-03-11T20:29:00.001+00:002011-03-11T20:31:20.131+00:00Crápulas!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6KCSuTM-lvuS_Mtfqg2fTzoP4XIluUAV9soWEpWqofPWF7SQ7fLZ4NtI2HunvtrkATIbnm8tLEGhy8LnH7VI3aNWsKdwrANfyld6QHpEsr9aPVoz8HVzd610XSLAPdfm391YI5g/s1600/%25C3%25A1rasca.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 275px; height: 183px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6KCSuTM-lvuS_Mtfqg2fTzoP4XIluUAV9soWEpWqofPWF7SQ7fLZ4NtI2HunvtrkATIbnm8tLEGhy8LnH7VI3aNWsKdwrANfyld6QHpEsr9aPVoz8HVzd610XSLAPdfm391YI5g/s400/%25C3%25A1rasca.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5582922643951509810" /></a><br /><br />A gente sempre soube que os governantes raramente são de confiança. Começam todos por jurar só pensarem no bem do povo e acabam, invariavelmente, por cuidar apenas dos próprios benefícios, contra os interesses da maioria, marimbando-se completamente para os efeitos nefastos que possam trazer à vida de todos os outros. É um fado de que não conseguimos livrar-nos e que, com maior ou menor azedume, lá vamos acompanhando, à miséria e ao desespero, em tom de ré menor. Mas sempre em desgarrado desalento! Por mais voltas que se dê e por melhor que sejam as palavras e mais brilhantes os oradores, será sempre altamente deficitária a posterior correspondência com os atos.<br /><br />Desabafava assim o Belegário hoje, pela manhã, quando me encontrou calmamente tomando o café que me haveria de despertar para o dia. Tinha só beberricado um diminuto golinho quando ele desabou sobre mim não estando, portanto, capaz de desfazer o embrulho em que a sua torrente de palavras me submergiu.<br /><br />Ainda bem que apareces, disse, tentando recompor-me. Não te via há muito tempo e ainda na semana passada um amigo, no almoço da tertúlia, perguntou-me por onda andarias tu. Já estava com saudades do teu mau génio. Mau génio, o tanas, replicou. Como é que se pode andar contente neste pardieiro de país. São só palavras de palavras e atos, quando os há, são precisamente o contrário daquilo que se anuncia ou se comenta. É uma súcia de patifes, de burlões, todos a correr para o tacho, todos a ver quem melhor se amanha e, o que é pior, é que a desvergonha vai tão açulada que já nem sequer procuram disfarçar a avidez com que “vão ao pote”.É isto que para eles é conquistar o poder. Beber no cântaro até fartar e de preferência mantê-lo num lugar recatado onde ninguém mais, fora do grupo, possa chegar-lhe. Corja!<br /><br /> O Belegário, muito portuguesmente, cuspiu para o lado numa onda de nojo pela política e de alívio do catarro.<br /><br />Sabes, placou-me depois de aclarada a voz, hoje, ao acordar, ouvi no noticiário, no rádio, que este miserável desgoverno nos ia aplicar mais uns cortes na segurança social, na saúde e nas reformas. Tudo em nosso benefício, claro! Por outro lado ontem ia despejando as tripas ao ouvir as medidas que os amigos convocados pelo PSD, para lhe darem ideias para o programa de governo, tiveram a lata de apresentar. Para além da novidade de não trazerem, na maior parte das propostas, novidade nenhuma, aquelas que apareceram bem podiam ser apresentadas numa rua escura por um bando de meliantes, de cara tapada e armas na mão, a assaltar transeuntes descuidados. Nem mais nem menos os fabianos sugeriam que, nas empresas privadas, fosse permitido diminuir os vencimentos dos trabalhadores e, como contrapartida, certamente para equilibrar, propunham que se aumentasse os vencimentos dos políticos. Está-se mesmo a ver que, antecipando a chegada ao poder, já estão com os tachos pretendidos em mira e, por mero espírito de sacrifício e serviço público, decidiram imolar-se, metendo mais umas notas no bolso, quando vierem a ocupá-los. Isto é, com certeza, para se mostrarem solidários com a abnegação que impõem aos outros e para os ensinar a não viverem acima das suas possibilidades. Desta forma, eles poderão gastar à tripa forra, alimentando-se com a nossa fome, mas, seguramente e dados os seus acrescidos proventos, livres do feio pecado, cometido por todos este povo de, por excesso de incauta avidez, viver acima das suas possibilidades.<br /><br />Estou farto, espumava o Belegário. Sinto-me espoliado nas esperanças, roubado no futuro, desesperado por não poder acreditar em ninguém e rebenta-me a cabeça no esforço de tentar perceber como poderemos livrar-nos desta canalha, destas hienas fedorentas que se alimentam da carniça causada por tantas medidas castradoras e injustas, impostas a jovens e velhos, enquanto assobiam para o lado e vão, por desmedida usurpação, condenando as forças da nação à deliquescência. São culpados em altíssimo grau de genocídio geracional. Não deixam vingar os novos e, por míngua e aflição, matam os velhos. Oxalá rebentem, de gangrena fiduciária, quando forem aos bancos buscar os proventos das aplicações de capitais roubados à população.<br /><br />Levado na sua onda de indignação o Belegário continuava a discorrer. Quero lá saber se o discurso do Presidente ataca ou defende o Governo. Isso é lá entre eles. Entendam-se! Eu bem vi, na campanha eleitoral, como a zanga das comadres lançava para o público parcelas de verdades inconvenientes. Mas parecia que ninguém ouvia. Pois se é tudo boa gente! Estão todos no poder por filantropia e inquebrantável amor ao povo. Ninguém vai para o poleiro porque isso lhe permite um salto qualitativo no estatuto social. Não senhor! É só desinteresse pessoal e vontade de construir um mundo melhor para os palermas que se levantam pela madrugada para vergarem as costas durante todo o dia. Também porque haviam de ter uma vida diferente? No fundo é só o que sabem fazer e do que gostam. Dá-se-lhes à noite um qualquer <em>big brother </em>e eles ficam felizes. Já não pensam em mais nada e estão prontos para a repetição de mais um dia de cansaço e desânimo. Para o mais têm o Benfica e Nossa Senhora de Fátima! Olha, rematou sem aviso, tenho andado muito quieto mas amanhã, já decidi, vou acompanhar o meu filho na manifestação Deolinda. Parvos é que eles não são e começam a despertar. Talvez venha esta geração a ser aquela que os vai pôr “à rasca”.<br /><br /><br /><em><strong>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong></em>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-67630156636701027792011-02-24T23:47:00.001+00:002011-02-24T23:48:41.012+00:00A casa do esquecimento<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4WKKHmQwf8KnBQJR1H9MtkEh0lXtAKeOg_VQS1YjQdZL6KSeTilgUgN6gL3Y3gZ8qpSH8g0qWkiwJ5uZ5ozLnQrmKuPX8PPTZfB0PyobPrghSvjFkA_xBqrdNzhwtwC8-Q3N7OQ/s1600/alzheimer.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 197px; height: 256px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4WKKHmQwf8KnBQJR1H9MtkEh0lXtAKeOg_VQS1YjQdZL6KSeTilgUgN6gL3Y3gZ8qpSH8g0qWkiwJ5uZ5ozLnQrmKuPX8PPTZfB0PyobPrghSvjFkA_xBqrdNzhwtwC8-Q3N7OQ/s400/alzheimer.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5577407203786445730" /></a><br /><br />Deambulam de lado para lado sem desígnio aparente. No entanto buscam algo que não sabemos, ou não sabemos se sabem. Percebe-se apenas a inquietude resultando nas idas sem destino para lado nenhum. Recolocam-nos nos lugares que lhes estão destinados para de novo, sem qualquer prenúncio, abalarem diretos a nada ou a todos os lados que a memória já não distingue e a vontade não nomeia. Param, por vezes, junto de ti e olham-te, sem ver, na busca de uma qualquer ideia de rosto ou de passado. Continuamos sem saber se procuram ou o que procuram. São perfeitos enigmas deslizando fantasmagoricamente para lado nenhum.<br /><br />Mesmo que sejas quem talvez eles queiram reconhecer não te percebem no olhar onde só nadam ausências. É estranho! É aflitivo!<br /><br />Por vezes pensas que te vão falar e, expectante esperas. Falso alarme. A boca pareceu querer mover-se, uma pequena centelha ardeu no olhar, o corpo esforçou-se para se abrir, mas nada. De novo a impotência e a solidão de um corpo que se desenha na incomunicabilidade. Tão sozinhos! Tão desamparados! Será que vêm? Que percebem? O que falha? Não sabem dizer-nos. Não sabemos distinguir. É um frio sem vento, um gelo sem água, um corpo quase sem amarras.<br /><br />A sua estranheza destrói todos quanto com eles convivem diariamente. Não nos reconhecem! Exigem, sem saber, cuidados constantes. Vive-se para eles vinte e quatro sobre vinte e quatro horas. Não sobra espaço para mais nada. Vampirizam, inconscientes, a vida de quem os rodeia.<br /><br />Sabes quem eu sou amor? Não sabem ou não sabem dizer que sabem. O desespero toma retrato nos olhos vagos, na, por vezes, doce demência da completa ausência. Parece não existir nada naqueles espíritos. Mas deverá existir, não é? A natureza, diz-se, tem horror ao vazio. Como existir para eles o tempo todo se nada dizem, ou sentem, ou transmitem? De novo o desespero. Onde guardá-los, a estes anjos deslizantes, se pouco sítios há para tal? E os custos do internamento sempre maiores que grandes? Volta o desespero a martelar os dias de quem com eles os vive. Mas não há nada a fazer? Que querem, não se pode chegar a tudo. Eles apenas incomodam os próximos, não é? Mas assim os próximos estão condenados ao inferno! Ora, o que se lhes há de fazer? Segue o discurso descomprometidos de pessoas, grupos e instituições a quem o problema toca de leve. A cruz é dos atingidos. É pena! Nada podemos fazer!<br /><br />Por isso, há poucos dias, um senhor na casa dos oitenta, com a esposa de idade próxima sofrendo de Alzheimer, estrangulou-a suicidando-se de seguida. A sociedade compungida pôs lutos de sofrimento, encolheu os ombros e seguiu em frente. E tu. E eu. Que vamos fazer? Provavelmente esperar até que a desgraça nos bata à porta e depois, rodeados de impossibilidades, usarmos as mãos com que nos amámos para, num derradeiro gesto de amor, encerrarmos as portas da casa do esquecimento.<br /><br /><em><strong>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong></em>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-35892301439464734482011-02-14T14:24:00.002+00:002011-02-14T14:29:35.327+00:00“Colossal irresponsabilidade”<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaftoW4HnVuM5VrKUyl_HXzgN7OaM8eXPLHZrwWI0In9qyCK1WSWeKCyLDrm9Zfn_vZ4ks_YK3nPjTtMjkJBdve2OKiEI8ZrmZ1QgdEeJkIRnJLZstFpuXOmoXKZuhzB24Z4sZJg/s1600/bispo.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 51px; height: 89px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaftoW4HnVuM5VrKUyl_HXzgN7OaM8eXPLHZrwWI0In9qyCK1WSWeKCyLDrm9Zfn_vZ4ks_YK3nPjTtMjkJBdve2OKiEI8ZrmZ1QgdEeJkIRnJLZstFpuXOmoXKZuhzB24Z4sZJg/s400/bispo.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5573552292373687874" /></a><br /><br /><br />Sento-me num desanimado desconforto. Não posso compactuar com a arrogância de um primeiro-ministro que recusa a um partido, por não ser do “arco governamental” – e aqui vejo a imagem de um retesado arco desferindo a flecha do poder no coração de quem quer que ouse expressar opiniões próprias distintas daquelas que lhe interessaria escutar – o direito de apresentar uma moção de censura, a qualquer tempo e do modo que lhe interesse, quando se sinta afrontado com os atos do poder, rotulando o exercício de tal direito como uma “colossal irresponsabilidade”.<br /><br />É esta insolência que me dispõe mal e me leva a, contrariando a corrente principal, apoiar, embora com alguma relutância, a declaração de intenções do Bloco de Esquerda produzida no quadro parlamentar que lhe é próprio e no momento que os seus órgãos decisores consideraram apropriado. Admito que não lhe agrade a chamada à realidade, retirando-o do mundo onírico onde vive - ou pelo menos, que nos quer impor - mas não tolero a deriva elitista e autoritária que tal posicionamento pressupõe.<br /><br />Embora, ao falar nestas coisas, me ocorram expressões como malhar em ferro frio e bater no ceguinho, não posso deixar de sentir a pressão dos muitos malefícios para o “nobre povo”, em que este governo tem sido pródigo, sempre apresentados como verdadeiros benefícios (do tipo o que arde é que cura) embora com efeitos positivos remetidos para prazo tão dilatado que tornam próximos os amanhãs que cantam. Já não há pachorra para o discurso triunfalista dos nossos governantes sempre a colidirem com o cada vez mais difícil dia a dia do Zé pagante. Para não esgotar a paciência dos nossos amigos deixem-me recordar apenas o aumento de lucro dos bancos com a concomitante descida da percentagem e volume de impostos pagos, contrastando com o facilitar e embaratecimento dos despedimentos. Claro, tudo em nome de aumento do nível de emprego e do bem do povo. Está-se mesmo a ver e, como se diz em “eseemeessês”: Lol!<br /><br />Declaro com toda a modéstia possível que se tivesse de decidir pelo Bloco, não apresentaria tal moção neste momento. Penso mesmo que esta declaração foi apressada e não terão sido bem ponderados os efeitos subsequentes. É uma opinião pessoal e não envolve nenhuma quebra de solidariedade com o projeto político do Bloco. Considero também ter a moção algumas virtualidades sistematicamente ignoradas. A primeira é a de quebrar a pacatez do charco onde as medidas económico-políticas se vão desenrolando. Alguém terá de fazer soar o alarme e informar os senhores do poder que mesmo podendo não ter forças suficientes para obstar à consumação das iniquidades que sofremos, não nos deixamos enrolar nos rodriguinhos do discurso oficial e estamos e estaremos sempre prontos para o denunciar, confrontando-o simplesmente com a realidade. A segunda é obrigar os partidos da direita, untuosos opositores das medidas do governo - não porque não lhes agradem mas sim porque não as consideram suficientemente profundas e rápidas - a saírem da posição de sagrada hipocrisia onde medram e a terem de, à luz do dia e de cara descoberta, ao votarem a moção, demonstrar, sem rebuços, de que lado estão e qual é a verdadeira face das suas políticas. Como isto não agrada a ninguém, do PS para a direita, desconfio que haverá algo de positivo a nascer desta ação.<br /><br />Aos fáceis acusadores de possíveis ineficácias, ou irresponsabilidades, desta causa, advirto para que não se peça, a quem tem uma fisga, que dispare um canhão. Será de maior justiça e inteligência verificar se a fisgada atingiu ou não o alvo. Pelas reações apaixonadas parece que, apesar de tudo, David contínua a acertar em Golias. Pelo menos no sentido em que Manuel Alegre (em quem não votei) diz: “Eu vim para incomodar”!<br /><br />Isto, no momento que corre, é já em si, bastante!<br /><br /><br /><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-89142702138689662282011-02-12T00:28:00.002+00:002011-02-12T00:31:44.868+00:00balada para a destruição dos monstros<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgulF0t6FVtUW_SenQYE47D5YA3FyiU-x-FDopejkcMFon8IwAVMu4IADMClSfqzsNE-vwEbp8kDal9yBACjfHtMKPTaNCyt_dhwoHfWS_2AS40SDdoM7Z50WCMyzE1oIE_MSOmxA/s1600/images.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 275px; height: 183px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgulF0t6FVtUW_SenQYE47D5YA3FyiU-x-FDopejkcMFon8IwAVMu4IADMClSfqzsNE-vwEbp8kDal9yBACjfHtMKPTaNCyt_dhwoHfWS_2AS40SDdoM7Z50WCMyzE1oIE_MSOmxA/s400/images.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5572594215439962274" /></a><br /><em>Foi escrita para a morte de outro tirano mas, para este que agora tombou, também serve</em><br /><br /><br />se fosse abutre voava<br />em círculos no céu redondo<br />como um foguete no ar<br />como um foguete no estrondo<br /><br />como se asas nascessem<br />assim nasce a alegria<br />morto de morte o tirano<br />morte mate a tirania<br /><br />fosse eu hiena e ladrava<br />de noite e lua os gemidos<br />morte de quem projectou<br />ter os povos possuídos<br /><br />como se asas nascessem<br />assim nasce a alegria<br />morto de morte o tirano<br />morte mate a tirania<br /><br /><em></em>Carlos Alberto Correia<em></em>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-75860414990108120382011-02-09T14:36:00.000+00:002011-02-09T14:36:50.101+00:00jacques Brel _ La Chanson des Vieux Amants<iframe width="425" height="344" src="http://www.youtube.com/embed/H1DpjXQUDsI?fs=1" frameborder="0" allowFullScreen=""></iframe>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-50505685774562533412011-01-25T00:29:00.001+00:002011-01-25T00:29:58.768+00:00Nem todos os concerto para uma voz são para esquecer<div style="padding-bottom: 0px; margin: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; display: inline; float: none; padding-top: 0px" id="scid:5737277B-5D6D-4f48-ABFC-DD9C333F4C5D:ed4c3bf4-9840-442b-a26b-6b046ee6ae17" class="wlWriterEditableSmartContent"><div id="18777297-a245-450d-ae15-a7a912bbff12" style="margin: 0px; padding: 0px; display: inline;"><div><a href="http://www.youtube.com/watch?v=GSrZ7GIkfP4" target="_new"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkf0g43dI4h0QCl3U7dT8_Jv0SOij7Poi8zMGEruh3DKAUzR-ca14xZis2dWY_4TTAvfFiSv71d7rJMnVqV1iG40OTyZdbjE_mLd3JDyx0sMICobeZ1T1KzWJK5BbV_gM3yVuEOw/?imgmax=800" style="border-style: none" galleryimg="no" onload="var downlevelDiv = document.getElementById('18777297-a245-450d-ae15-a7a912bbff12'); downlevelDiv.innerHTML = "<div><object width=\"448\" height=\"252\"><param name=\"movie\" value=\"http://www.youtube.com/v/GSrZ7GIkfP4?hl=en&hd=1\"><\/param><embed src=\"http://www.youtube.com/v/GSrZ7GIkfP4?hl=en&hd=1\" type=\"application/x-shockwave-flash\" width=\"448\" height=\"252\"><\/embed><\/object><\/div>";" alt=""></a></div></div></div> Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-5088825743750937822011-01-19T23:01:00.002+00:002011-01-19T23:03:04.913+00:00Cinzas<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDSNt3fdYA0ZJ0hJJ_mpDDOe1alwHp_jXHvlOJJDE99ZbP2cEtswlAwPiqgBMoxL826TcvTc5Y5K0DR3vUKe-FhfafG42rRNCkhiwam6-dGSxLMIhPhz5U84P1lPlNzr14GhyphenhyphenilA/s1600/cinzas.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 284px; height: 178px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDSNt3fdYA0ZJ0hJJ_mpDDOe1alwHp_jXHvlOJJDE99ZbP2cEtswlAwPiqgBMoxL826TcvTc5Y5K0DR3vUKe-FhfafG42rRNCkhiwam6-dGSxLMIhPhz5U84P1lPlNzr14GhyphenhyphenilA/s400/cinzas.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5564036393021771490" /></a><br /><br />Talvez porque eu, como muitos da minha geração, tive na guerra colonial contactos próximos com a morte, apreendendo, portanto, com urgência, a fragilidade e a beleza da vida, sou, intrinsecamente, contra qualquer pena de morte induzida por pessoa individual ou coletiva.<br /><br />Apresentado este princípio norteador do meu viver posso então entrar na matéria que, por incómodo próprio, decidi tratar. Vou talvez ferir suscetibilidades e vou, sobretudo, opor-me ao suave modo português de tudo perdoar a quem se finou. Falo, como já poderão ter-se apercebido do assassínio do cronista social Carlos Castro.<br /><br />Nunca o conheci pessoalmente mas já tanto não digo da sua sombra civil. Era o homem da maledicência e dos escândalos que, a seu critério, distribuía pelas revistas e colunas cor-de-rosa, lançando gentes em breve fogachos de notoriedade e humilhando aqueles que não lhe interessavam ou não seguiam os códigos cediços do pobre “jet-set” onde turbilhonava. Era, para mim, um ser execrável. Depois de morto, nada disto tendo mudado, continuou a sê-lo. Que não mereceria a morte que o segou? Plenamente de acordo. Mas não exclusivamente por ele, tão só porque ninguém merece a ceifa da sua vida antes que ela tenha naturalmente termo ou que o cidadão, por ponderosos motivos, o decida para si próprio. <br /><br />Por ter esta ideia da pessoa em causa e por saber que havia multidões que pensavam o mesmo, surpreendeu-me que, num repente, aparecessem milhares de amigos a debitarem virtudes e saudades, mesmo em gente que, eu sabia, por ele nutria senão ódio, pelo menos um requintado desprezo. Sendo embora a rasoira da morte a aplanar saliências de passadas ofensas, espantou-me o rio de hipocrisia que vi desaguar nos nossos meios de comunicação. Parecia que um novo Camões ou Pessoa se tinha finado. Só faltou uma alocução ou presença funerária do primeiro magistrado da nação. Não venham acusar-me, por esta posição, de homofobia ou coisa que o valha. Não sofro de tal pecado e, tenho dado testemunho bastante do meu respeito pelos sentimentos dos seres humanos expressem-se eles lá como se expressarem. Só lhes peço autenticidade.<br /><br />Portanto, Carlos Castro foi assassinado, foi vítima de um ato de extrema violência e nenhum motivo poderá justificar esta ação. Quem o matou foi Renato Seabra, um jovem manequim temporariamente residente com a vítima no quarto de um hotel nova-iorquino. Em redor do algoz levantou-se um coro de solidariedade inabitual. Talvez pela sua juventude, pela beleza, pelos sonhos caídos a partir do instante do crime. Sugerem-se motivos. Declaram-se causas. Procuram-se desculpas. Mas poderá haver defesa para um ato tão definitivo como o de causar a morte a alguém? Poderá, sim, haver atenuantes mas nunca justificação plena. Todos somos capazes de cometer assassínio mas, no seu evitamento, está a diferença entre barbárie e civilização. Renato matou, é, ao que parece, uma certeza. A vida que sonhava deixou de ser possível. De certo modo ao assassinar assassinou-se senão a ele próprio, pelo menos ao seu devir. É tão lamentável esta situação como a da morte da vítima. Parece-me, portanto que neste caso não haverá inocentes mas todos serão, ao mesmo tempo, algozes e vítimas. Renato tinha um sonho e, provavelmente, decidiu utilizar pessoas como meio de o atingir. Pessoas essas que também decidiram utilizar Renato para os seus fins. É o círculo de enganos da fama fácil e das alienações consentidas para lá chegar. É não saber que o primeiro dia de glória é igualmente o primeiro dia de deceção e apagamento. Mas esta é a nossa sociedade. Aquela em que vivemos e consentimos. A que destrói valores de humanidade, dignidade, solidariedade, em troca da ilusão de uns quantos dias de ribalta. Custe lá isso o que custar. O sucesso a qualquer custo é o objetivo. Tudo o mais é secundário. Ou pelo menos assim parece. O problema está no preço a pagar. Há sempre um dia em que a fatura nos é enviada. Nesse dia há que pagar o preço. Para o jovem assassino a fatura chegou talvez demasiado cedo e a despropósito. Reagiu e, aprendiz de feiticeiro, queimou-se no próprio feitiço. Até onde ainda não sabemos.<br /><br />Indiferentes a leis, respeito pelos outros ou qualquer outra conveniência, as irmãs e alguns amigos de Carlos Castro, numa explosão de egoísmo e desprezo absoluto, decidiram despejar num dos respiradouros do metro de Nova York, parte das cinzas do malogrado cronista. Neste ato está expresso tudo quanto me parece ser os valores dessa gente. Não se sabe porque divino decreto eles não têm de obedecer às regras que jungem o comum dos mortais. Não senhor, isso não é para eles. Se o amigo, o irmão decidiu dar-se a respirar aos cidadãos de qualquer urbe, que direito têm estes de se oporem a tão profundo desígnio? Será que não se apercebem do tremendo favor que lhe é concedido ao incorporarem as cinzas do grande homem que, por azar, não conhecem nem reconhecem? E isso que tem? Os mandantes da vontade do morto têm opinião bastante para eles e para os outros. Estes nem precisam de se incomodar com coisas tão cansativas como ter vontade própria. Cá estão tais amigos para de tanto trabalho os aliviarem. Deviam ainda era agradecer.<br /><br />Perante tanta pesporrência só resta, pregando no deserto, dizer que se deixe de olhar para o acessório e se parta de vez na conquista do essencial. A fama, os holofotes, o breve reconhecimento são cinzas deitadas sobre o mar. Nem memórias deixam que se vejam. Só lutos espalhados no vento da pouca duração.<br /><br /><br /><strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-59121994762853874292011-01-14T14:27:00.002+00:002011-01-14T14:28:20.909+00:00Porque o voto é secreto<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwRnyWx26ArttoB79QlMkOl2xj9LIIo_MiuTJA4NTUyjrcmqQPixKo5P2go9S0yU5Vra5o02Q6oN8IcqU2x3bQlngwRoroia_8iPMgm_g6MecqxGLutyv_drbd_yhvUvzEI6Z5sQ/s1600/josemanuelcoelho.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 300px; height: 168px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwRnyWx26ArttoB79QlMkOl2xj9LIIo_MiuTJA4NTUyjrcmqQPixKo5P2go9S0yU5Vra5o02Q6oN8IcqU2x3bQlngwRoroia_8iPMgm_g6MecqxGLutyv_drbd_yhvUvzEI6Z5sQ/s400/josemanuelcoelho.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5562048322596719282" /></a><br /><br />Porque o voto é secreto não vou dizer que já escolhi, na pessoa do candidato José Manuel Coelho, o recipiente do meu voto. Claro que não é um candidato ganhador, nem como tal ele se assume. Fala porém chamando os nomes às coisas, sem medo nem rebuço. Ora aqui está um político que é, com eficiência, um antipolítico. Não utiliza o exercício de distanciação e ocultamento do inefável Sr. Silva; não tergiversa como Alegre; não se mostra bonzinho e compassivo como Nobre e não tem o encargo de manter os militantes agrupados como Lopes. Tem apenas de ser ele e, como tal, propor-se ao escrutínio. Nos tempos que correm já é bastante.<br /><br />Mostrando de si uma face pícara nas arruaças com o jardinismo, oculta um saber e experiência da coisa pública que tem vindo a revelar, pouco a pouco, nos tempos de antena e entrevistas que o estão a tornar um caso de rápido reconhecimento. Para ele o trabalho político é resistência. É velar para que a separação dos poderes seja uma realidade e não algo que se proclama no âmbito dos princípios e se esquece na prática dos dias. É reconhecer que a situações diferentes se aplicam estratégias diferenciadas. É afirmar que um operário da construção civil pode ter conhecimentos e aplicá-los a bem da população. É não temer o confronto com os golias das várias governações e afirmar os direitos de David apesar das desproporções que parecem, obviamente, condenar ao insucesso qualquer veleidade de resistência.<br /><br />Nele repousa a prova iniludível da possibilidade de resistir nos mais difíceis terrenos. Nem mesmo os dislates do Sr. Alberto João o têm amedrontado. Nem os processos judiciais, sempre a bater nos mesmos, o levam a arrepiar o caminho traçado. Sabe o que quer, é inteligente e capaz. Será perfeito? Certamente que não! A Democracia não necessita de anjos mas de homens. De homens capazes de dizer quando o rei vai nu e não de cortesãos cegos por subserviência.<br /><br />É populista e perigoso? Talvez um não sei quanto, concedo. Mas é muitos menos que aqueles que, sem coragem para ser o que realmente são e na falta de outros argumentos, o acusam de tal. Não o levam a sério? Fazem muito mal. Ele não é o “clown” que, para aparecer, simulou ser. É alguém que sabe como iludir o cerco que as burocracias partidárias fizeram à Democracia. É o gosto do risco e da descoberta. Vale a pena estar com este voto minoritário mas de grande valor simbólico. Descubra-se de novo a capacidade de rir dos poderosos que nada temem senão o ridículo. E como ele, com palavras e atos, o põe tão claramente a descoberto. Depois das eleições, conforme o seu resultado, os paxás vão tentar integrá-lo ou desintegrá-lo. Que ele tenha força e saber para continuar a resistir no contrapoder a que se propôs e não deixe por mãos alheias o zurzimento dessas personalidades cinzentas convencidas que são a luz do mundo. Necessário é que sempre surja um profeta, mesmo que só anuncie desgraças, para manter ativas as mentes dos cidadãos. Por agora ele decidiu de livre vontade assumir esse papel. Por isso estou com ele e lhe entregarei, embora vocês o não saibam, a confiança do meu voto. Não para que seja presidente da República mas para que no coro das unanimidades, pretensamente diferenciadas, surja uma nota desafinada a desafiar a interpretação de mais profundos significados.<br /><br />Agradeço-te José Manuel Coelho o atestado de sanidade com que presenteias este povo. O qual, tu sabe-lo bem, não poderá ainda compreender-te.<br /><br /><br /><strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-33940676412691674702011-01-05T19:43:00.001+00:002011-01-05T19:45:27.668+00:00O “Arrelia”<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp0jKEzGCmUQ5Vm7gcF474k4e2uFym2ChAk-ZfLGJfCIrVsP2bAyrtEnR3yOoKZcqtJyOvpax-e52WQYfUKsS0JGLSvFuNAjtU2CCFNifqHorSRFmNW7bj_sD9-o83S8HpZPpJOA/s1600/candidatos.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 283px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp0jKEzGCmUQ5Vm7gcF474k4e2uFym2ChAk-ZfLGJfCIrVsP2bAyrtEnR3yOoKZcqtJyOvpax-e52WQYfUKsS0JGLSvFuNAjtU2CCFNifqHorSRFmNW7bj_sD9-o83S8HpZPpJOA/s400/candidatos.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5558790279851866306" /></a><br /><br />Sinto-me vazio. Estou desinteressado! Não me apetece ouvir debates nem declarações de presidenciáveis. Vai por aqui um tempo que não é morno por demais ter arrefecido nas fraquérrimas prestações desta democracia de pacotilha onde é sempre possível entalar mais o povo e se encontram, permanentemente, boas justificações para que, os mesmos de sempre, continuem a enriquecer e a viver, cada vez mais, num Olimpo a que só eles podem aceder.<br /><br />Perante isto e não só, o Presidente da República é uma irrelevância. Não existe! Formatado como pura insignificância no fascismo, foi confirmado nesse estatuto pela democracia. O seu poder é quase nulo. Vale o que valer o homem que ocupa o lugar. É uma daquelas situações onde é o homem que faz o posto. É uma anti-instituição.<br /><br />Houve um tempo em que lhe era destinado o fatigante trabalho de cortar fitas e beijocar criancinhas. A democracia esvaziou-lhe a função. Hoje até o presidente da junta inaugura e beijoca. Perdeu o cargo sentido mas mantém-se o ritual por mais vazio e inócuo que seja. O seu poder é o de não ter poderes. Vive do discurso mesmo quando cala. Mas se não fala não vive. Feroz contradição que o faz silenciar quando devia falar e discursar em tempo de contenção de voz. Se andam a cortar nas despesas porque não cortam de vez esta despesa supérflua? Ah! Pois, e onde iriam por os políticos de nomeada em fim de carreira? Não há Administrações de grandes empresas que cheguem para todos. Há que manter alguns, mesmo que a encanar a perna à rã, no aparelho de Estado. Sempre hão de servir para alguma coisa. Quando não mais para dar credibilidade ao discurso hipócrita dos que, mamando, acusam os que vivem no limite da pobreza de viverem acima das suas possibilidades. É aceitável um discurso, vagamente crítico e sem eficácia executiva, que pareça contrariar as mais dolorosas decisões. Para as quais é precisa a coragem de as aplicar apenas aos outros, ficando, sempre de fora, os nossos. Chama-se a isto equidade governativa.<br /><br />Os nossos presidentes só têm existência na medida em que forem do contra. Dizem que é para maior equilíbrio da coisa pública. Mas que equilíbrio se consegue quando num prato da balança está todo o poder da governança e no outro o hidrogénio de um balão inflado? Pode dissolver a Assembleia! Pode, claro que pode! E depois? Ou faz eleições ou nomeia. De qualquer modo as suas maiores possibilidades são as de se ter tramado e, ao mesmo tempo, não ter resolvido coisa nenhuma. Se vai a eleições e ganham os mesmos enfraquece e terá de demitir-se. Se ganha quem ele espera não só perde a relevância – porque não esqueçam o seu verdadeiro poder é o de contradizer, o de arreliar – e fica indissoluvelmente ligado aos inêxitos do governo que (por eleições ou nomeação) patrocinou. Se o governo cambalhotar lá vai o Presidente de empurrão! Inequívoca beleza da inutilidade!<br /><br />Apesar de tudo, todos os cinco anos, meia dúzia de circunspectos cidadãos afrontam-se intrépidos nas arenas e desfilam intenções e programas que nem lhes pertencem e bem sabem não poder cumprir. O que os faz exporem-se assim? Problema de habitação resolvido por dez anos? Doce passagem do tempo de congelamento da reforma? Vaidadezinha inconsútil a espreitar sem vergonha do âmago da proclamada modéstia? Saudades de um rei, ainda absoluto, fazendo herdeiros e cortesãos duma mesma penada? Oh, vã glória de mandar, oh, vã cobiça… !<br /><br />Andam por aí, agora, de novo, a tal meia dúzia de citadinos a mercadejar votos. Para não fazerem o que prometem, prometendo o que não podem. Querem a nossa confiança e digladiam-se galhardamente por ela. Até o voto entrar na urna, porque depois… Cinco são-me indiferentes e para um sou absolutamente contra. Quem adivinha quem é o Acácio tartamudo que detesto?<br /><br /><strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-52564511612403518542010-12-13T14:52:00.002+00:002010-12-13T14:56:38.915+00:00Os inventores de Guantânamo<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieKTD-yW0LANHdFtxf4yeOwJy08JyNAqeeaeUrPEKHua9GbfpUKUD6_1dEfxa-6c-x7stgFL-Fu7BlYrJeeHNZIAzz_ZW32ysyfrRTmZ-1Qc-giynPDGiA5qVzwS4gjSV8Ve7qIA/s1600/aguia.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 259px; height: 194px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieKTD-yW0LANHdFtxf4yeOwJy08JyNAqeeaeUrPEKHua9GbfpUKUD6_1dEfxa-6c-x7stgFL-Fu7BlYrJeeHNZIAzz_ZW32ysyfrRTmZ-1Qc-giynPDGiA5qVzwS4gjSV8Ve7qIA/s400/aguia.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5550180883562653330" /></a><br /><br />O homem está despido, de mãos amarradas atrás das costas. Os olhos estão vendados. Pressente que na sua frente estão dois soldados e que outros dois, ladeando-o, lhe seguram os braços. Não entende o que lhe berra quem está na sua frente. Falam-lhe numa língua que não é a sua. Não percebe o que eles querem. No entanto a cada frase, que supõe ser uma pergunta feita de forma aterradora, mergulham-lhe meio corpo no bidão de água até os pulmões estalarem e o líquido, como faca acerada, subir pelo nariz rasgando em dor o caminho da sufocação. Quase no limite do afogamento retiram-no da água, repetem as incompreensíveis perguntas e, antes do tempo necessário para recobrar o fôlego, voltam a mergulhá-lo no horror. A qualquer instante pode morrer. No início do interrogatório temia o sofrimento e a morte, agora que a aflição é insuportável se a morte viesse seria aceite como almejada libertação.<br /><br />Isto, consideraram os próceres judicativos dos Estado Unidos da América, não é tortura. É um método de indução da verdade! Abu Ghraib também não foi tortura. Foi apenas um abuso da soldadesca sem conhecimento dos comandos superiores. Esta é a lógica e a moral do império. Nada que ele faça é censurável. Censuráveis são os outros, façam eles lá o que fizerem, desde que tal seja inconveniente para os interesses do tio Sam.<br /><br />É a mesma moral com que pretendem decidir quem tem, ou não, o direito de possuir armas atómicas. Pergunta-se de onde lhe vem tal autoridade quando, em todo o mundo, foram eles os únicos, até agora, a utilizar, por duas vezes, a bomba atómica para exterminação voluntária e consciente de populações civis. Não é, como se prova, gente que mereça muita confiança. Talvez por isso não sejam signatários e não reconheçam a jurisdição do Tribunal Internacional. Têm certamente receio de saber de forma apodíctica o que das suas acções pensa o mundo. Amedronta-os as consequências dos seus actos. Apesar disso continuam, olímpicos e unilaterais, a pretender regular os direitos dos outros. Tentaram utilizar a noção de “guerra preventiva”, isto é, a possibilidade de atacar, sem prévia declaração de guerra ou provocação, qualquer país no mundo, desde que não lhes agradasse ou conviesse as decisões soberanas do mesmo. Antes desta doutrina, nos anos 60 e 70 do século passado, puseram a América Latina a ferro e fogo, derrubando governos democraticamente eleitos, substituindo-os por ferozes ditaduras, em nome de uma liberdade e democracia que outra coisa não era mais que máscaras para os seus interesses egoisticamente económicos.<br /><br />Inventaram as armas de destruição maciça quando, por razões que só o petróleo sabe, decidiram atacar o Iraque. Meteram o mundo numa embrulhada de que ainda não conseguimos sair e que teve parte importante no descalabro em que presentemente nos encontramos. Construíram uma rede de espionagem comercial – a Echelon – para roubarem os segredos dos “aliados” europeus e, quando descobertos, alegaram, com candura e inocência, que tudo isto era em nome da sã concorrência. Inventaram assim o modo do eu posso fazer o que quiser e tu farás só o que me agradar. A isto chamaram justiça!<br /><br />Dentro desta lógica querem agora impedir a divulgação dos documentos “Cablegate” pela <em>Wikileaks</em>, exigindo a prisão e o repatriamento, por terrorismo e traição, do seu mentor Julian Assange. Aqui, minha gente, apesar de habituado à prepotência americana, não consigo deixar de abrir a minha boca numa estupefacção sem limites. <br /><br />Vejamos então:<br /><br />Os documentos publicados no “<em>site”</em> estão a ser dados, regularmente, à luz por poderosos e tradicionais meios de informação. Alguns deles americanos e situados no seu território. Não me consta que a qualquer dos seus directores tenha sido passado mandato de captura, nem que as publicações tenham sido impedidas de circular. Mas a <em>Wikileaks</em> viu ser-lhe negado alojamento e congelados fundos. No entanto nem um nem outros estavam sob jurisdição americana. A acusação de traição é, no mínimo patética. A não ser que todos agora estejamos obrigados à nacionalidade americana, só para os deveres, como pode ser acusado de traição à pátria americana um homem que tem nacionalidade australiana? Que obrigação tenho eu, cidadão português, residente em Portugal, de respeitar as interdições do direito americano para americanos em terras da América? A inversa é verdadeira? Ah! Não é? Então está tudo dito e passem os senhores muito bem!<br /><br />E a pressa subserviente com que a justiça inglesa actuou para a prisão de Assange baseada em duvidosas acusações? Ao que foi informado numa das acusadoras de abuso sexual terão sido identificada equívocas ligações à CIA. E que o não fora! Não é despiciendo, para bom julgador, lembrar-se que estas acusações são recorrentes. Aparecem quando são lançadas informações perturbadoras no <em>“site”. </em>São arquivadas quando o efeito desaparece, para de novo, mal novas informações sejam publicitadas serem prontamente agitadas. Muito conveniente, não vos parece? Não posso deixar de comparar esta pressa com os vagares da prisão e extradição do celebérrimo Vale e Azedo que, há quantos anos, se arrasta pelos tribunais deixando-o livre para continuar a cometer as barbaridades que lhe conhecemos. Viva a libérrima Inglaterra!<br /><br />Arrepiante é no entanto a pretensão vigente no pedido de extradição de Assange para os Estados Unidos! A que propósito seria ela extraditado? Não é cidadão americano. Não cometeu qualquer crime em solo americano e sob alçada das suas leis. Não roubou os documentos (foram-lhe entregues) e os mesmos são de inegável interesse informativo e probatório sobre o tipo e apodrecimento das relações diplomáticas e políticas, bem como do degradado carácter moral desses seres que pretendem governar-nos e dirigir. São incomodativos? Lá isso são. Basta que se não tenha a consciência limpa e incomodarão mais que piolhos na cabeça de alguém sem mãos para se coçar. Este é verdadeiramente o problema. A opacidade permite a mais completa dominação. Há seres e coisas que a luz destrói. Nós estamos rodeados deles. No receio de verem-se a descoberto perdem as estribeiras e atropelam todas as leis, todos os valores que apregoam e, desvairados gritam: “liquide-se Assange”.<br /><br />A resposta está a ser dada. O movimento suplantou o homem e, mesmo sem ele, continuará. A criação de <em>“sites”</em> espelho, o aparecimento espontâneo de acções contra que tenta coarctar o direito ao conhecimento estão em campo. Desta batalha, que não se pode separar da grande convulsão que agita o mundo, serão colhidos resultados. Se eles são a favor ou contra a liberdade e a dignificação do homem é coisa que ainda se verá. Por mim está escolhido o campo em que me baterei. Decida-se V.Ex.ª. de que lado está enquanto o tempo lhe der ainda essa possibilidade.<br /><br />Finalmente uma palavra de compreensão para Obama. Tudo lhe corre mal. As boas intenções esbarram contra os maus interesses e ele, mesmo que queira, pouco pode fazer. Afinal ele é o presidente dos americanos. Destes americanos!<br /><br /><br /><br /><strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-33501553930258957782010-11-30T18:51:00.000+00:002010-11-30T18:54:18.339+00:00As duas panelas<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7-W_4NCDwWyYs00_GT0fG01faDHq2SjPL8rcHHRowYhzlsC38tQE2SXs0F33gcMNhaD6_k5ewcyWTXZVLj0MYWKmW85PaJFKu5VrUD3cIVvdB1clyUVadbeCTvXt_zxC08pPv1w/s1600/panela+de+ferro.bmp"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 219px; height: 170px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7-W_4NCDwWyYs00_GT0fG01faDHq2SjPL8rcHHRowYhzlsC38tQE2SXs0F33gcMNhaD6_k5ewcyWTXZVLj0MYWKmW85PaJFKu5VrUD3cIVvdB1clyUVadbeCTvXt_zxC08pPv1w/s400/panela+de+ferro.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5545418024898203474" /></a><br /><br />Duas panelas, uma de ferro e outra de barro, por proximidade de funções, tomaram-se de amizade. Um dia, num dos passeios que frequentemente davam juntas, chegaram a um terreno pedregoso. Para atalharem caminho propôs a panela de ferro que o atravessassem, que já o sol ia alto. Temeu-se do agreste do sítio a panela de barro. Objectou que seria melhor chegar um pouco mais tarde e não se arriscarem por tão perigoso local. Consciente da sua robustez disse a panela de ferro que nenhum risco adviria daquelas pedras inertes do caminho. <br /> - Pois, para ti não há perigo que és de ferro, mas eu, que sou de barro, se escorrego e embato contra qualquer daquelas esquinas aceradas, despedaço-me.<br /><br />- Não despedaças nada porque te vais amparar em mim.<br /><br />Dito e feito. Apoiando-se na panela de ferro lá se aventurou a entrar naquele terreno perigoso. Alguns passos dados a nossa frágil panela tropeça. Para não cair procura o amparo da sua amiga. Pressurosa, esta, apressa-se a dar o seu arrimo. Nesse momento, porém, ao apoiar-se na panela de mais forte material a pancada da junção fez estilhaçar a pobre panela de barro.<br /><br />Desta história, lida algures num livro da instrução primária, retirava-se a lição de “cada qual com seu igual”, o que estava muito de acordo com a moral dos tempos. Se a ressuscito agora, é porque, com um enfoque diferente e mais alargado, ao observar o comportamento do nosso país na União Europeia, a imagem parece ganhar forças e adequar-se aos acontecimentos.<br /><br />Saudei, de um ponto de vista meramente pessoal, a entrada na Comunidade Europeia e, posteriormente, a adesão à zona Euro. Nesse tempo, mercê de actividades profissionais, deslocava-me com frequência ao estrangeiro e a passagem de fronteiras e o câmbio de moedas eram um verdadeiro aborrecimento e perda de tempo. Por isso me entreguei de corpo e alma à ideia de união. Devo porém confessar que de tempos a tempos, incómoda, me passava pela cabeça a história das duas panelas. A perda das pescas, da agricultura, o encaminhamento para um mercado pouco qualificado de prestação de serviços e a subida de preços causada pela introdução do euro foram campainhas de alarme a soar no meu espírito. Mas eu não as queria ouvir. Encandeado com as facilidades pessoais achava incómodo e retrógrado os chamamento de alerta que alguns – poucos – iam fazendo. Pensava mesmo que eram uns chatos. Não queriam evoluir e agarravam-se a modos passados de vida. Como a crise veio agora demonstrar eu é que estava enganado. Passado o tempo da sedução a realidade acorreu, brutal, reclamar o seu pagamento. Olhámo-nos e vimo-nos mais pobres, de soberania diminuída e sem possibilidade de influenciar as grandes nações que decidiram criar uma Europa só para elas ou, pelo menos, onde elas dominem todas as outras. Descalços e rotos, de chapéu na mão, rogamos à porta da festa nos dêem uma côdeas para não perecermos de fome. Mas, como não gostamos desta imagem, abolimos os espelhos e recobrimo-nos com os breves ouropéis que o crédito, durante algum tempo, permitiu. De resto, caminhamos, alegremente, para o abismo.<br /><br />Reconheceu o FMI serem comuns as causas das crises de 1929 e da actual. A ausência de uma redistribuição equitativa, como causa de acumulação desmesurada num dos extremos da escala social e a concomitante falta de liquidez da maior parte, leva as populações a um endividamento excessivo, causador de desequilíbrios económicos e graves problemas sociais. Ainda bem que o FMI descobriu agora o que já todos sabíamos há muito tempo. O que me espanta é que tendo revelado esta verdade não tenha mudado em nada a sua actuação e continue, com os seus programas, a alimentar e libertar – de forma aparentemente suicidária - o monstro que descobriu.<br /><br />Esquisito, não é?<br /><br /><br /><strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-5626355294186548642010-11-17T22:04:00.001+00:002010-11-17T22:06:22.187+00:00O Pensamento Selvagem<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhbxZMKr6Zk1_hlBBXRJC3lPcyYatSQB5NI1TuwEYcDZGhKNgtkTwK3TivLAEGkbfbIhUHBdvK0rcu_YThFoX7ZSlIzgIWcOV63C41qoo0K0Nd7jW1zFz7RITcv1btKjN-SRd1gw/s1600/xam%25C3%25A3.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 195px; height: 258px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhbxZMKr6Zk1_hlBBXRJC3lPcyYatSQB5NI1TuwEYcDZGhKNgtkTwK3TivLAEGkbfbIhUHBdvK0rcu_YThFoX7ZSlIzgIWcOV63C41qoo0K0Nd7jW1zFz7RITcv1btKjN-SRd1gw/s400/xam%25C3%25A3.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5540643276143898514" /></a><br /><br />Em interpretação bastante livre atribui-se ao pensamento selvagem uma abordagem mítica da realidade, a explicação do actual por um anterior dourado, a função mágica da palavra. Mais sucintamente dizer ou desejar poderia ser o suficiente para fazer acontecer.<br /><br />Recordaram-me estas antigas noções da Antropologia Estruturalista as palavras, ouvidas ainda na cama, ao acordar, de uma intervenção do Presidente Cavaco. Na sua rara eloquência e finamente recortada oratória, com a riqueza de imagens e a criatividade que o caracterizam mais ao seu discurso, dizia ele, de modo enfático, que como forma pessoal de combate à crise iria deixar de utilizar tal palavra nos seus discursos. Passaria, portanto, a referir-se a ela de forma enviesada como “os tempos”. Não me parece que os media tenham dado grande atenção a esta possibilidade de ultrapassagem do mal pela recusa da sua nomeação. Fizeram, portanto, mal.<br /><br />Fizeram-no quando não perceberam que na incapacidade de diligenciar qualquer coisa de útil para aliviar-nos da dureza da existência, este homem reconhecidamente carinhoso, culto, livre-pensador e de discurso fluente como ribeiro primaveril, elaborou um estrénuo esforço para, magicamente, debelar a dor que nos rodeia. Espírito compassivo, farto de avisar, em vão, os políticos – que ele jura não é, não foi, nem será – para os perigosos caminhos que cegamente vão percorrendo, investido de uma força metafísica proveniente do sacro lugar que ocupa (mais por vontade de entidades sagradas que do votos expressos pelos cidadãos) lança, tonitruante, a sua voz, de preclaro poder emanado de altíssima fonte, como exorcismo capaz de modificar a mais abstrusa realidade. A partir deste momento, a crise deixará de existir. Ao ser solenemente abolida do discurso, por um desejo mais forte que o comum, não teve ela outra escolha que dissolver a sua consabida materialidade.<br /><br />Este xamã dos novos “tempos”, descobriu, por mero acaso, as suas capacidades mágicas ao entrar em campanha para assegurar por mais cinco anos o seu sacro sacerdócio, a possibilidade de estender a sua bondosa vontade sobre o desditoso povo acima do qual paira e para o qual, nos anos anteriores, nada tinha a dizer, a fazer, ou nunca era o local apropriado para o Presidente se pronunciar fosse lá pelo que fosse. Descobriu portanto, agora a força da palavra. Se antes só se manifestava com veemência quando as coisas o tocavam pessoalmente – ver estatuto dos Açores ou a comédia das escutas – sabe agora que basta fazer os ritos purificantes, conduzir com unção a liturgia e o anátema ou a glorificação nascerão da sua vontade consubstanciada em miraculosas palavras que, de supetão, mudarão só por si, a face visível das coisas.<br /><br />Há gente assim, com estranhos e maravilhosos poderes! Basta que um lugar - nunca desejado e sempre imposto pelo dever - surja na hierarquia do Estado para que eles surjam com seus poderes encantatórios capazes de, em passe mágico resolverem, de uma só penada, todos os problemas que não só não conseguiram resolver durante todo um mandato com, muitas vezes, foram as causas eficientes para o seu aparecimento.<br /><br />No entanto, onde o verdadeiro poder do seu pensamento mágico melhor refulge é na certeza que se vai subtilmente instilando de que teremos de aguentar o personagem por mais cinco anos. Isto sim, é pensamento selvagem, é rito, é mito, é a evidência de que continuaremos na nossa triste senda de incapacidade de desenvolvimento e renovação, trocando a árdua tarefa da modernização e democratização dos espíritos e da sociedade por uma qualquer retórica, analógica ou de contiguidade, instituída em actuante feitiçaria resolvente de todos os problemas que afrontam o nosso bom povo.<br /><br />Votem de novo no homem, votem! E depois queixem-se!<br /><br /><br /><strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-20453693843427710112010-11-05T00:03:00.001+00:002010-11-05T00:05:34.000+00:00Vejam só esta tremenda coragem<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj25UHbepl9-3XjJM75r4czkLc85sF4lCZicC04rwWf-6n-RR5XDkL7usHEIvCD2zWsBKEcUZi5ZwfdxT1hLz45kXYLEJtCltDKqBSidMCmThfgD-XEjqrVMi4DKZqLR1MUTjFNqA/s1600/fmi.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 234px; height: 215px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj25UHbepl9-3XjJM75r4czkLc85sF4lCZicC04rwWf-6n-RR5XDkL7usHEIvCD2zWsBKEcUZi5ZwfdxT1hLz45kXYLEJtCltDKqBSidMCmThfgD-XEjqrVMi4DKZqLR1MUTjFNqA/s400/fmi.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5535849990917788354" /></a><br /><br /><br /><br />Pronto! Descansai corações o orçamento vai ser viabilizado. Exultai, pois portugueses, que os mercados, tendo em conta o consenso conseguido, irão atender as vossas piedosas preces e prescindirão do suave lucro a que se julgam com indubitável direito. Tudo isto porque o governo teve a formidável coragem de nos espoliar e o PSD, fazendo que tomava amargo e obrigatório remédio, de careta afivelada, pedindo desculpa aos seus maiores, num outro tipo de coragem, se irá abster, deixando assim seguir um orçamento de que ninguém parece gostar, mas a quem ninguém se ousa eximir.<br /><br />Tanta coragem envergonha-me não só perante a minha evidente cobardia, como ante a impossibilidade de perceber a propalada inexistência de alternativas.<br /><br />De facto, muito dificilmente eu conseguiria ser, como eles, um Robin Hood ao contrário. Falta-me o necessário valor pessoal - ou desfaçatez - para roubar os pobres para dar aos ricos. Compreendam! É uma falha de carácter que assumo. Nada posso fazer para a modificar e tenho de me habituar a viver com este peso na consciência. Nem mesmo o estrénuo exemplo do nosso primeiro, de tão aprimorado amor à verdade, consegue motivar-me para tão nobre cruzada. Sim, eu também li Giddens! Também eu tentei perceber a possibilidade de novas linhas de actuação sociopolítica. Só não entendo como, a partir dessas ideias, viemos parar neste absurdo onde as palavras mudam de sentido e o que se afirma é, por norma, o contrário do que se faz ou manda fazer. Esforço-me por compreender como é que um partido socialista, conservando algo do discurso de origem, se torna tão servil a teses neoliberais, produzindo um efeito perturbador de pessoas e conceitos, transformando em insegurança e descrédito o dia-a-dia dos cidadãos, turvando as convicções, tornando o mundo ilegível, transformando-o numa coisa, por desconhecida, ameaçadora. <br /><br />Tudo isto começou, já referimos, com as generosas tentativas de Anthony Giddens de tentar uma via que não sendo o feroz neoliberalismo de Thatcher e Reagan, aproveitasse dele as ideias de liberdade e mercado o qual, com alguma regulação, deixaria sobreviver o mais importante do estado social. Se a tentativa foi generosa os efeitos deixaram muito a desejar: Clintton viu fugir-lhe o serviço nacional de saúde, uma das mais importantes bases da sua campanha; Guterres, em hora de lucidez, ao ver a que pântano tal casamento ideológico conduzia, desertou; Tony Blair caiu na guerra do Iraque, ao lado de Bush. Todos, de uma forma ou outra, acabaram dominados pelas lógicas dos mercados financeiros, pela coacção das deslocalizações, pelo menosprezo das gentes. Claro que num estado inicial eles interessaram ás forças movimentadoras dos capitais e do mundo. Aliás, em Portugal, o Partido Socialista sempre foi utilizado como arma para infiltração do inimigo no forte. A firme coerência dos mandantes mostra-nos que uma vez penetrado o reduto, por desnecessário, dispensam o servidor e procuram alguém que vista, sem rebuços, a sua cor. Eles, que leram a Bíblia, sabem que ninguém serve bem a dois senhores e lembram-se disso no momento exacto. Por cá, após o interregno tragicómico do desgoverno de Santana Lopes, lá veio Sócrates, menos informado e mais confuso, agarrar, a destempo, com os brilhantes resultados que se conhecem, o facho da terceira via. Presumo que, por mau entendimento e grande pendor tecnológico, numa analogia com os jogos de vídeo, pensou tratar-se da terceira vida. Daí a possível confusão que o leva a vangloriar-se despudoradamente da tremenda coragem necessária para coligir o triste esbulhamento que propôs à Assembleia. Dou comigo encanitado e retorcido a apelidar o governante de epítetos que nem a mãezinha, nem o padrinho, alguma vez pensaram chamar-lhe. É que acho enorme desplante e muito mau gosto vir alguém gabar-se por bater nos mais fracos. Penso mesmo que tal feito é apanágio de personalidade com baixa estrutura moral por quem só podemos sentir a máxima desconsideração. Faz-me lembrar aquele tipo que, numa roda de amigos, modestamente se gabava por ter dado uma valente surra num matulão muito maior e mais forte que ele. Ainda gozava da sua pequena glória quando um dos convivas perguntou: Mas esse tipo não é cego?<br /><br /> Esta pergunta inconveniente deitou por terra o mito da coragem do contador.<br /><br />O segundo corajoso, de seu nome Passos Coelho caracteriza-se pelo heroísmo da responsabilidade. Tal significa para ele viabilizar o orçamento mas, para que não haja dúvidas, fazê-lo em claro repúdio pelo conteúdo daquilo que se obriga a aprovar. Sensibilizado por tão denodado sacrifício o povão vai em massa transferir o seu voto do malandro do esportulador para este novo actor de discurso tão amigo. Desenganem-se porém crédulos votantes de todos os candidatos errados. Descodifiquem-lhe o discurso e verão, por detrás da ambiguidade das palavras, que, na essência, ele defende o mesmo apertar de cinto que o governo. Apenas queria que tivesse começado antes e fosse mais fundo. Porque quando Passos Coelho se refere a cortar na despesa, não estará, porventura, a pensar na mesma despesa que nós. Para ele os cortes serão nas comparticipações patronais para a Segurança Social, debilitando-a por esta via, logrando assim a sua rápida decadência e substituição por seguradoras, apenas interessadas em utilizar o dinheiro dos pagantes para especulações financeiras, atendendo apenas aos seus lucros pessoais; quando fala em cortar despesas está a pensar em diminuir as verbas destinadas à educação, canalizando para escolas particulares - onde só terá lugar quem for pagante activo - todo o dinheiro que puder desviar do ensino público, condenando-o ao insucesso e à insignificância; visa ainda reduzir os postos de trabalho e vencimentos na função pública, cortar nas reformas, abrindo o caminho para que o desemprego resultante force as gentes do trabalho a vender a sua força por menor preço, aumentando o lucro do capital financeiro e reduzindo ao máximo, por anemia do Estado, a redistribuição de bens e valores pecuniários.<br /><br />Este é o intuito salvador de Passos Coelho!<br /><br />Entretanto, alegrai-vos corações que o orçamento vai ser votado e passará para execução, esperando estes nossos corajosos que os mercados, sensibilizados por tão baixo seguidismo, se condoam destas boas almas e deixem de especular com o valor dos empréstimos. Tanta ingenuidade põe-me parvo o espírito. A verdade foi reposta logo no dia da discussão do orçamento na generalidade. Aumentaram novamente os juros. E aumentaram ainda no dia a seguir atingindo de novo quase o nível máximo em que se tinham situado. Aumentarão ainda mais até atingirem os 7% indicados pelo ministro das finanças como limite para recurso ao FMI. <br /><br />Ontem, numa entrevista dada pelo Primeiro-ministro à TVI, perguntado sobre a possibilidade de apelo aos bons serviços dessa instituição, com veemência e coragem, desautorizando mais uma vez o seu ministro, garantiu que nunca o FMI entraria em Portugal.<br /><br />Conhecendo o valor das suas palavras já mandei limpar o fato com que irei ao aeroporto esperar a delegação que, por esta altura, já estará, certamente, a preparar as malas.<br /><br /><strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-44882742165889438682010-10-20T17:46:00.002+00:002010-10-20T17:59:18.657+00:00Tramadex, S.A.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-95Eas8OFdfAh9BljcUmBzCNEfckf_ZPgpCZap1v6pkMgXJMvBV-yoIT6N_DA6plYADTX4hiL5Dvw8C7p5VZW2pzzZm8yxHoA0qgR6pXu9_N_HmiSvb5YQiVqD8DhDPYRQ-Heqw/s1600/cassandra.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 190px; height: 265px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-95Eas8OFdfAh9BljcUmBzCNEfckf_ZPgpCZap1v6pkMgXJMvBV-yoIT6N_DA6plYADTX4hiL5Dvw8C7p5VZW2pzzZm8yxHoA0qgR6pXu9_N_HmiSvb5YQiVqD8DhDPYRQ-Heqw/s400/cassandra.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5530186576158498354" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />A primeira vez que tive a sensação de que estávamos a ficar “lixados” foi quando, no fim dos anos oitenta, integrando uma comitiva de dirigentes de empresas, visitei um centro de formação ligado às indústrias metalúrgicas. Trabalhava então numa grande empresa de Obras Públicas que mantinha um amplo sector de apoio metalomecânico numa imensa nave, onde o ruído de ferro contra ferro, guinchos de fresadoras e tornos, em conjunto com a movimentação de gentes ou máquinas, em ambiente escuro e polvorento, causavam sensíveis perturbações psicossomáticas a quem quer que ali se demorasse. Era o reino do fato de macaco azul, da multidão, da rudeza. Dos variados acidentes causados pela perturbação reinante.<br /><br />Despertou a minha curiosidade, na visita, uma sala de bom tamanho, francamente iluminada pelas amplas janelas por onde o Sol jorrava sem entraves, onde duas filas de dez máquinas cada – de um lado tornos, do outro fresas - trabalhavam sozinhas, comandadas por dois jovens operadores, de imaculadas batas brancas, que digitavam descontraidamente números em dois computadores situados no início de cada uma das cadeias. Disse-nos o anfitrião que ali estava o futuro. Para além da supressão de mão-de-obra, estávamos perante uma forma de trabalho que não cometia erros de apreciação, que para além de produzir peças à medida e completamente idênticas, ainda calculava o melhor aproveitamento dos materiais. Como disse, percebi então, pela primeira vez, como o radioso futuro se preparava para nos tramar.<br /><br />Dali saído, em cuidadoso relatório, chamava a atenção para o facto de não podermos deixar de nos actualizarmos e de como era urgente formar os trabalhadores especializados em semelhantes aparelhos para novos modos de produção. Além disso, do ponto de vista das pessoas, seria necessário determinar atempadamente o destino a dar aos trabalhadores restantes. Escusado será dizer que as minhas preocupações, tanto técnicas como sociais, caíram em saco roto. Por isso e outras mais coisas, a empresa foi deixando de ser grande e, como Nova no firmamento, explodiu gloriosamente extinguindo-se sem remédio.<br /><br />A meio dos anos noventa levou-me o destino e a profissão para a China e Macau. A firma lusitana tinha sociedades com várias empresas chinesas, uma delas situada na região de Cantão. Num tempo morto de uma das minhas deslocações passeava-me pela zona comercial de uma, para os chineses, pequena cidade dessa região, quando vi um belo fato de bombazina verde que me cantou aos olhos. Entro na loja e por quinze contos comprei o fato completo, inclusive com um colete que nunca vesti. Passados uns dois meses, numa das viagens regulares que fazia à Sede da empresa em Lisboa, andando na Baixa, vi numa montra um casaco semelhante ao do fato que comprara. Curioso perguntei o preço. Quarenta e cinco contos! Só o casaco, retorqui. Sim, só o casaco! Pela segunda vez percebi o quanto estávamos tramados, com um futuro muitíssimo complicado a aproximar-se à revelia das nossas preocupações. Desta vez, porém, não disse nada a ninguém, porque de cassandrices já me chegava. Mas sabia, de fonte segura, que o patau nos cairia em cima sem delongas ou benevolências.<br /><br />Esta gente que nos governa nunca quis, conseguiu ou pretendeu ver, ouvir ou perceber o que o mundo nos guardava. Provavelmente distraídos, certamente preocupados com o seu futuro próprio descuraram o que havia para fazer. Ao trabalho que lhes competia pelos cargos que exercem e a que por vontade própria concorreram, preferiram os faustos de uma emergência social aparente, sustentada sobre quase nada, não se importando com o que aos outros acontecesse desde que eles ficassem ou parecesse que ficavam bem. Por isso fomos apanhados sem defesa pelas crises que se amontoam e soam como trombetas de mudanças próximas, provavelmente cataclísmicas. Somo um povo manso até à inércia mas os rompantes violentos não nos são desconhecidos. Apenas vamos enchendo calados até ao desgarrado grito que já nada tem de racional, antes sendo vaga que arrasa tudo sem discernimento. Com as opressoras medidas que estão a ser tomadas, na crueldade de quem não pensa nos dramas que tais decisões comportam, quem se admira que por aqui, breve, rebentem inauditas violências nascidas no remorder de injustiças e danos causados por desprendidos mandadores?<br /><br />Não quero de novo ser Cassandra, mas lá que os ventos sensivelmente se acumulam não tenho dúvidas. Que quem os pode amainar se precate e aplaque a prepotente pressão, porque os tempos ao tempo seguirão e desta vez pode ser que a antiquíssima prece sejam mudada e as gentes digam: Pai, nunca tu, nem ninguém, os ouse perdoar, porque eles sabem muito bem o que fazem! <br /><br /><br /><strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-89265846578882586012010-10-12T15:03:00.001+00:002010-10-12T15:04:59.429+00:00Que título darei a isto?<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9tC2cgvEdJeN_Kmv75F6oAceVDny_at5mDyjRoKRxyTkCKQTQmhDkoX6r5ZasLPqiH4EUu8wC80zUTfFwPRFMM5Sa6_LkVJOHUVSk5K0mbKSmzhUDTVU-4x5CbbOwp44LWeJy-A/s1600/rio.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 267px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9tC2cgvEdJeN_Kmv75F6oAceVDny_at5mDyjRoKRxyTkCKQTQmhDkoX6r5ZasLPqiH4EUu8wC80zUTfFwPRFMM5Sa6_LkVJOHUVSk5K0mbKSmzhUDTVU-4x5CbbOwp44LWeJy-A/s400/rio.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5527175736150947362" /></a><br /><br /><br />Sento-me ao correr dos ventos que fazem a tremulina dos rios e desespero com a ausência de angústia. Deveria, neste momento em que o devaneio se perde pelas áleas da escrita, arrepelar cabelos, dar pancadas no peito e, de olhos postos nos céus, desgarrar em grito desesperado: o que vai ser de nós?!<br /><br />Oiço os nossos maiores, em funda preocupação interrogarem os tempos, tecerem rotas e caminhos por onde alguma segurança se insinue e recordo os olhares receosos, ou desesperados, de quem embate em inultrapassável parede. Acresce-me a culpa de já não conseguir preocupar-me com as suas preocupações. Contra minha vontade sinto-me distanciado, alheio, apenas me assolando os lábios do espírito um friso de indiferença traduzido num descabelado: e depois?<br /><br />Se a graça da religiosidade me enfeitasse poderia justificar o meu estado de alma com o ensinamento bíblico de que não deve o homem preocupar-se excessivamente com as coisas terrenas porque nem uma pena cai de uma ave, nem um cabelo de qualquer cabeça, sem que tais acontecimentos não tenham sido previstos e queridos pelo senhor dos céus. Mas não tenho essa desculpa e não descubro como encarar os acontecimentos com o devido estado de preocupação e seriedade com que os mesmos deverão ser enfrentados. Sinto-me, por isso, quase como um pária ou, querendo ser mais simpático para mim, como um monge budista olhando o tremular dos rios deixando a corrente levar os pensamentos até à extrema intensidade do alheamento.<br /><br />É assim que me sinto. É assim que me contemplo. É assim que estou!<br /><br />E no entanto, sexta-feira, dia 15, já tão depois de depois de amanhã, o governo entregará na Assembleia da República o Orçamento Geral do Estado no qual, dizem, repousa o perigo de mil caixas de Pandora. Da sua aprovação, parece, dependerão o Sol e a Chuva, o Outono e o Verão, a felicidade ou o estéril tempo da derrota. Com ele, diz-se, continuará o tempo com os sobressaltos que lhe cabe; sem ele a derrocada final de um indescritível Armagedão tombará, insano, sobre as nossas culpadas cabeças. Entre o descrédito e o arrependimento serão os homens colocados e julgados. Enquanto o terror se insinua no verbo dos arautos eu, estranhamente, continuo discreto e indiferente.<br /><br />Nem mesmo a terrível ameaça da chegada do Fundo Monetário Internacional (FMI) me acabrunha. Estou insensível, talvez indiferente, certamente anestesiado. Tal catatonismo invadiu-me por excesso de preocupação. No início da crise procurei, por todos os meios compreende-la, dominá-la, ultrapassá-la e, piamente acreditei que do grande fragor alguma coisa de novo aprenderia a humanidade. Porém, quanto mais se agravavam os actos mais eu via que se agraciavam os culpados e se castigavam as vítimas. Percebi que por misteriosos jogos de espelhos as imagens chegavam virtuais, invertidas, transmutadas. Aos industriais que arruinavam os seus países, por deslocalizações gananciosas das suas indústrias e investimentos para zonas onde a exploração da miséria lhe garantissem maiores ganhos, eram entregues os poderes para resolverem, a favor dos povos, estas movimentações. Eles arreganhavam a taxa e serviam-se destes favores, desculpando-se com hipócritas contrições, para incrementarem o fluxo dos seus roubos da prosperidade dos outros, espalhando miséria ao engordarem enormemente os seus cabedais. Embriagaram, na mentira do podes ter tudo assim o crédito de alumie, os incautos pagantes os quais, agora, por mais que queiram, sem depósitos nem emprego, não têm, não pagam, não podem, mas conservam as obrigações e, perante os financeiros, ficam com a cerviz mais dobrada que o habitual. Para garantir o fluxo financeiro os governos retiraram o que ao povo ainda restava e entregaram aos génios das finanças para que eles pudessem continuar, sem qualquer emenda, antes mais forte e intencional, o jogo especulativo em que poucos enriquecem fazendo os muito cada vez mais pobres e carregando-os, cada vez mais, de miséria e complexos de culpas.<br /><br />Se assim vai o mundo, pior vai o país. Pequeno e devedor tem, na maioria da sua classe política, um grupo de predadores somente preocupados que o seu prato de lentilhas seja abundante e suculento, ainda que para isso fiquem os pratos dos outros encardidos de míngua. Entregaram, venderam, puseram à disposição dos seus patrões o tudo desta Nação esperando a migalha tombada da mesa dos senhores. Dizem agora aterrados, que sem eles o mundo desabará, o Sol não percorrerá a sua rotas e, continuando a parafrasear Brecht, o trigo não saberia como crescer. Outros, com o mesmo fito, mas contrários nos seus interesses dizem o mesmo acrescentando, no entanto, que só eles poderão levar a nau a bom porto; que aqueles que estão no poder são incapazes e irresolutos, que só eles, usando e abusando das mesmas medidas, serão capazes do bom conseguimento das coisas. Ambos ameaçam o caos se os não apoiarmos e, papão dos papões, virão os estrangeiros decidir o caminho do País. <br /><br />Morre-se de ridículo nas praias de Portugal. Como se não fossem já os estrangeiros a decidir do nosso destino. Como se as medidas preconizadas não fossem já decididas por estranhos. Como se eles não fossem os intermediários dos países poderosos da Europa pouco comunitária. Vivendo na ficção do seu poder querem-nos cúmplices da sua manutenção ou conquista. Capatazes de forças que não dominam babujam os restos e pensam-se convidados para o banquete. Só por trágico não dá vontade de rir. Que diferença faz para nós ser o Governo, o FMI ou a Oposição a aplicarem garrotes aos feridos, se a técnica, intenção e resultados são os mesmos? Passando o orçamento a nossa vida melhora? Com as medidas que preconiza certamente não e, não será forte adivinhação preconizar que virá ainda a ser pior. Então que nos importa quem ministra o veneno? Deixem-nos com as suas guerras de alecrim e manjerona e percebamos, finalmente, que neste paradigma não há lugar para o bem público. Que se esganem as feras entre si. Deixemos olimpicamente que se destrocem pelo osso que lhes é atirado e pensemos seriamente naquilo que verdadeiramente interessa.<br /><br />É por isso que, no momento me sento ao correr dos ventos que fazem a tremulina dos rios e nem sequer já desespero com a ausência de angústia.<br /><br /> <strong><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong></em>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-62359246605642630002010-10-01T17:46:00.001+00:002010-10-01T17:47:55.346+00:00Parabéns! Estamos 20 % mais pobres.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjit7kbKjzOyxKEFFkXauO7GyVp0ZqDzzEMmh2aStj1NeYMZ3zmj9p9V64CLcnS0Ps1lIH1KT52PhJf9hDrVcaon3cc-jQrLOwByAHZ_80Pg-fmc3erIsrlYuadHYARs7HGU8wOpQ/s1600/pobreza%5B1%5D.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 359px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjit7kbKjzOyxKEFFkXauO7GyVp0ZqDzzEMmh2aStj1NeYMZ3zmj9p9V64CLcnS0Ps1lIH1KT52PhJf9hDrVcaon3cc-jQrLOwByAHZ_80Pg-fmc3erIsrlYuadHYARs7HGU8wOpQ/s400/pobreza%5B1%5D.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5523135772518836786" /></a><br /><br /><br />Uma vez mais o inefável engenheiro veio dar mostras públicas do infinito amor com que brinda os seus concidadãos. Pensam que ele escolheu o caminho fácil de criar postos de trabalho, melhorar o nível de vida, de saúde ou de educação cá do pessoal? Claro que não! Isso seria um percurso demasiado acessível ao estrénuo respeito e amor que o seu coração (agora, vejam bem, apertado por tais medidas) recusaria percorrer. Sim, porque ele, no seu infinito saber, vê mais longe que nós e percebe aquilo que nem nos passa pela cabeça.<br /><br />Num dos seus cursos de domingo aprendeu, para felicidade de todos nós, que nada vale ao homem conquistar toda a glória do mundo se perder a sua alma. Espírito nobre e desafecto das coisas do mundo, tremeu, na sua imaginação, ao vislumbrar a sofrida eternidade deste povo pouco esclarecido e tão entretido com pequeníssimas preocupações terrenas tais como arranjar trabalho, garantir-se a si e aos seus as refeições diárias, pagar contas de serviços, enfim, mesquinhamente, sem olhos de grandeza futura, apenas sobreviver. Decidido a garantir-nos no advir um lugar na eternidade do Senhor, bem postados à sua direita, matutou sobre os pecados cardiais e sobre as virtudes teologais e, tal Santo Agostinho converso, resolveu sacrificar-se por nós todos, apontando medidas de bom e útil sofrimento, para escarmento da alma, pois é bem sabido que é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha, que um rico entrar no Reino do Céu.<br /><br />Para tanto, com o imo em sangue, mas fortalecido, pela graça do Senhor e pela bondade das suas intenções, informou o povo, de alguns sacrifícios, pequeníssimos tendo em conta o antevisto benefício, a que iria ser sujeito com vista à salvação da sua alma de molde a podermos, todos sem rebuço, comungar da felicidade eterna prometida a todos os deserdados e pobres de espírito. Assim, decidiu, amorosamente, empobrecer-nos cerca de vinte por cento. <br /><br />Alto aí, dizem-me alguns espíritos despertos. O santo só disse que iria cortar uma média de 5 por cento no vencimento dos funcionários públicos. E, acrescentam, toda a gente sabe que eles são uns sibaritas e uns fariseus. Não, esclareço eu, o que ele não quis foi assustar-nos com a verdadeira dimensão do sacrifício. Como sabem ele tem um íntimo solidário e generoso e sabe bem como os vulgares mortais estão agarrados aos bens materiais. Por isso decidiu, com suprema inteligência e bondade, pôr-nos o comprimido disfarçado no doce para que o tomemos sem refilar com o seu amargor. Preocupação de pai amantíssimo, acrescento, que sabe que o filho tem de tomar o remédio amargo para a sua salvação, mas tudo faz para que o ordálio lhe seja mais leve. Abençoado seja!<br /><br />Deste modo, ingénuos como sabe que somos, serviu-nos, para nosso alívio, as fezes em pequenos tragos sumativos. Acompanhem-me, por favor, neste raciocínio que poderá abrir-vos os olhos para a grandeza espiritual do nosso líder sagrado. Distribuindo parcelas por PECS e por medidas orçamentais informou-nos, com inusitada benevolência, de que iríamos ser aliviados, através do IVA de três por cento do nosso pecúlio. Acrescentando os cinco por cento – em média – de corte de salários (sei que é na função pública mas tenho fortes esperanças que o sector privado, a bem da temperança, não deixe de seguir tão nobre gesto) o que perfaz oito por cento. O aumento de desconto para a segurança social será de uns míseros um por cento e lá ficamos com um resultado de nove por cento. Considerando que, pelo menos durante quatro anos o distinto cavalheiro nos irá aliviar do pesado fardo dos aumentos e podendo considerar uma inflação média no total de oito por cento, calculamos que os dezassete por cento seja um número plausível. Os restantes três por cento? Penso que serão pouco para fazer face ao aumento de IRS pelo corte nas deduções, pelo custo dos cortes em educação, actos médicos e medicamentos. Lá temos os nossos vinte por cento de sacrifícios que, tendo em conta que a Igreja só pedia a dízima, é o dobro do que o Senhor exigia. Têm pois alguma dúvida que pagando mais o nosso sacrifício não será garantia de um melhor lugar no paraíso?<br /><br />Por isso eu agradeço ao senhor engenheiro e ao senhor doutor das finanças o favor que me fazem e exulto por saber que estou a garantir, por um preço tão baixo, a eterna felicidade. Tenho é muita pena dos ricos que escapem a estas medidas porque eles viverão no sofrimento e na danação eterna. Espero apenas que o Senhor e o senhor engenheiro lhes iluminem os dias e façam o milagre de garantir o nascimento, todos os dias, de legiões de pobres em que eles possam exercer a sua caridade proporcionado-lhes o seguro viático para mansão celeste.<br /><br />A despropósito! Apetece-me ouvir a Canção de Madrugar do Hugo Maia de Loureiro. Vão ao YouTube e onde se canta amor ponha-se liberdade, justiça ou equidade e perceberão o que o Ary queria dizer e o que estamos a precisar nesta era de tamanha religiosidade.<br /><br /><br /><strong><br /><em>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</em></strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-57241099123850088412010-09-21T21:13:00.001+00:002010-09-21T21:14:55.374+00:00A Consulta<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirQxkbChQemAIPWMRtICQ_GcQIp6czaLPlHw_IVExAZWds90tBjJdHGB-6oQ0SQ8-x3jKgl4735goOcSWwpMpR1cIiNneW4QK6YlKqL_u3f-Ho5LXRvr_xjMM73B7Csa7Di8q8vA/s1600/consulta.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirQxkbChQemAIPWMRtICQ_GcQIp6czaLPlHw_IVExAZWds90tBjJdHGB-6oQ0SQ8-x3jKgl4735goOcSWwpMpR1cIiNneW4QK6YlKqL_u3f-Ho5LXRvr_xjMM73B7Csa7Di8q8vA/s400/consulta.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5519478257144604050" /></a><br /><br /><br /><br />Despejou-se como um saco de vento na cadeira. A pequena mesa do café estremeceu com a violência da abordagem e aquietou-se com o último Uff!! do Belegário.<br /><br />- Sou uma besta! Um ingénuo inveterado. Só mesmo eu! Parvo, parvo, parvo!<br /><br />- Então homem, que desatino é esse? Deixa de tratar mal, na minha frente, o meu amigo Belegário. Que mal te fizeste para estares assim?<br /><br />- Maldito voto entregue de mão beijada àquele patranhas. Eu já sabia que o melro era assim, porque é que me deixei cair, de novo, na sua conversa mole? Merecia que me rachassem a cabeça. Mas o pior é que não sei para onde me voltar. Tu sabes que eu sempre defendi o Estado Social. É uma coisa bonita. Limpa. A gente sabe que paga mas tem a certeza que quando está à rasca, lá tem a rede de protecção a minorar o desespero das más horas. E essas, até o mais pintado as tem. Pois ando rabeado com as ideias do Passos Coelho de destruição dos apoios sociais e da entrega de todo o futuro aos privados. Nem sei como ele, com os exemplos desta crise, não cora de vergonha ao fazer tais propostas. Entregar tudo nas mãos de quem pode especular e, num ápice, reduzir a cinzas as economias de tantos cidadãos deveria merecer punição criminal. Não se diz a ninguém, com seriedade, para ir pôr o pescoço na guilhotina porque o carrasco é de confiança. Que ele tal defenda não aceito mas compreendo. É lá a ideia dele. Não vou nela mas, ao menos, ele não me engana. Se lhe der o meu voto sei ao que vou e se me acontecer algum mal, fui eu que, de certo modo o escolhi. Agora, ouvir alguém dizer, de praça em praça, contrariando o discurso do Passos Coelho, que defende o Estado Social, fazer continuadas juras de amor a esse Estado e a seguir proceder de modo a estrangulá-lo, por falta de vontade e meios, isso é que já não aturo!<br /><br />Parou para respirar, bebeu um gole da minha água pelo meu copo, enxugou os lábios com as costas da mão e disparou:<br /><br />- É tal a minha ingenuidade que, tendo o meu médico de clínica geral passado à reforma, disse cá para mim: Belegário, tu descontaste toda uma vida para a Segurança Social. Nunca utilizaste o seu serviço médico. Por comodidade sempre preferiste a medicina particular; aproveita agora a reforma do teu médico assistente e vai ao posto marcar uma consulta de rotina. Simples, não é? Como eu até sou dos felizardos que têm médico de família estava convencido que eram favas contadas. Peguei no telefone e informei-me. Elementar! Disse-me o funcionário do outro lado da linha. Amanhã, entre o meio-dia e as duas da tarde, telefona para este número e marca a sua consulta. Vituperei logo ali quantos, por pura maldade, eu pensava, diziam mal dos esforços de modernização dos serviços públicos. Vejam só, tão fácil. Um simples telefonema e lá ficava garantida a minha consulta. Nada das longas filas de espera para não se conseguir nenhuma consulta apesar da permanência, das cinco às nove da manhã, em condições degradantes. Isto era o progresso. Isto sim, era bom serviço.<br /><br />No dia seguinte, pelas treze horas, telefonei para o posto. Tenha paciência, respondeu-me a voz da impotência. Para amanhã já estão as consultas todas preenchidas. Certo! Já fui tarde. Amanhã telefono mais cedo. E telefonei, no outro dia, mesmo em cima das doze horas para um telefone que durante quarenta e cinco minutos moldou a irritante intermitência do sinal de impedido. Um quarto para a uma. O telefone, finalmente, chama. Espero cinco minutos e nada. Ninguém atende! Aguardo mais cinco minutos, o mesmo resultado. Se calhar enganei-me no número. Marco outra vez. Mais cinco minutos de espera e, por fim, uma voz cansada retira-me a esperança. A agenda está cheia. Tente amanhã. Se eu for aí pessoalmente posso marcar a consulta para outro dia qualquer? Isso é com o meu colega. Nada sei da Agenda de longo prazo. Pode ligar-me ao seu colega para me informar. Não, não posso. Tem que vir mesmo ao posto. Para quê, pergunto eu que só queria uma informação. São regras! Pronto! Enganei-me, afinal as mesmas iníquas regras ainda se mantêm. Para a Segurança Social não sou um cidadão que recebe o que por direito merece. Eles fazem o favor de me concederem o que eu paguei já, antecipadamente, com milhares de euros. Para conseguir a consulta vou ter de me humilhar e sofrer. Só depois é que, cristãmente, serei merecedor da esmola que o Estado me concede. Não! Não aceito isto. Amanhã vou ao posto e vão ter que me marcar a consulta.<br /><br />Fui ao posto. Identifiquei-me e disse ao que ia. Nada a fazer elucidou-me o funcionário. A agenda de longo prazo está fechada. Já tem marcações até Novembro e não aceitamos mais. O que é que eu faço? Amanhã, entre as 12 e as 14 horas telefone para este número para marcar consulta para o dia seguinte. Isso já eu estou a fazer há um ror de dias. Pois é, encolheu os ombros, cada vez temos menos médicos e mais doente. Assim as coisas não funcionam. Mas o que é que eu posso fazer para marcar a minha consulta? Já telefonei. Não consigo. Venho aqui e fico na mesma. Isto parece-me um círculo vicioso. O que é que se pode fazer mais? Nada, disse o funcionário voltando a encolher os ombros. Cada médico tem mil e seiscentos doentes, o que é que se pode fazer? Está bem, disse, posso ao menos extravasar a minha fúria fazendo uma reclamação. Não ganha nada com isso. Não é para ganhar, é só para desabafar. Porque é que não vem cá amanhã pelas oito e meia e tenta falar com o médico? <br /><br />Tentei.<br /><br />Para além do pessoal com consulta marcada mais dez indigentes, como eu, esperavam para falar com o médico. Como outrora tinham acampado, pela madrugada, à porta do posto tomando vez para conseguir a consulta. Afinal nada tinha mudado. A modernização era aparente, a desburocratização era uma treta. Como sempre a paciência do indígena era posta à prova e só os mais perseverantes, ou necessitados, aguentavam aquele ritual punitivo.<br /><br />Então o que fizeste?<br /><br />Ora, o que é que havia de fazer. Perante tamanha impossibilidade desisti da consulta, não fiz a reclamação e vim-me embora. A propósito, conheces algum bom clínico geral a quem possa <strong>comprar</strong> uma consulta?<br /><br /><br /><strong>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-40345135843899545552010-09-07T16:00:00.001+00:002010-09-07T16:03:43.761+00:00Oh, God! Que nojo!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjeGHnCRqXGAMwo4h2IfMd90tEnT3LAejuevh60Sk-sodk_Ovz8YLWhQDJpmF83N_frax4qhegekLnZRSrE5GiR6BYtCEUq5EKa8iwBmioErzqO5c8aaJr17d9ddbxKXLr_swVjg/s1600/cataplana-de-marisco.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 249px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjeGHnCRqXGAMwo4h2IfMd90tEnT3LAejuevh60Sk-sodk_Ovz8YLWhQDJpmF83N_frax4qhegekLnZRSrE5GiR6BYtCEUq5EKa8iwBmioErzqO5c8aaJr17d9ddbxKXLr_swVjg/s400/cataplana-de-marisco.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5514202841809220194" /></a><br /><br /><br /><br /><br />Como Vossas Excelências muito bem sabem o homem é um animal de hábitos. Quer isto dizer que vai construindo a sua vida sobre uma série de costumes, adquiridos ou transmitidos, que se colam à sua pele e, no decorrer dos tempos, passam a definir o que é “natural” e o seu contrário. Deste modo, o “outro”, o que tem hábitos distintos, é sempre um ser estranho e, por tal, muitas vezes ameaçador. É nestes julgamentos primários que repousa a génese do etnocentrismo e, quando muito ampliado, chega-se ao mais refinado racismo.<br /><br />No entanto uma convivência mais próxima leva-nos a ganhar compreensão pelos modos do outro e, muitas vezes, apoderamo-nos de alguns dos seus comportamentos os quais passarão a fazer parte da nossa panóplia de usos e assim integrados ganharão o estatuto de naturais. Como tudo na vida a contaminação cultural pode ter aspectos positivos e negativos. Consideram-se positivos quando enriquecem o conteúdo das nossas vidas ou representações, passam ao grupo contrário na situação inversa.<br /><br />Toda esta divagação vem a propósito de um episódio de férias bem ilustrativo das contaminações culturais e da forma como as gentes as vêem e interpretam. Conto, para ilustrar, o que aconteceu no restaurante de praia onde almoço regularmente.<br /><br />Apeteceu-me naquele dia deliciar-me com uma bela cataplana algarvia. Cauteloso, porque já me escaldara várias vezes, perguntei à simpática dona do restaurante se por acaso ela punha natas na cataplana. Tranquilizou-me de imediato o seu ar, mais que de espanto, de completa incredulidade:<br /><br />-Natas na cataplana? Oh, God! Que nojo!<br /><br />Logo ali estabeleceu a genuidade da sua cozinha tradicional exaltando a qualidade do peixe e marisco utilizados – vindos do pescador – do azeite da melhor qualidade, dos tomates e cebolas provenientes de horta própria. Descansou o meu coração perante tais mostras de genuidade e antevi-me no gozo pantagruélico daquele cozinhado lento em que os ingredientes se misturam numa química de sucos deliciosos e, como elucidado fui, de grande qualidade. Para não estragar o sabor e o apetite decidi passar o tempo de espera sem tocar em aperitivos ou entradas, totalmente livre para os esperados sabores. Entretive-me a olhar o mar e aguardei por um tempo infinito que a comezaina se aprontasse. Quando o desespero já me fazia pensar se devia ou não forrar o estômago com qualquer coisita chega, triunfante, a famosa cataplana. Devo dizer que ao ser aberta os odores inebriantes se fizeram sentir de imediato transformando em verdades intransponíveis a propaganda da senhora. Mas, pecado dos pecados, sobre a rescendência e as cores brilhantes do conteúdo, uma horrível mancha amarela destruía toda a cataplana. Em cima, nadando no molho, uma imensidade de batatas fritas coroava impudicamente o meu prato de eleição. Percebendo a desilusão que se me estampava na cara, onde eloquentemente transparecia um outro Oh, God! Que nojo, atalhou a minha hospedeira antes que eu pudesse dizer qualquer coisa: É assim que os estrangeiros querem!<br /><br />Tive de fazer uso de toda a minha capacidade de análise antropológica para não dizer uma asneira das grandes.<br /><br /><br /><br /><strong>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-40558361907153214152010-07-06T13:13:00.003+01:002010-07-06T13:19:00.151+01:00memórias XXIII - mensagem<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDqbkuieID4Hylb6Marozz-wEJp5osCjRLx7C85lMtWoZqnsxvK2UVV9gza42NaDXZSthFGXodgMzAx-B4t2XLPZZZOURP_cw_tjfmOn-EJn7NbgeJbxNRySsB__Fhep1ygYz5WA/s1600/aguia.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 381px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDqbkuieID4Hylb6Marozz-wEJp5osCjRLx7C85lMtWoZqnsxvK2UVV9gza42NaDXZSthFGXodgMzAx-B4t2XLPZZZOURP_cw_tjfmOn-EJn7NbgeJbxNRySsB__Fhep1ygYz5WA/s400/aguia.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5490766313692635762" /></a><br /><div><br /><br /><strong>I</strong><br />constrói um pouco da coluna<br />que nos dias ergue o sol<br /><br />abraça as cordilheiras do tédio<br />o prado esmaecido pela brisa do lago<br />as espantosas chuvas que se oferecem<br />ao chamamento das aves<br /><br />sobre o fio da música repousarás<br />asa que destapa o sonho e enfrenta<br />o vórtice do vácuo<br /><br />as palavras irisdecem nos céus de estrelas em febre<br /><br /><strong>II<br /></strong>só o imaginário é virgem de magníficos sem fins<br />significâncias com que a voz agradece o dia<br />substância correspondendo ao sentimento das águias<br /><br />tudo é aquilo que é sendo outra coisa<br />o caminho tende à compreensão do infinito<br />à inqualificável magia de viver<br />como se viver<br />não fosse mais que estar vivo e recomeçar<br /><br /><strong>III<br /></strong>por onde ainda iremos na frescura das manhãs<br />como o vento como o barco como o barro<br />donde consta o homem foi moldado<br />em perfumes de inconsutil finitude<br /><br />tudo está em nós e se prolonga<br />diferentemente em outras consciências<br />tal mãos sonhando a casa por nascer<br /><br />a controvérsia fio de afirmação<br />traça à luz dos discursos a vela de iluminar rotas<br />exacto momento de equinócio<br />diáfanas relações de vento e água<br />excluindo as evidentes chuvas de inverno<br />emersas da zanga natural dos tempos<br /><br />numa precária espera de espaço<br />a minha balança de eixo desviado<br />equilibra a pequenez azul e brancamente franjada<br />do repouso em todas as direcções<br /><br />não há outra escolha que o movimento<br />abracemos então a dança dos fantasmas e transportemos<br />o longe para o perto que por não o ser<br />sempre será<br /><br />amanhã<br /><br /></div>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17101947.post-64986273751637527912010-06-18T15:44:00.001+01:002010-06-18T15:46:38.537+01:00Como se fora uma carta ao Director<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicCjtIHKzoNX1xM9a2797hdTTz6wMJDpqvQMbF_tGg7wSsBpYDhB-Uv1l8N0Pbe_fPxkiglL-KZdXRvH1fvRWO5v7FN28pHvptCUAjSbC6mij6dCbJUZSTkHYTwX0SxavAZZNhgw/s1600/surrealismo030.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 354px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicCjtIHKzoNX1xM9a2797hdTTz6wMJDpqvQMbF_tGg7wSsBpYDhB-Uv1l8N0Pbe_fPxkiglL-KZdXRvH1fvRWO5v7FN28pHvptCUAjSbC6mij6dCbJUZSTkHYTwX0SxavAZZNhgw/s400/surrealismo030.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5484125003626479458" /></a><br /><br /><br />Quiseste, Director, dar-me um valor, ou uma preponderância, que não possuo e, na Carreira 7, Horário 14,06, presenteaste-me com o imerecido prémio de uma local noticiando a minha renúncia à Concelhia do Barreiro do Bloco de Esquerda, por discordar do apoio à candidatura de Manuel Alegre e informando que o meu casto voto seria entregue ao Dr. Fernando Nobre.<br /><br />Agradeço a importância que consignaste a este gesto, confirmo a tua notícia, sendo no entanto imperioso que esclareça que a minha posição, para as presidenciais, não é tão definitiva como pode transparecer da notícia.<br /><br />Em 22 de Fevereiro publicaste a minha crónica “Baralhar e dar de novo” onde tentava analisar as três possíveis candidaturas à Presidência da República. Nela, em resumo, apresentava a possibilidade de Cavaco Silva voltar a ser reeleito, a desilusão causada pelo actual posicionamento de Manuel Alegre e o sopro de esperança que, presumia, viesse a ser a candidatura independente de Fernando Nobre. Salientava também que no xadrez político a situação de Alegre se alterara e era, agora, semelhante à de Mário Soares nas eleições anteriores. Presumia, ainda, que o capital de esperança poderia vir do Presidente da AMI. Os tempos deram-me, em parte, razão.<br /><br />Posteriormente em 12 de Maio, em “Crise, Papa e Fernando Nobre”, igualmente publicada no Rostos, mostrava a minha angústia e desilusão por alguns posicionamentos de Fernando Nobre, pondo, se bem te lembras, o meu voto no mercado, em jeito de leilão, para ser entregue a quem por ele fizesse licitação maior. Até agora ninguém ofereceu nada, o que demonstra bem o valor da minha vontade.<br /><br />Postas esta questões de principio voltemos à razão desta crónica. O meu desacordo com o Bloco de Esquerda é apenas conjuntural e em duas questões: candidato presidencial e Terceira Travessia. No resto, continuo indefectível apoiante e pronto para dar do meu esforço na parte possível e necessária. Esclareço também que, pelo facto de não apoiar a linha oficial nada de extraordinário me aconteceu no partido. Não só temos o direito de tendência, o exercemos e não somos perseguidos por isso, como sermos aderentes deste partido não exige de nós qualquer acefalia seguidista. Ao entregar a minha militância não entrego, conjuntamente, a inteligência e a capacidade crítica. Antes pelo contrário a minha crítica torna-se mais efectiva ao ser discutida e amplificada nas estruturas partidárias. Por isso, dentro da coerência exigida a quem quer ser sujeito das suas posições e destino, considerei, embora nada a isso me obrigasse, que seria correcto deixar o lugar que ocupava na estrutura partidária. Assim, renunciei, livremente, ao cargo, de tal não ficando com arrependimento pessoal nem com distanciação ao Partido e Camaradas.<br /><br />Já no que a Fernando Nobre respeita, a local não levou em atenção a matéria desta última crónica. <br /><br />Ao longo do tempo fui detectando, em discursos e posições do candidato, algumas debilidades, uma ou outra ingenuidade, certa inconsistência e o chegar de companhias pouco recomendáveis. Não acreditando que, por toda a sua história de vida, seja o Dr. Fernando Nobre alguém que se deixe instrumentalizar facilmente, a verdade é que à sua volta, procurando influenciar as suas flexões, adejam aves nocturnas com o ínvio propósito de apenas coarctarem as possibilidades de eleição de Manuel Alegre. Ora, não votando em Alegre, não me agrada fazer parte de vinganças pessoais de gente rancorosa, para quem a amizade deixa de fazer sentido sempre que qualquer divergência se opõe à vontade sacrossanta do patriarca.<br /><br />Entretanto os tempos exigem-nos maior reflexão e grande cautela nas escolhas a fazer. Os posicionamentos de Passos Coelho – enquanto previsível futuro primeiro-ministro - se potenciados por um Presidente de similar ideologia, podem fazer perder, em pouco tempo, o que levou décadas a construir. Não tenham dúvidas de que um poder assim constituído se sentirá livre para atacar todos os direitos dos trabalhadores. Tudo o que até aqui era discursos de valorização da pessoa no trabalho, volver-se-á em prelecção sobre os custos de mão-de-obra e a necessidade de liberalizar despedimentos. Será exigido o livre arbítrio do capital sobre o trabalho, conduzindo à moderna escravatura das massas populares. Vejam bem que ainda lá não chegaram e já, com a cobertura da crise, procuram ganhar mais terreno, retirando-o às conquistas dos trabalhadores, demonstrando claramente que a luta de classes nunca terminou. Apenas, em democracia e em alta económica, se mascara e, dissimulada, esconde-se até à próxima crise que a especulação capitalista venha a provocar e queira que as vítimas, mais uma vez, paguem.<br /><br />Estando tudo isto em jogo no nosso País, vejo-me numa angustiante dúvida sobre o que fazer. Neste momento apenas sei o que não quero. Não descortinei ainda aquilo que devo fazer.<br /><br />Quem me ajuda a esclarecer estas dúvidas?<br /><br /><br /><strong>Publicado in “Rostos on line” – http://rostos.pt</strong><br /><br /><br /><em></em>Carlos Alberto Correiahttp://www.blogger.com/profile/04429471855562812226noreply@blogger.com0